A DESELEGÂNCIA INDISCRETA DO CARIOCA NO FRIO

Por Jan Theophilo

Se algum dia for feita uma retrospectiva do inverno carioca de 2022, não há hipótese de não serem incluídas as fotos de Zeca Pagodinho, devidamente protegido por um roupão pesado, gorrinho e meias cobrindo as canelas. Era o suprassumo de uma ideia concebida faz tempo: carioca não sabe se vestir no inverno. Mas talvez não seja tão ruim assim.

Há alguns anos, a empresária Regina Lundgren, uma das herdeiras das Casas Pernambucanas, montou na orla de Ipanema o Espaço Lundgren: uma espécie de versão carioca da hipergrifada e carérrima loja paulistana Daslu. E em uma entrevista, cravou uma frase definitiva sobre sua visão do fashionismo guanabarino: “Enquanto a maior parte dos brasileiros adora exibir as marcas que compra, carioca tem um trabalho danado para se vestir de forma que pareça que não está nem aí”.

Como exemplo, ela contou que, certa vez, para assumir a representação de uma marca de luxo italiana, precisava fazer a compra de toda a coleção. Isso incluía pullovers de cashemere levíssimos, mas que custavam o preço de um carro. Negocia daqui, negocia de lá, não houve jeito. Regina voltou ao Brasil certa de que amargaria o prejuízo dos cashemeres, que jamais encontrariam compradores no calorão do Rio.

Só que para surpresa dela, logo um dos exemplares foi vendido. E para surpresa maior ainda, na semana seguinte, a mesma compradora, uma jovem belíssima, voltou para adquirir mais um. Regina não resistiu e perguntou o que ela fazia com aqueles cashemeres no verão senegalês carioca. A moça explicou: “é que eles são fininhos, e cabem na minha bolsa quando vou sair de lancha em Angra com meus amigos”. Zeca Pagodinho elevou essa suposta indiferença estética a um novo patamar.

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