ESCOLAS DE SAMBA

Por Washington Quaquá*

As escolas de samba que surgiram na cidade do Rio de Janeiro no inicio do século XX e se enraizaram na cultura e nas favelas e periferias carioca e fluminense durante esse século permanecem com imensa potência nesta segunda década do século XXI.

Sendo que são mais atuais e necessárias do que nunca. Primeiro porque a economia do século XXI se assenta cada vez mais na criatividade, na inteligência, no imaterial e no simbólico.

O Rio, Estado e Cidade, é ícone brasileiro e mundial do turismo e da cultura, símbolo de desejos de bilhões de cidadãos do mundo. As capacidades do desenvolvimento do turismo e da economia da cultura no Brasil e, em especial no Rio, são sempre muito mal trabalhadas e pouco profissionais.

As Escolas de Samba, o carnaval carioca e fluminense e, em especial, o desfile das escolas de samba são ouro e diamante brutos à espera de serem lapidados e trabalhados.

Brizola, com seus amigos e gênios Darcy e Niemeyer, foi o único governador a perceber essa dimensão, ao construir o sambódromo. Mas de lá pra cá nada de efetivo e permanente foi feito para apoiar as escolas de samba e seu monumental desfile.

Brizola sabia que nas escolas de samba estão as vozes dos escravizados e ecoam os tambores da África. Um povo que sabe transformar dificuldade, pobreza material e sofrimento em beleza, luxo e alegria.

As escolas de samba, sejam as mais estruturadas e famosas, como a Magueira, a Portela, a Beija Flor ou a Grande Rio; sejam as pequenas, que desfilam na Intendente Magalhães, como a Rocinha, a Arranco de Engenho de Dentro, a Leões de Nova Iguaçu, ou a Lins de Vasconcelos, são espaços comunitários e centros de irradiação cultural.

Precisavam ser apoiadas, estruturadas, financiadas e transformadas em escolas comunitárias e profissionalizantes da economia da cultura e de bens imateriais. Os pobres também têm direito a entrar forte na economia do século XXI e não permanecer economicamente na senzala. Criatividade, inteligência e desejos é o que não falta nas favelas e comunidades.

É preciso criar um meio de financiamento permanente das escolas de samba, de todos os grupos e ligas, para que estas sejam enpoderadas e sejam cada vez mais produtoras de cultura e disseminadores de espírito comunitário e geradoras de negócios e empregos.

Profissionalização e financiamento, com respeito às suas tradições e formas organizativas, que têm a cultura e o jeito carioca. O nosso jeito…

A sociedade formal e o Estado precisam respeitar, apoiar, financiar e integrar o que o Rio e o Brasil tem de melhor: o seu povo e sua cultura popular.

*Washington Quaquá é sociólogo e um dos editores da RIO JÁ

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