SÁVIO NEVES: APOSTAS OUSADAS PARA O TURISMO DO RIO

Por Rosayne Macedo

Poucas pessoas no Estado do Rio de Janeiro entendem tanto de turismo quanto ele. Mineiro de nascimento e carioca de coração, como costuma se apresentar, Sávio Neves, de 56 anos, comanda o icônico Trem do Corcovado, inaugurado em 1884 pelo Imperador D. Pedro II. Negócio da família há mais de duas décadas, o trem já transportou papas, reis, príncipes, presidentes da república, artistas e cientistas, em um verdadeiro passeio ecológico pelas riquezas da Mata Atlântica no bem preservado Parque Nacional da Tijuca.

Apesar de nunca ter ocupado antes um cargo público, Sávio tem a política na veia: é sobrinho de Francisco Dornelles e primo de Aécio Neves. O empresário já chegou a disputar uma vaga para deputado federal, mas jura que política não estava nos seus planos.

 Até ser surpreendido com o convite do governador Cláudio Castro para a Secretaria de Estado de Turismo, sucedendo o deputado estadual Tutuca, que reassumiu seu mandato. Pura mineirice, dirão alguns.

No início de abril, o empresário foi empossado titular da pasta para um mandato que tem prazo curto de validade, até a eleição do novo governador. Mas até dezembro, o experiente empresário  deverá deixar sua marca registrada na Setur. À RIO JÁ, Sávio Neves diz o que traz na mala. “Trago a vivência de 23 anos nesse universo do turismo, enxergando nossa atividade como motor de desenvolvimento econômico do Estado do Rio de Janeiro, o que me ajuda a pensar agora como gestor público”.

Conhecimento não falta ao engenheiro mecânico formado pela Uerj e pós-graduado em Engenharia Econômica pela UFRJ, que construiu sólida carreira na área de Turismo. Muito menos representatividade. O presidente licenciado do Trem do Corcovado comanda o Conselho Estadual de Turismo e é um dos diretores da Câmara Rio Empresarial. Atua ainda como vice-presidente da Associação Brasileira de Trens Turísticos e Culturais (ABOTTC), fundador da Associação Nacional dos Transportadores de Passageiros sobre Trilhos (ANPTrilhos) e presidente de honra da Academia Ferroviária de Letras.

Por conta dos relevantes serviços prestados ao desenvolvimento do turismo no estado, em junho de 2021, Sávio recebeu da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj) o título de Cidadão Fluminense. O novo secretário também integra o Conselho Empresarial de Turismo e Hospitalidade da Confederação Nacional do Comércio (CNC), o Fórum de Turismo da Firjan, a Câmara Brasileira de Turismo e o Conselho de Turismo da Fecomércio-RJ.

Barcas entre aeroportos, o fim de uma disputa

Agora à frente da Setur, Sávio Neves corre contra o tempo para tocar muitos projetos que poderão impactar fortemente a cadeia do turismo no estado. Como o que prevê a ligação aquaviária entre os Aeroportos Santos Dumont (SDU) e Tom Jobim (Galeão). A ideia é cobrar da Barcas SA, uma concessionária do estado, a criação da linha Santos Dumont x Galeão, com uso de uma embarcação moderna e com check-in de qualidade.

“Hoje já existe a ligação Ilha do Governador x Praça XV. O que vamos fazer até o final do ano é adaptar o nome e colocar o turista em um ambiente nobre da cidade, que é a Baía de Guanabara, em vez de passar pela Linha Vermelha”, esclarece. O projeto, segundo ele, já está em andamento. Hoje, já existem embarcações ligando a Praça XV a Paquetá, Niterói e Ilha do Governador.

A medida deverá pôr fim a uma antiga disputa entre passageiros dos dois terminais, que em nada beneficia o turismo, nem a economia fluminense. Em 2021, a Alerj, com apoio do Governo do Estado e do município, liderou uma grande mobilização, unindo lideranças políticas, empresariais e ambientais, contra o modelo de privatização do SDU, que previa o consequente esvaziamento do Galeão. Em meio ao imbróglio, alegando perdas de R$ 7,5 bilhões, Singapura Changi, controladora da RioGaleão, decidiu entregar a concessão. E o Ministério da Infraestrutura adiou o leilão do SDU para 2023. O debate, entretanto, continua.

A Secretaria também trabalha para trazer de volta ao Galeão os voos domésticos perdidos para o Santos Dumont. “Isso vai alavancar novos voos internacionais, criando de fato o conceito de hub internacional. Vamos brigar para trazer esses voos de volta”, promete. Ainda segundo Sávio, a pasta está pleiteando junto à Associação Internacional de Transporte Aéreo (Iata) a troca da etiqueta de ‘GIG’ para ‘RIO’ nos bilhetes de voos que partem ou chegam ao Tom Jobim. “Mais do que o Galeão, isso fortalece a marca Rio”, diz ele.

Zé Carioca e Tolerância Zero em Copacabana

Outra iniciativa que Sávio Neves quer colocar em prática ainda este ano é o projeto Tolerância Zero, do Leme ao Posto 6, ao longo de toda a Avenida Atlântica, em Copacabana. “Durante 24 horas  por dia não será permitido nenhum tipo de delito, pedintes, vendedores ambulantes ou feira de artesanato não oficiais no corredor turístico mais famoso do mundo”.

Ainda em Copacabana, palco do maior Réveillon do planeta, a Setur planeja uma grande festa em homenagem aos 80 anos do personagem Zé Carioca, de Walt Disney, no mês de agosto. “Faremos uma parada de aniversário na Atlântica, bem ao estilo Walt Disney, com muita música. A festa será encerrada com show reunindo artistas chamados Zé, os zés cariocas do Rio, com direito a bolo e parabéns”, antecipa Sávio, empolgado. A ideia, segundo ele, é este se torne um evento oficial no calendário do Rio, todo mês de agosto.

Impactos da pandemia e das chuvas em cidades turísticas

A pandemia do novo coronavírus impactou fortemente o setor de turismo no Estado do Rio, um dos mais fortes pilares da nossa economia. Agora, com a vacinação avançada, a queda nos indicadores epidemiológicos, a desobrigação do uso de máscara e o possível fim da obrigatoriedade do passaporte sanitário na capital (recomendado pelo comitê sanitário e já em análise pela Secretaria Municipal de Saúde do Rio), o estado deve atrair mais turistas.

Outro enorme desafio no Rio de Janeiro, que tem sua geografia bastante acidentada em muitas cidades, como a própria capital, é enfrentar os impactos de tragédias naturais sobre o setor turístico. Cidades da Região Serrana, como Nova Friburgo e Teresópolis, por exemplo, até hoje sofrem os efeitos dos temporais do fatídico janeiro de 2011. As fortes chuvas que atingiram Petrópolis em fevereiro e março deste ano, deixando 240 mortes e um rastro de destruição, também afetam gravemente o setor de turismo local.

“Petrópolis guarda sua história como Cidade Imperial, Cidade do Veraneio Real. Da mesma forma, Nova Friburgo, Teresópolis, Cachoeiras de Macacu e todas as demais cidades da Região Serrana fluminense são excelentes opções para quem chega na capital do Rio. São roteiros complementares!”, enfatiza.

Turismo mais acessível e mais forte no interior

Outro grande desafio é melhorar as condições de infraestrutura para o recebimento de turistas nacionais e internacionais, especialmente no interior. Afinal, não é só a cidade do Rio que é maravilhosa. Muitas cidades fluminenses têm forte potencial turístico, mas ainda são pouco exploradas. Já destinos mais frequentados, na Região Litorânea (Lagos) e na Costa Verde, enfrentam problemas de infraestrutura para receber os turistas.

“O Estado do Rio tem quatro cidades entre as 10 mais visitadas no Brasil: Angra dos Reis, Paraty, Armação de Búzios e a capital Rio. A vocação do estado pelo turismo é inequívoca! Há muito o que ser feito do ponto de vista das carências na infraestrutura.  Porém, a melhoria da qualidade dos serviços e a capacitação da mão de obra seguem sendo nossos maiores desafios”, reconhece.

Turismo sustentável, uma tendência mundial

Sávio Neves também está de olho na questão da sustentabilidade, que vem se tornando obrigatória na cadeia do turismo mundial e mais ainda após a pandemia. “Essa é uma tendência mundial da qual ninguém, nem as cidades nem as empresas, poderão se manter distantes”, pontua o secretário estadual de Turismo.

Um bom exemplo a ser seguido por outras cidades é Maricá, na Região Metropolitana do Rio, que terá um selo internacional para a prática do turismo, o Biosphere Tourism, considerado o maior selo de sustentabilidade de destinos turísticos no mundo. Fornecida pelo Instituto de Turismo Responsable, a certificação atende aos objetivos de desenvolvimento sustentável da Organização das Nações Unidas (ONU).

Carnaval fora de época deve ser mantido

E como tudo acaba em samba, Sávio Neves avaliou como positiva a realização do Carnaval fora de época no Rio de Janeiro, apesar de inúmeras críticas sobre desorganização, segurança e credenciamento e também à proibição do tradicionalíssimo e popular Carnaval de Rua. “A pandemia nos obrigou a experimentar a folia fora de época. Precisamos estruturar os espaços públicos assim como é feito com sucesso no carnaval convencional.

Logo após os desfiles do Grupo Especial, o presidente da Liga Independente das Escolas de Samba (Liesa) declarou a intenção de realizar dois carnavais no Rio de Janeiro – um na data convencional e outro em meados do ano – a partir de 2023. E, se depender de Sávio Neves, a ideia está mantida. “O Carnaval fora de época no Rio foi um grande sucesso de público. Portanto, não podemos abrir mão desse calendário mais”, ressalta.