PAPEL DO VICE  É ARRUMAR VOTOS

Por Ricardo Bruno e Washington Quaquá

Experiência politica e eleitoral é o que não falta a Washington Reis: deputado estadual, deputado federal, três vezes prefeito de Duque de Caxias e, agora, depois de ter renunciado à prefeitura, possível candidato a vice-governador numa chapa com Cláudio Castro.

Também não lhe faltam a malícia e o humor das velhas raposas da política. Quando lhe perguntamos o que pretende oferecer como complemento à chapa, responde de pronto, sorrindo: – A primeira coisa que a gente tem que dar em qualquer eleição é voto. Se ganha eleição é com voto.

Washington Reis não está nem aí para divergências partidárias e desentendimentos. Seu método é o consenso, sem preconceitos ideológicos.

– Agora tem eleição, vai ter umas cotoveladas pra lá, umas caneladas pra cá, mas passando isso nós já sabemos com quem nós temos que andar de mãos dadas e colocar o Rio para avançar.

Washington Reis recebeu Ricardo Bruno e Washington Quaquá para esta entrevista na sexta-feira passada.

l Ricardo Bruno –  Depois de três mandatos como prefeito de Duque de Caxias, seu nome e lembrado para ser candidato a governador ou ao Senado. Que avaliação você faz disso e qual  é o seu projeto político real?

Washington Reis – Eu tenho 55 anos de idade e 30 de mandatos eletivos. Eu me programei para chegar a este momento e disputar um cargo majoritário. Me preparei para vir candidato a governador. Mas o Cláudio Castro abriu o cofre para Duque de Caxias e, então, criou-se este compromisso com ele, e decidi disputar outro cargo majoritário. A princípio, vinha candidato a senador. Então veio essa hipótese de ser vice. Está afunilando. Mas o mais importante foi a minha renúncia. Deixar quase três anos de Duque de Caxias, cidade top, obra para tudo que é lado….

Washington Quaquá – Aliás, você pegou Caxias praticamente quebrada…

Reis – Foi como a Maricá pré-Quaquá e pós-Quaquá. Então hoje nós estamos aí na reta final, e eu sou parceiro para composição política. Política se faz com parceria. Você tem que estar junto a um político bom, confiável. Eu não me preocupo com o meu futuro, eu me preocupo com o bem estar da população. Eu me viro.

Quaquá – O Rio é muito carente de liderança. Tem o Eduardo Paes, que é um nome construido, e estão surgindo lideranças novas e promissoras, como o André Ceciliano, na Alerj, você como o grande prefeito da Baixada. Cláudio Castro chegou sem que ninguém desse muita bola pra ele, e ele tem feito uma articulação política grande, é um cara que não atrapalha a fila pra ninguém.

Reis – Ele ocupou o primeiro lugar da fila. Ele já tomou conta do espaço dele. Eu estou trabalhando com ele. Fiz com ele muitos palanques na Baixada. Rodei muito o estado com ele. Ele tem muitos anos de estrada, foi humilde, transpirou muito e trabalhou muito.

Quaquá – Mas é melhor ser vice dele do que primeiro suplente de um senador com alzheimer (risos)…

Reis – Concordo com você (rindo).

Ricardo – Sendo vice, você vai dar continuidade àquele projeto inicial. O seu projeto de ser candidato a governador se restabelece, sendo vice, para disputar o governo do estado na próxima eleição.

Reis – Claro que primeiro eu quero viver até lá e agradecer a Deus por isso. O maior ganho nós já tivemos: conseguir fazer a melhoria das condições de vida do nosso povo, de 20 anos pra cá. São mais de R$ 1 bilhão de investimentos em Caxias. A cidade passa por um empoderamento político, por atração de investimentos, agora ela voa por si só. Hoje, para arrancar mais R$ 1 bi do governo, é muito mais fácil, porque nós já não somos mais o patinho feio. Patinho feio ganha farelo. Nós hoje somos autosuficientes. Caxias anda por si só.

Ricardo – Você aplicou em muitas áreas, mas hoje é notório que fez um investimento pesado em saúde. Por que razão?

Reis – Eu tive mais dinheiro. Mas não é só saúde. Hoje você vai a Caxias e em qualquer meio do mato lá, que não valia nada, todas as ruas estão sendo saneadas e pavimentadas. E estou falando em mais de 400 quilômetros. Foram 80 mil pontos de iluminação, tudo em led. Autosuficiência em toda a energia consumida pela prefeitura e pelos hospitais. Segurança energética, energia limpa, economicidade, luz mais barata.  São políticas estruturantes.

Ricardo – E na saúde quais são os pontos principais?

Reis – Tem o Hospital do Olho, tem maternidade de primeiro mundo, recuperamos o hospital Adão Pereira Nunes, que era uma sucata. Quebramos ele todo e reconstruimos. Substituimos nos hospitais equipamentos obsoletos, utrapassados. O Hospital do Olho virou referência no estado. Investimos em audiologia. Agora vamos entregar mais dois mil aparelhos auditivos, tudo importado.

Ricardo – E o hospital São José, que está sendo transformado, vai se tornar o quê?

Reis – Hospital do coração: transplante de coração, cateterismo, alta complexidade. E tudo o que fazemos é regional, para o estado, não é só de Caxias.

Quaquá – Você tem muito tino para negócios e trouxe para a vida pública um forte espírito empreendedor e criativo da vida privada…

Reis – É verdade, a veia comercial faz você rodar o mundo e conhecer muita coisa. Eu vejo e tento buscar as inovações que conheço no mundo. Temos expertise em importação, sabemos lidar com portos, com custos. Tenho experiência, já importei e ainda importo muito e exporto muito. Agora mesmo estou mandando produto para Angola. Essa vivência comercial é muito importante.

Ricardo – O que o Rio precisa, quais são os problemas que você identifica no Rio e as soluções?

Reis – O nosso grupo político é apartidário. Quaquá, por exemplo, é PT e é do meu grupo político, Um cara confiável, preparado e experiente. O André Ceciliano é nosso irmão. O Eduardo Paes é um cara bom pra caramba também. Agora tem eleição, vai ter umas cotoveladas pra lá, umas caneladas pra cá, mas passando isso nós já sabemos com quem nós temos que andar de mãos dadas e colocar o Rio para avançar. Velocidade nos investimentos e melhorar a vida do povo. Fazer um governo com justiça social. Nós temos que chegar no Centro do Rio de Janeiro e não encontrar uma única família dormindo na rua. Não adianta fazer nada bonito e bacana se não visar ao ser  humano.

Quaquá – Você falou em grupo político juntando pessoas de origens ideológicas diferentes. O Brasil vive um FlaFlu, ou um Vasco e Flamengo, já que nós somos vascaínos, que não leva a lugar nenhum…

Reis – Só destroi.

Quaquá – O Rio de Janeiro tem mostrado o caminho de uma concertação, que é juntar as pessoas em torno do Rio. Essa tem sido uma característica importane do Cáudio Castro, com a liderança do André Ceciliano na Alerj, e você tem uma importância grande na construção disso. Voce não acha que a gente precisa construir a partir do Rio para o Brasil um projeto que acabe com este FlaFlu, para um país menos truculento?

Reis – Esse derretimento político ocorreu. Quando se poderia imaginar que o Cláudio Castro, vereador com dez mil votos, ía virar governador do estado? Se a gente nao tem capacidade, Deus tem. Quando o homem não consegue fazer, Papai do Céu vem, sacode a roseira e agora tá posto.

Ricardo – Você tem defendido uma integração maior do governo do estado com a prefeitura da capital?

Reis – Estados e municípios precisam ter mais entendimento administrativo.

Ricardo – Falta entendimento entre Claudio Castro e Eduardo Paes?

Reis – Tem que ter um esforço maior. Isso é prioridade. Do contrário, quem paga a conta é o povo lá na ponta.

Quaquá – O Rio tem que estar fora deste FlaFlu nacional?

Reis – Com certeza. Nós temos que acertar na política. Ver o que é melhor para o Rio aqui. Não pode ter voto vinculado. O maior erro da legislação política foi o voto vinculado. Político não tem capacidade de fazer lei sobre a eleição. Fica fazendo pegadinha pra ferrar os outros. o TSE devia tomar as decisões. Tinha que ser assim: pode misturar tudo. O único lugar que tem Justiça Eleitoral é o Brasil. Quem cuida de eleição nos outros países são os partidos. Aqui tem uma justiça para acabar com a nossa vida. Eu já fui recordista de multas eleitorais.

Ricardo – Você tem boa relação com o presidente Bolsonaro e também tem boa relação com o ex-presidente Lula. Como se coloca nesta questão da disputa presidencial?

Reis – Eu teria uma ótima relação com o Haddad, que foi o último candidato do PT, se ele tivesse sido eleito. Ele foi a Xerém comigo, sempre tivemos uma relação política boa. Uma coisa que você precisa ter na vida é gratidão. Você tá morrendo de sede e na rua alguém te dá um copo dágua, eu deverei a ele reciprocidade. Eu não tenho nenhuma obrigação política partidária, não tenho nenhuma faca apontada para o meu peito. Bolsonaro? Tive uma lua de mel com ele lá em Brasília. Foi um deputado bacana de conversar, um cara arrumado. Diferente desse Bolsonaro que existe aí na internet, nessa rede maluca, que virou uma guerra, com as pessoas se matando. Aí você vê o Flávio Bolsonaro. Era deputado estadual o pai nem sonhava em ser presidente e ele me pediu um terreno pra fazer um colégio militar, e eu dei, Aí ele vira senador e o pai vira presidente. Inauguramos o colégio, pediram pra botar o nome de um parente deles e eu botei, da forma mais natural. Se o presidente Lula estiver no poder e pedir pra imaugurar uma escola com o nome da Dona Marisa será a mesma coisa. Isto é a elegância da política, é política de gente grande, não é essa vergonha dos caras ficarem um xingando a mãe um do outro. Eu presenciei na Câmara deputado querendo matar um ao outro, dar tapa na cara. Imagina como um cara desses vai se relacionar com a sociedade, se não sabe se relacionar com um colega.

Ricardo – Você confia na urna eletrônica?

Reis – Confio. A urna eletrônica não é integrada. É como uma caixinha. Como a de papel. Você vê um boletim: por exemplo, tem lá uma urna com 427 votos, de tal zona eleitoral, do colégio estadual Santo Antônio, em Xerém. No boletim tem tudo: brancos, nulos, os votos nos candidatos, tá tudo ali. Não me preocupo. Já sei quantos votos eu teria antes da totalização, não com exatidão, claro, mas sei. Nunca tive essa preocupação.

Ricardo – Como reduzir a dependência do petróleo no Rio. O barril vai a 125 dólares, maravilhoso; vai a 26, é uma uma tragédia. Como escapar disso?

Reis – É falta de planejamento. Você tem que gastar o que tem. Tem que fazer uma previsão da entrada de recursos do petróleo num ponto de equilíbrio. Se eu for governar, vou pensar: o petróleo vai custar 50 dólares o barril e planejar em função disso. Governar é ter planejamento e ponto de equilíbrio. Mas todo mundo vai no limite, vai gastando, gastando, gastando… O Pezão, quando saiu candidato à eleição, saiu dando aumento dia e noite. O negócio dele era dar aumento. Ganhou a eleição e quebrou. Entendeu?

Ricardo – Em relação ao atual governador, há uma crítica de que ele tem gastado muito. O que o senhor acha?

Reis – Não. Não tem, não. Acontece que ele tem muito dinheiro pra gastar. Ele acertou a mega-sena sozinho. Ninguém esperava vir essa fortuna da Cedae. Eu estou fazendo um monte de obra em Duque de Caxias graças a esse dinheiro da Cedae. Hoje o governador está vivendo um momento nobre porque ele fez uma grande sociedade. Nunca houve na história um volume tão grande de recursos. Fomos abençoados. Eu, como prefeito, fui abençoado. Antigamente, o governador te dava uma ponte, o cronograma previa obras de seis meses e demorava seis anos, por falta de pagamento. O governo dava a ponte e não entregava.

Ricardo – Se você for escolhido vice, que tipo de colaboração você pode dar ao Cláudio Castro? Que tipo de complemento você dara à chapa e ao trabalho de governar?

Reis – A primeira coisa que a gente tem que dar em qualquer eleição é voto. Se ganha eleição é com voto (risos). Já vi gente com bilhão perdendo eleição. Dinheiro não ganha eleição. Você tem que ter consciência. Uma hora o eleitor vai te eleger, outra hora não vai te eleger. Tenho que dar voto à chapa e, modéstia à parte, eu sou um cabo eleitoral com preparo para andar, pra voar, pra correr, fazer campanha a pé, de helicóptero, de avião, de jegue. E quero somar muito para dar continuidade ao trabalho. O governo é do Cláudio Castro, mas é o governo do povo do estado do Rio de Janeiro.

Quaquá – Mas como Cláudio é amplo, esta pode ser a chapa do Castro-Lula?

Reis – Aí é com ele. Eu não tenho autorização pra falar sobre isso. Mas o Cláudio é muito competente, e ele vai saber lidar com isso…

Ricardo – E em relação à eleição presidencial, você já se posicionou?

Reis – E tenho minha posição, sim. Mas eu não posso revelar neste momento, porque ela é traumática. Eu tenho um partido. Talvez eu não faça o que o meu partido quer. Vou criar minha dissidência… Mas uma coisa você pode ter certeza: eu não fico vermelho nem por um caramba, eu não passo vergonha. Em 30 anos de política, onde eu der a minha palavra eu cumpro. Eu não vou virar safado. Eu não tive essa aula em casa. Eu cumpro acordo e pago as minhas contas. É tudo na palavra. Sujeito homem vem de berço, não se  fabrica na estrada.