Fim de semana no Centro

Maledicentes de plantão andaram espalhando que Rio teria um fim de semana londrino. Tudo caro e não ia parar de chover. Até o momento os prognósticos não se confirmaram. Mas se você ficou achando que ia passar esses dias ao estilo pandemia: de pijama e na frente da televisão, saia dessa! Sugerimos uma programação curta e bacana de exposições, restaurantes e até de filmes, caso você não consiga sair desse sofá.

EXPOSIÇÃO

O Paço Imperial começa a apresentar um tesouro que passou tempos escondido dos cariocas. É a Coleção Banerj, que ficava guardada no Museu do Ingá, em Niterói. O conjunto começou a ser reunido em 1965, no governo de Carlos Lacerda, com a intenção de formar uma pinacoteca que representasse o Estado da Guanabara. A seleção foi feita a partir de investimentos em obras de grandes nomes da pintura moderna. Com o decorrer dos anos, outras peças chegaram ao banco, como pagamento de dívidas.

A coleção hoje possui quase 900 peças entre pinturas e gravuras (que representam mais de 50% do acervo), além de esculturas, murais e tapetes persas. Destacam-se litografias de Adolphe D’ Hastrel, Emil Bauch, pinturas de Anita Malfatti, Cícero Dias, Tarsila do Amaral, Di Cavalcanti, Bona- dei, Caribé, Portinari, Guignard (como sua magistral pintura São Sebastião, de 1960), Volpi e um número expressivo de gravuras de Goeldi.

Em “A afirmação modernista _ a paisagem e o popular carioca na coleção Banerj”, os curadores demonstram que diferente da aristocracia e do nacionalismo ligado à conjuntura paulista, o modernismo carioca acentua o caráter popular e a beleza natural da cidade, expressa nos grandes painéis e em outras inúmeras obras que retratam o Rio. As diferentes maneiras de conceber a paisagem revelam-se como marca da coleção: a luminosidade dos trabalhos de Eliseu Visconti contrasta com as tensas pinceladas de Anita Malfatti, a cidade anônima e silenciosa de Oswald Goeldi se opõe à exuberância das cenas urbanas de Di Cavalcanti, a paisagem imaginária de Cícero Dias distancia-se da racionalidade de Aldo Bonadei.

E já que estamos no Centro, vá até o Centro Cultural dos Correios onde, após 20 anos de pesquisas, a artista plástica Cristina Jobim abre a exposição “Amazônia”, composta por salas sobre a ‘Floresta Amazônica’ e sobre os ‘Corais da Amazônia’, onde o observador poderá fazer uma verdadeira viagem visual, com sons, cheiros e uma explosão de cores e luzes que saem das telas e ganham vida, encantando visualmente e provocando as mais diversas emoções.

A Amazônia é um bioma único no mundo, com 60% de sua extensão no Brasil, com rios, fauna e flora, fontes de água e vida. Recentemente foram descobertos os Corais da Amazônia – na bacia da foz do Rio Amazonas, recifes sobrevivem em grandes profundidades e aonde quase não chega luz. A água da região é turva porque o rio carrega com ele pedaços de floresta: restos decompostos de árvores, folhas, terra, animais etc. Cientistas acreditam que nos Corais vivem peixes que nunca foram catalogados pela ciência, e bactérias, fazendo dos recifes uma possível futura “farmácia submarina”.

GASTRONOMIA

Nos últimos anos a comida peruana tem conquistado um espaço cada vez mais relevante na gastronomia mundial. Não se preocupe, ainda não se se servem Cuis assados (porquinhos da índia, prato nacional do país), mas as opções vão além do tradicional ceviche.

No Centro você encontra dois peruanos de respeito, praticamente um de frente para o outro. Na mesma Rua da Lapa, você encontra no Panka (no número 243), além do ceviche clássico, tiraditos, tequenos e um arroz com mariscos dos sonhos. Já no número 14, o Cuzco Gastrobar se destaca pelo espaço bem distribuído, com um bar na frente e ao fundo uma cozinha envidraçada onde você pode ver seu prato ser feito. O cardápio é bem variado, com muitos pratos típicos peruanos. Uma dica é pedir os trios peruanos, como o de ceviche, chaufa e causa limenha.

TELEVISÃO

Mas se a ideia for mesmo ficar em casa, aproveite para maratonar a série “O hóspede americano”, disponível no HBO Max. São apenas quatro episódios que contam a história da expedição de um ano do ex-presidente americano Theodore Roosevelt à Amazônia, na companhia do então coronel Cândido Mariano Rondon. O contraste entre as duas personalidades históricas, assim como a belíssima fotografia, está entre os destaques da produção. Um dos pontos altos é a sequência que mostra um momento de dificuldades dos aventureiros, que estão com poucos mantimentos, e Rondon diz que vai resolver o problema. Minutos depois Roosevelt sai para uma caminhada e assiste ao oficial brasileiro dobrar minuciosamente cada peça de seu uniforme, fazer uma lança, e tal qual um índio nativo, entrar no rio com água pela cintura, ficando horas imóvel debaixo de chuva até finalmente caçar um enorme pirarucu. É de arrepiar.

Mas se o seu desejo for por uma opção mais divertida, a dica é o mais recente filme do Universo Compartilhado da Marvel no cinema (o famoso MCU), com “Shang Chi e a lenda dos dez anéis”. Primeiro filme da franquia Marvel/Disney voltado descaradamente para o público chinês (assim como foi o “Pantera Negra” para o público afro-americano), o longa é um blockbuster belíssimo, e um prato cheio para os saudosos por um bom filme de artes marciais _ e com humor na medida certa. Shang Chi estreou nesta sexta-feira no Disney+.