DO FACEBOOK AO BOOK

O jornalista Hudson Carvalho, reconhecido e experiente profissional de 65 anos, como muitos de sua geração, costuma brincar que sempre teve uma certa dificuldade em lidar com as redes sociais. Daí a boa surpresa de vê-lo se aventurar no mundo digital como parte do que ele definiu em entrevistas como uma espécie de “terapia ocupacional”. O resultado é o livro “Do Facebook ao book”, editado pela Topbooks.

Embora na maior parte de sua vivência em redações de jornais, que inclui o Jornal do Brasil e O Globo, entre outros, fosse na cobertura política, as suas postagens do Facebook raramente tratam do assunto. Tão surpreendente quanto a concepção da obra é a diversidade e a riqueza de temas abordados e bordados com fios esmerados, propositivos e civilizatórios.

Sua base é uma coletânea de caprichados artigos e crônicas, travestidos de “textões”, que o autor incubou no Facebook. Hudson mergulha num cardápio de temas variados, como a imensa admiração pelo ator Sean Connery, falecido em outubro do ano passado, que ganhou fama ao interpretar James Bond, agente secreto do MI6 britânico, no cinema. Também no mundo “não político”, ele escreveu por dois anos uma coluna de gastronomia no Globo sob pseudônimo de “Pedro Henriques”. A coluna terminou virando um livro “O menino que comia foie gras”, assumindo a autoria das crônicas.

O livro “Do Facebook ao book” caracteriza-se pela originalidade e faz questão de ir na contramão das pestilências contemporâneas. Na fértil profusão de opiniões, saberes, conceitos e informações, sobressaem-se a racionalidade, a urbanidade, o cosmopolitismo e a generosidade que não costumam fazer moradas no ambiente digital.

Outro alento é a visceral independência do autor em relação a doutrinas ideológicas e a modismos efêmeros, o que propicia abordagens descontaminadas de vícios velhos e novos. Apesar de chocado em uma rede social, “Do Facebook ao book”, como o nome insinua, é, sobretudo, um livro na melhor acepção do termo. Como assinalou o antropólogo e escritor Antonio Risério, na contracapa, “Do Facebook ao book é coisa de quem sabe cavalgar, conduzindo os assuntos com elegância e bom humor. Com ironia, às vezes. Com independência, sempre”.