VAIAS ESTRONDOSAS QUE ENTRARAM PARA A HISTÓRIA

POR JAN THEOPHILO

Quando a equipe de Rio Já começou a discutir as reportagens que entrariam nesta edição especial sobre o Rock in Rio, houve quem advogasse contra mencionar entre os grandes momentos do festival a apresentação de “Love of my life”, do Queen. “Ah, não, isso é muito batido”, disseram alguns. Tudo bem. Não vamos falar aqui da icônica apresentação, que figurou até na premiada cinebiografia do cantor. Em compensação, listamos alguns causos e histórias que marcaram a história dos primeiros 37 anos do festival carioca que ganhou o mundo.

Tem muito sommelier de festival que anda reclamando que o Rock in Rio está ficando cada vez mais Pop in Rio. Mas o primeiro músico a subir ao palco em 1985 estava longe de ser roqueiro, era nada mais nada menos que o virtuoso Ney Matogrosso. No dia 11 de janeiro de 1985, Ney enfrentou uma plateia com mais de 140 mil pessoas, e começou seu show cantando “Desperta, América do Sul”.

Como muita gente sabe, em 1982, em um dos episódios mais controversos da história do show business, o vocalista do Black Sabbath, Ozzy Osbourne, pegou um morcego vivo que um fã jogara ao palco e numa dentada arrancou sua cabeça. Aquilo foi tão marcante na época, que no contrato de Ozzy para se apresentar no Rock in Rio, foi estabelecida uma cláusula proibindo o cantor de morder qualquer bicho que jogassem em sua direção. Ozzy se comportou.

Para não falar mais de 1985, naquele ano um adereço de palco da banda australiana AC/DC por pouco não põe tudo a perder. Por contrato, deveria ser instalado um sino de meia tonelada que era usado pelo vocalista Brian Johnson na música “Hells Bells”. Só que o troço era tão pesado que quase põe o palco abaixo. Briga de cá, discute de lá, o AC/DC topou fazer o show com um sino de gesso no palco e o som em playback.

Já na segunda edição, em 1991, no Maracanã, surgiram os “pedidos inusitados” das estrelas internacionais que não passavam de factóides para ganhar espaço na mídia. Mas naquele ano ninguém barrou Prince, que pediu 200 toalhas brancas e que seu camarim fosse todo iluminado em púrpura. Ele exigiu ainda um piano de cauda e máscaras de oxigênio na sua suíte. Em compensação, fez um dos grandes shows da edição.

O amor é lindo. E logo que chegou ao Brasil, George Michael reclamou do barulho do hotel onde estava hospedado. Só sossegou quando o transferiram para o Copacabana Palace, onde virou habitué da piscina do hotel. Foi lá que o cantor conheceu Anselmo Feleppa, o estilista brasileiro que virou seu namorado até falecer em 1993.

Ainda naquele festival, Lobão foi escalado para tocar na noite do heavy metal. O show começou tenso, com uma plateia inconformada com a curta apresentação do Sepultura, que tocou antes dele, sendo atacado com copos e garrafas. A situação ficou pior na hora do bis, onde Lobão iria se apresentar com a bateria da Mangueira. A produção não quis esperar e começou a montar o palco para o show do Judas Priest, daí alegou que os ritmistas não teriam mais o espaço combinado. Lobão ficou uma fera, apontou para a comunidade ao longe e uivou no ouvido de um produtor: “Mermão, tu acha que vai chegar aqui e meter a moral de barrar a bateria da Mangueira?” O bis acabou acontecendo.

Desde o primeiro Rock in Rio, vários artistas sofreram com chuvas de copos e garrafas arremessadas por fãs de outros ritmos, já calibrados na cerveja e outros combustíveis. Mas nenhum sofreu tanto quanto Carlinhos Brown no terceiro Rock in Rio, em 2001. O percussionista baiano torrou tanto a paciência dos roqueiros que ao começar a cantar o hit “Água Mineral”, foi soterrado por garrafas vindas da plateia que gritava “fora! Fora!”. Anos depois em entrevistas Carlinhos Brown mostrou que a mágoa jamais passou, e afirmou que ele foi o primeiro artista “alvo de cancelamento” no Brasil.

Outra vítima da talvez, que levou a mais estrondosa vaia da história do festival, foi a cantora Britney Spears. Empolgada por estar diante da maior plateia de sua carreira (mais de 250 mil pessoas) ela vacilou e abriu, orgulhosa, uma bandeira dos Estados Unidos. O público considerou desrespeito e respondeu a estadunidense à altura.

Mais uma curiosidade sobre a edição do Maracanã foi a sua quase interdição pela justiça. Um grupo de promotores alegou que a intensidade sonora do festival poderia até mesmo fazer desabar a marquise do estádio. A solução foi espalhar colunas de sustentação pelas arquibancadas.