CACHAÇA DA BOA? NO RIO TEM

POR CHICO JÚNIOR

Houve um tempo, não muito longínquo, que no Brasil parati era sinônimo de cachaça. A pessoa entrava num bar e, em vez de pedir uma dose de cachaça, pedia uma parati, referência ao município, que foi por muitos anos, desde o Brasil Colonial, principal produtor do destilado marca do Brasil por excelência. Hoje, embora os mais de 100 alambiques que começaram a produzir cachaça na cidade no início do século XVII tenham sido reduzidos a seis produtores, a história, o terroir e a qualidade da sua cachaça fizeram com que Paraty fosse a primeira região produtora de cachaças do Brasil a receber o selo de Indicação de Procedência (IP), outorgado pelo (Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI). Um desses produtores é Eduardo Mello, cuja família produz no Engenho D’Água a Coqueiro há mais de 75 anos, embora a família Mello tenha iniciado a produção de cachaça em Paraty há mais de 200 anos. Atualmente há no Estado do Rio mais de 60 alambiques de cachaças de alta qualidade, que produzem centenas de rótulos (tipos), espalhados por todas as regiões do Estado. E muitos desses alambiques já estão em franco processo de exportação. Em 2021, os produtores do RJ exportaram o equivalente a US$ 1,305 milhão. O estado é o terceiro maior exportador do Brasil, atrás de São Paulo e Pernambuco.

Magnífica

Um dos símbolos da produção de cachaça de alta qualidade no Estado é a Magnífica, de Vassouras (mas com acesso por Miguel Pereira), criada pelo “cachaceiro” gente boa João Luiz de Faria. Desde que iniciou a produção, em 1988, João colocou como objetivo produzir uma cachaça que se destacasse pela qualidade, rivalizando com os bons destilados do mundo.

Para João Luiz, é um orgulho produzir no Rio de Janeiro. “Nosso ‘quartel general’ é situado no bairro de Santa Teresa, no Rio, e o alambique fica nas montanhas próximas, na divisa dos municípios de Vassouras e Miguel Pereira.”

Da Quinta

Produzida na Fazenda da Quinta, município do Carmo, região serrana do estado do Rio de Janeiro, a Cachaça da Quinta tem como diferencial o cultivo agroecológico da cana utilizada na sua produção, o que lhe valeu o certificado de produto orgânico desde 2015.

Em 1923, a Fazenda da Quinta foi adquirida por Francisco Lourenço Alves, imigrante português. No início do século atual, Katia Alves do Espírito Santos, filha de José, assumiu a produção e o negócio.

Hoje, os produtos da empresa, além de presentes no mercado brasileiro, são exportados para os Estados Unidos, alguns países de Europa, Taiwan e Japão.

Sete Engenhos

Se há uma coisa que Haroldo Carneiro, dono da cachaça Sete Engenhos, conta com o maior orgulho é que a história do Engenho São Miguel, onde produz a sua cachaça, em Quissamã, no norte fluminense, “mistura-se com a história do Brasil”. Ou melhor, com a história do Rio de Janeiro. Segundo ele, seus antepassados “participaram da fundação do Rio de Janeiro com Estácio de Sá; pouco depois, iniciaram a produção de cana, cachaça e açúcar na Ilha dos Sete Engenhos, hoje, Ilha do Governador.” No final do século XVII, as terras da Ilha dos Sete Engenhos foram trocadas por propriedades em Quissamã, onde foi fundado o Engenho São Miguel, em 1858, que acabou fechando em 2002, com a crise da cultura canavieira. Em 2010, Haroldo Carneiro da Silva reabre o Engenho São Miguel, para a produção da cachaça São Miguel, “unindo técnicas de produção modernas e sustentáveis à tradição centenária de manejo de cana”. Em 2015, reformulou a identidade visual e mudou o nome para Cachaça Sete Engenhos.

Werneck

A história da Werneck começa quando o casal Cilene e Eli Werneck adquiriu um terreno em Rio das Flores, no Vale Histórico do Café, região em que os Werneck se estabeleceram há mais de três séculos. Ao levar para Rio das Flores seu projeto sustentável, o casal Werneck resgatou as origens familiares, iniciando a recuperação da Mata Atlântica em 45% da área. Com a preocupação de não desenvolver uma monocultura de cana no sítio, plantaram também milho, feijão, abóbora, abobrinha, mandioca e variadas frutas. A área de cana ocupa menos de 20% da área da propriedade. 

A Werneck conseguiu a certificação orgânica em 2017, depois de cinco anos “transformando” seu canavial em cultura orgânica. E Eli não se arrepende. “Descobri que muita gente passou a interessar pela minha cachaça por ser um produto orgânico, o que tem facilitado, também, a exportação; é um selo sério, rigoroso e que, realmente, agrega valor ao produto”, diz.

Tellura

Localizada em Campos dos Goytacazes, na Fazenda Abadia (com tradição de mais de 100 anos no cultivo da cana-de-açúcar), a Tellura é uma das maiores cachaçarias brasileiras. Reconhecida por suas instalações e equipamentos de primeira linha e processo totalmente controlado, a fábrica possui quatro alambiques de cobre com capacidade para produção de 600 mil litros de cachaça anualmente, de onde saem três tipos: Tellura Prata, Tellura Jequitibá e Tellura Amburana.

A fábrica da Tellura, que teve investimento de mais de R$ 10 milhões em tecnologia de ponta, conta com variados tipos de tonel, entre eles o de aço inoxidável, jequitibá rosa, amburana e carvalho, que permitem a realização de blends para diferentes ocasiões e paladares.

Fazenda Soledade

A Fazenda Soledade, comandada pelos irmãos Roberto e Vicente Bastos Ribeiro no município de Nova Friburgo, produz ótimas cachaças premiadas desde a década de 1970, utilizando a tecnologia para atingir patamares cada vez mais elevados de qualidade.

“Todas as nossas bebidas são elaboradas tendo como palavra de ordem a valorização dos sabores e dos aromas originais da cana-de-açúcar, utilizando alambiques de cobre na destilação e, na hora da diluição, as águas puras das mais intocadas nascentes da Mata Atlântica da Serra Fluminense”, diz Roberto.