GUIA DE GASTRONOMIA PRETA TRAZ 21 ENDEREÇOS NO RIO

É mais do que apenas um novo guia bem-sacado para iluminar caminhos dos amantes da boa cozinha. O papo aqui é reto. “Zungu” é um guia de gastronomia preta que reúne 21 casas cariocas, detentoras de inúmeros sabores e saberes ancestrais oriundos da África. Compilado com apoio da Secretaria Municipal de Cultura do Rio e da Subprefeitura do Centro, “Zungu” começou a ser distribuído gratuitamente nos estabelecimentos participantes desta primeira edição no Dia da Consciência Negra (20/11). “Para fomentar em cariocas e amantes da cidade o orgulho da sua cultura negra representada através da culinária. Convidamos a todos para fazer um movimento de construção de coletividade e criação de uma rede”, proclama o curador e organizador do guia, Kanu Akin Trindade, que partiu da casa da família, o Dida Bar, na Praça da Bandeira, para chegar à lista final.

Do chef João Diamante, do Na Minha Casa, na sobreloja da Cadeg, em Benfica, o destaque é o bolinho de jiló recheado com calabresa, que não perde em sabor e prazer nem para o incrível bolinho de pirarucu com molho de pimenta tucupi. O Afro Gourmet, no Grajaú, comparece com delícias que vão do bom e velho acarajé ao arroz de hauçá, que veio da Nigéria e fincou raízes na Bahia _onde ganhou fama como o prato preferido de ninguém menos do que o escritor Jorge Amado. Tem até opção para os veganos: um skakshuka, espécie de ratatouille à base de tomates, cebola e pimentão fritos no azeite e cobertos com ovos batidos, considerado o prato nacional da Argélia. Servido aqui com banana da terra frita é uma experiência que vale a pena.

E quem disse que lugar de mulher também não é a cozinha? São elas que comandam outros destaques do guia, como a feijoada quilombola que é servida durante a roda do Samba da Filosofia, no Quilombo Aquilah, na Praça Seca, um ponto de resistência cultural mantido pela Associação de Mulheres Aquilah. Após o pagode, costumam ser realizados no local oficinas de jongo. Já na zona Sul, a chef Andressa Cabral abriu no Leme o seu YáYá Comidaria Pop, onde só mulheres pretas comandam as panelas. O destaque fica com o Patota de Cosme _ uma mistura de vatapá, caruru, omolokum, acaçá e mini acarajé _ prato inspirado em receitas do norte de Angola.

“Zungu” quer ir além de ser um guia de endereços de restaurantes e se tornar um movimento gastronômico e cultural de espaços afro na cidade. Para os foodies, como são chamados ironicamente os amantes de comidas diferentes, a chegada e a consolidação de uma variedade cada vez maior de novos tipos de cozinhas no Rio só poderia ser mesmo uma notícia…deliciosa!