TROCA-TROCA: O COMÉRCIO MILENIAL

A proposta do clube não envolve compra, mas trocas

Luisa Prochnik

Era uma vez, um sonho. E, no sonho, Paula Maia, fundadora e realizadora da Faz Girar Market, uma feira dedicada à educação ambiental, tinha no quarto um armário compartilhado, em que suas roupas e outros itens de vestuário podiam ser trocados com donas de outros armários compartilhados. Um troca-troca que se tornava infinito enquanto cada vez mais armários – e donas de armários – faziam parte, fazendo girar as roupas entre todas, até que nenhuma precisasse mais comprar novos itens. Apenas trocar. Paula acordou e o cenário real, em 2021, era um país ainda mergulhado na pandemia de Covid, em que feiras de rua, como a Faz Girar Market, estavam proibidas. Mas, agora, a Paula tinha um sonho e, a partir daí, um objetivo. Após um encontro com outras realizadoras, donas da AZ Sustentabilidade, nasceria o clube de trocas.

A proposta do clube não envolve compra. Leva-se o que se tem no armário de casa em busca de item de qualidade semelhante ao exposto na arara. São seis categorias que vão dos ‘Esquecidos e Cansados’ até ‘Lacração Total’, dependendo do tipo de tecido, do corte, do acabamento, se é de marca conhecida até ser uma peça de luxo e exclusiva. Na troca, dependendo de qual for a categoria, é cobrada uma taxa. Negócio feito e que não termina nunca. Só gira.

– Tem uma festa amanhã? Traz vestido que não usa mais e troca por um vestido que vai usar uma vez. Depois, vai vir aqui e vai trocar de novo. É um armário compartilhado, é um armário infinito. Então, a pessoa que é cliente e entende isso, sexta está aqui porque ela quer sair com uma roupa nova. Nova para ela, no caso, porque o que é de segunda mão é novo para você – exemplifica Paula.

Ao se caminhar entre tantas araras, cheias de roupas, bolsas e bijuterias, Paula costura a trajetória dela até ali. A feira Faz Girar Market, que completa cinco anos em maio, foi o seu primeiro passo e continua sendo realizada. Cheia de bons negócios, ousada e múltipla, mas, antes de tudo, ecologicamente correta, responsável e comunitária. Há espaço para o clube de trocas, expositores negociam presença de suas barracas para venderem produtos – roupas e itens diversos – usados, leve livros e troque por outros – já lidos por uns, mas novos para você. E há espaço para a técnica de upcycling, que consiste em reaproveitar objetos e materiais para criar um produto, como colares de cápsula de café, por exemplo. Amor pelo meio ambiente declarado de várias formas.

– Sempre tem atividades tipo oficinas, palestras e, principalmente, as campanhas de arrecadação de resíduos especiais. Toda feira nossa tem uma barra onde a gente cata o lixo eletrônico, o óleo de cozinha usado, os remédios vencidos, as tampinhas plásticas, os anéis de lata e as esponjas. (…) Então, a gente fala: ‘olha, tem essa esponja vegetal, conhece? Por que você não troca por essa?’ Tudo bem que a gente faz a logística, mas o ideal é diminuir o resíduo – enumera e conclui Paula.

A feira é eventual e um enorme acontecimento, envolve a comunidade local em que ela é realizada, demanda um esforço enorme, ainda mais na falta parceiros e investidores. Já o clube de trocas, localizado em Copacabana, por sua vez, é mais jovem, completa três anos, também em maio, funciona diariamente, está em crescimento e tem uma parceria sólida com as sócias da AZ Sustentabilidade, donas do espaço de 450 metros quadrados em um bairro residencial, comercial e turístico. Um tesouro de lugar, como a própria Paula diz.

Diferentemente do clube, na AZ Sustentabilidade quem quiser é só chegar e comprar. Pode chamar de brechó, second hand, mas o que se enxerga é uma loja ampla, organizada com produtos de qualidade a preços diversos. Se sua ideia não for comprar, mas se desfazer do que tem – roupas no armário, louças, móveis e outros itens usados – pode agendar horário e fechar um acordo de consignação, onde quando se vende tanto o dono quanto a loja ganham.

– Nosso primeiro objetivo sempre foi reduzir o consumo, consumir o que se precisa. A gente quis abrir um brechó com um conceito de loja que era para que tudo tivesse pendurado, cheiroso, sem estar sujo, sem estar rasgado. Para vocês quando chegassem, era como se estivessem entrando no armário de vocês – conta Julia Azeredo, uma das sócias.

Ainda está longe de ser consenso, moda e rotina para brasileiros o consumo de roupas usadas. A ideia da AZ Sustentabilidade veio de fora, através de uma das sócias, a Maria Eduarda Azeredo, que de outlets resolveu experimentar brechós. De frequentadora para idealizadora do seu próprio negócio. Conversou com a prima, Rafaela. Outras duas Azeredos – Julia e Cláudia – se juntaram e as quatro, resilientes aos desafios, dedicam-se à AZ, em funções diversas, inclusive, organizando os próximos passos.

– Eu estou muito voltada para essa questão da colaboratividade. Eu não quero que esse espaço seja só um espaço para vendas. (…) Fazer galeria de artes, fazer exposições, a gente já está montando sarau. Então, quero que aqui seja um espaço cultural em Copacabana – explica Maria Eduarda, idealizadora da AZ Sustentabilidade.

Atualmente, além do clube de trocas de Paula, convivem no mesmo ambiente o Beco das Palavras, antiquário literário, e o Café do Beco, com café, claro, mas também cerveja. Respeito ao meio ambiente, moda, cultura e uma boa farra: combinação que tem tudo para dar certo.

SERVIÇO
AZ Sustentabilidade: Av. Nossa Sra. de Copacabana, 828 – sobreloja – Copacabana, Rio de Janeiro. Seg. a sex., das 11h às 19h; sáb., das 11h às 17h.