MÚSICA: JOÃO MÁRCIO, O FAZ-TUDO DO FORRÓ

João Márcio: "A gente consegue movimentar, no chapéu, o cachê de um show normal"

Luisa Prochnik

Praça é um espaço público, urbano, sem construções, propício a encontros. Encontros, inclusive, do tipo ritmados, com duplas bailando uma dança animada e, ao mesmo tempo, sensual. Entre uma esmerilhada e outra, casais agarradinhos se separam, giram, de pé em pé, e se juntam novamente. “Olha que isso aqui tá muito bom, isso aqui tá bom demais”, já diria Dominguinhos! É o Forró da Praça, minha gente, que traz a arte ao espaço público. O idealizador desse projeto é moleza de encontrar, em dia de show. Olha para o palco e procure alguém de camisa colorida, um triângulo em mãos e em companhia do microfone. João Márcio, carioca de Santa Teresa, há cinco anos – com aquela parada na pandemia – trouxe o forró para a praça, para várias praças pelo Rio de Janeiro.

O primeiro encontro com João Márcio acontece em uma noite de inverno carioca. Aglomeração de pessoas felizes na praça São Salvador, em Laranjeiras, em uma sexta-feira. Os bares no entorno estão cheios de clientes, vendedores ambulantes e seus isopores estão presentes. Algumas pessoas trouxeram suas garrafas de vinho e cadeiras de praia, outras estão em pé. Bandeirinhas e ícones pernambucanos homenageados, como Dominguinhos, Luiz Gonzaga, Marinês e Anastácia. Nesta noite, consigo apenas um tchau de longe. João Márcio é, ao mesmo tempo, produtor, coordenador, cantor e responsável por tocar o triângulo.

– O Forró da Praça surgiu a partir de duas demandas. Uma delas é a de movimentar esse mercado do forró pé de serra, o forró tradicional. Como a gente não está no mercado fonográfico, que hoje está com funk e sertanejo, alimentar essa demanda é uma obrigação inteligente do artista que está voltado para o forró. Então, a gente tem que ir aonde o povo está. Não adianta a gente fazer o evento e achar que as pessoas vão chegar, porque elas não estão sendo alimentadas pelo imaginário do mercado fonográfico, com bandas de forró na TV.

Além dos encontros fixos em Laranjeiras e no Largo da Glória, o Forró da Praça já tocou, toca e tocará na praça General Osório, no Parque Garota de Ipanema, no Largo do Machado, na Praça do Lido, em Copacabana, na Vila Valqueire, e em outros locais pelo Rio. É um burburinho que vem chamando a atenção. Nas praças, claro, e nas redes sociais. São oito perfis diariamente alimentados por João.

– Pode ver que todos têm duas postagens por dia, stories, uma loucura.

João Márcio é assim. Ele se autoproduz e se autogerencia. Também é curador do Fuska Bar, no Humaitá, membro do Trio Samarica e está sempre em um arranjadinho por aí, tocando e cantando.

– E a pessoa ainda quer ter vida pessoal… – debocha.

A segunda demanda para o Forró da Praça existir é de caráter político, social e cultural.

– Somos um movimento de arte e cultura ocupando espaço público como é nosso direito e direito também da população em ter acesso a esse tipo de coisa, gratuitamente.

Há situações, como no caso das apresentações na General Osório, em que a Feira Hippie destina verba para números musicais, quando o Forró da Praça recebe para tocar. Mas, no geral, a grande forma de receberem pelo seu trabalho é através da famosa passadinha de chapéu.

O Forró na Praça é sucesso nas noites de sexta

– A gente consegue movimentar, no chapéu, o cachê de um show normal. A maioria das pessoas contribui. Algumas ainda não entendem o movimento como delas. Claro que, quando tem um violão e uma pessoa está passando, ela contribui se aquilo, de alguma forma, toca seu coração. Mas é diferente de uma apresentação em praça pública, que você só está ali por causa disso. Se não fosse o show, o camelô não estaria ali para te vender a cervejinha. Se não tiver música e movimento, a praça está mais deserta, menos segura. As pessoas costumam cobrar mais do poder público que aquele banco seja consertado, que aquela lâmpada seja trocada. Então, ter esse movimento em praça pública contribui para a cidade de um modo geral. Inclusive, a praça ter esse viés cultural contribui para a valorização de apartamentos, o que muitas vezes vizinhos incomodados não percebem – defende João Márcio.

Recorrendo, novamente, ao mestre Dominguinhos, que abriu esse texto, o Forró da Praça é tão bom que olha, quem tá fora quer entrar, mas quem tá dentro não sai, pois é!