O MELHOR SABOR DA AMAZÔNIA NO SEU MELHOR LUGAR: O MUSEU DO AMANHÃ

POR JAN THEOPHILO

Nem tudo são más notícias nos últimos tempos para o Rio de Janeiro. E raras novidades foram tão alvissareiras quanto à inauguração de uma filial da Casa do Saulo nos fundos do Museu do Amanhã, onde um lago de águas cristalinas forma uma espécie de piscina infinita com a Baía de Guanabara. Estamos falando nada mais, nada menos, do que o melhor restaurante de comida amazônica do Norte do Brasil. Uma sacada genial e muito mais original do que uma filial do Fogo de Chão, Academia da Cachaça ou Casa da Feijoada – com todo o respeito. “A direção queria encontrar um nome que representasse a culinária original brasileira, assim entraram em contato comigo e, ano passado, começaram as conversas de negociação”, lembra o chef e empreendedor paraense Saulo Jennings.

A história de Saulo por si já é um barato. Filho de costureira e eletricista, ele aprendeu os segredos do fogão com o pai, um cozinheiro de mão cheia. Mas a carreira de Saulo não começou na cozinha. Depois de um período no mundo corporativo, ele resolveu chutar tudo pro alto e comprou uma pirambeira às margens do rio Tapajós, a 16 km de distância do centro urbano, porém no coração de Alter do Chão, o badaladérrimo e hypado Caribe Amazônico. Lá, começou a dar aulas de kitesurfe, e ao fim das aulas oferecia um peixinho feito por ele aos alunos. Com o tempo, começou a correr o papo na região de que as pessoas se inscreviam no curso mais pelo peixe do que pelas aulas propriamente ditas. Hoje, além do restaurante original com suas cinco únicas mesinhas, Saulo cuida do “hotel” Bangalôs da Selva, uma imersão de floresta com 10 bangalôs com vista para o amplo rio Tapajós, a Casa do Saulo das Onze Janelas, um cartão postal da cidade de Belém, às margens da baía do Guajará, com os mais belos pores-do-sol e culinária tapajônica raiz. E a Casa do Saulo Quinta de Pedras, casarão do século XVIII intimista e aconchegante, onde o Jardim é um atrativo junto à cozinha contemporânea e de fusão servida por lá.

E com tantas boas referências, nossa intrépida equipe de reportagem resolveu, corajosamente, ir aonde o orçamento da redação jamais havia ido, para trazer o resultado de uma experiência in loco do serviço da casa. O restaurante é lindo, colorido, com uma vista espetacular, e decorado com objetos do Tapajós por todo o lado, como remos e cuias de madeira. Tem até um simpático ‘Mercado Ver o Pesinho’ que vende produtos como Tucupi, Cachaça mista de Jambu e Castanha e geléia de cacau com Cumaru, entre outras iguarias. “Nossa principal referência é a originalidade do nosso povo, da nossa cultura alimentar, pratos bem servidos com temperos de vó e de partilha, acompanhados de um bom carimbó e brega. Tudo que nossa região tem para oferecer. Irei levar um pouco para fisgar os turistas e levá-los a conhecer in loco nossas belezas e temperos”, garante Saulo.

Por sugestão do chef, pedimos de entrada um Camarão Caboco, formado por três camarões VG empanados na Farinha de mandioca e três camarões VG na farinha de tapioca servidos com mel de melíponas apimentadas do Arapiuns (R$ 54,90). As melíponas são abelhas nativas brasileiras sem ferrão que produzem um mel mais nutritivo e com 70% menos açúcar que o mel tradicional. Outra dica foi a saborosíssima lingüiça de pirarucu com jambu e molho de tucupi com o mel das nossas melíponas do Arapiuns — um rio, aliás, de águas azuis cristalinas.

A Casa do Saulo conta com uma robusta carta de drinks com toques amazônicos. Antônio, nosso fotógrafo e meu companheiro de aventuras gastronômicas, preferiu aguardar o vinho sugerido pela casa. Mas, como sou destemido, pedi o carro-chefe: o Gin Tapajônico (R$ 39,90), feito com gin (claro!), spray de cumaru, doce de cupuaçu e orelha de macaco, que embora pareça ter saído de um filme do Indiana Jones, é uma espécie de espinafre amazônico. Refrescante o bastante para quem vive debaixo de 40 graus o ano todo. E nesses tempos bélicos, há até uma versão anti-Putin do Moscow Mule: Taperebá Mule (R$38,90), com vodka, suco e espuma de Taperebá, uma fruta que é conhecida em outras regiões brasileiras, com sutis diferenças no sabor, como cajá ou acajá.

Como prato principal, encaramos uma sugestão para dividir, o Piracaia: consiste em Tambaqui, mapará ou ventrecha de Pirarucu com banana da terra assada na brasa, arroz de chicória, vinagrete de feijão de Santarém, farofa e farinha de piracuí (R$ 149,90). Uma experiência simplesmente sensacional. E para ajudar a empurrar isso tudo a dica foi um branquinho italiano para servir geladinho e acompanhar os peixes: um Miluna Bianco Puglia (R$ 120), da renomada vinícola San Marzano, que apresentou a casta Chardonnay à tradicional Malvasia Bianca, do sul da Itália. O resultado, harmonioso, empresta aromas florais deliciosos, além de notas de pêssego e abacaxi em calda à taça. Para cheira-rolha nenhum botar defeito. No fim das contas a conta ficou em R$ 533,70 para duas pessoas, com dois vinhos e sem sobremesa (não cabia mais nada). Não é necessariamente barato, mas um baita passeio, cheio de aromas e cores pouco usuais no Rio Maravilha. Fica a dica.