Luisa Prochnik
Cada escola tem sua magia, harmonia, estilo, tradição e torcida. Mas se o Carnaval não deixa de ser uma competição (levada muito a sério), também é momento de se reverenciar personagens incríveis, únicos, que atravessam a Passarela. Separamos destaques muito especiais nas escolas do Grupo Especial para você ficar de olho. Quando eles passarem, pode bater palmas. É na magia desses encontros que o Carnaval acontece. Pelo menos, até a hora de os envelopes com as notas serem abertos. Vamos lá, na ordem do desfile:

Lara Mara: Diretora de Carnaval da Unidos de Padre Miguel
“Vamos botar pra f*d*r, Vila Vintém!”, grita ao microfone a jovem de cabelos longos, empoderada, antes de a Unidos de Padre Miguel começar sua apresentação. “É mais do que uma expressão forte; é um chamado à guerra, à paixão e à união”, explica Lara Mara, a dona do chamado incendiário. Puro poder da mulher de axé, 20 anos, apaixonada pela Unidos de Padre Miguel e a única diretora de Carnaval do Grupo Especial. “Meu papel vai além da organização do desfile; é também inspirar outras mulheres a acreditarem que é possível, que elas têm capacidade de liderar e de transformar”, atesta ela que vai preencher a Sapucaí com seu grito de guerra.
Ricardo Lourenço: Integrante da Velha Guarda da Imperatriz Leopoldinense
São 54 anos ininterruptos desfilando pela mesma escola, mas sempre com amor e dedicação. “Estar com a Imperatriz é um rito de passagem anual sem o qual não vivo”, explica Ricardo Lourenço. Ele é filho de dona Dedê, baiana, foi presidente de ala por 18 anos (a partir de 1974) e, há 12 anos, integra a Velha Guarda. “Com muito orgulho, desfilo com alguns bambas e baluartes gresilenses nessa gloriosa confraria”. Com um destaque desse, a Imperatriz tem, há 54 anos, motivo para comemorar.

Ciça: Mestre de Bateria da Unidos da Viradouro
Perto de completar 54 anos de pista, aos 68 anos de idade, Mestre Ciça é um dos maiores artistas do desfile inteiro. Comanda baterias desde os anos 1990 e ano passado comemorou mais um título – o terceiro em sua carreira (os outros foram em 2020, também pela Viradouro, e em 1992, pela Estácio de Sá). Com passado de conquistas e presente de sucesso, Mestre Ciça está entre os grandes regentes das baterias de toda a história do Carnaval, e segue vigoroso, planejando estrelar os desfiles do futuro.

José William de Paula: O cria da Estação Primeira de Mangueira
“Um cria é um moleque de morro, e todo mundo conhece um cria, ele é gente boa”, define o cria José, 12 anos. De sangue e coração mangueirense, como referenda a mãe, Laura Thalyta Alves da Silva, chefe do almoxarifado da Mangueira: “Representando a nossa escola e representando a minha família, meu pai, meu avô, minhas tias, que já deram muito sangue aqui”. José carrega o legado dos povos banto, a maioria dos negros que desembarcam no Cais do Valongo, ponto de partida do enredo verde e rosa. “Mangueira na minha vida é representatividade pelo amor pela escola”, exalta José.
Anitta: Coautora do samba-enredo da Unidos da Tijuca
De verdade, ninguém sabe se ela vai aparecer, mas por via das dúvidas, pre-pa-ra: Anitta, coautora do samba da Unidos da Tijuca pode ser a grande surpresa do ano. “A Tijuca vai falar sobre Logun-Edé, meu orixá. Esses parceiros maravilhosos, que são uns gênios, me convidaram por saber que eu sou de Logun-Edé”, explicou Anitta, fiel do candomblé, que assina a composição com Estevão Ciavatta, Feyjão, Miguel PG, Fred Camacho, Luiz Antônio Simas, Gustavo Clarão e Diego Nicolau. Estrela internacional da música, ela vai brilhar, presente ou não, no palco dos bambas.

Lorena Raissa: Rainha de Bateria da Beija-Flor de Nilópolis
Ela se destaca pelo samba no pé, pela beleza, e pela história que se mistura com a escola na qual é rainha de bateria. Lorena Raissa, 18 anos, estará pela terceira vez à frente dos ritmistas da Beija-Flor, agora com uma novidade: espera o primeiro filho. Herdeira de uma família de mulheres fortes, conectadas ao samba e à Beija-Flor, ela está na azul e branco da Baixada desde antes de nascer. Sua mãe, Aline, entrou em trabalho de parto na volta do ensaio técnico de 2007. Mais ancestralidade impossível na trajetória da jovem mamãe rainha.

Tia Glorinha: Presidente da Ala das Baianas do Salgueiro
Na sala das baianas do Salgueiro, a fé se materializa em um altar com todos os orixás e imagens católicas. De corpo fechado, protegida por sua devoção, Tia Glorinha é símbolo do enredo da escola em 2025. Quem a escuta falando sobre o amor pelo Salgueiro, emocionada, mal a reconhece quando está atuando como presidente da ala das baianas. Exigente, fiscaliza tudo e não admite erros. “Tem que rodar e cantar, não adianta vestir a roupa e ficar andando na avenida”, orienta ela, na ala há 23 anos “Obrigada meu Deus, pelo dia de ontem, pelo dia de hoje e pelo dia de amanhã”, encerra a matriarca, no clipe oficial do samba.

Gaelzinho da Vila: Destaque mirim da Vila Isabel
Gaelzinho da Vila segura o microfone do mesmo jeito que seu ídolo, Tinga, e, desinibido, se apresenta no palco, cantando sua paixão precoce pela escola. Filho do mestre de bateria da Vila Isabel, Macaco Branco, e da musa Dandara Oliveira, o pequeno festejou os quatro anos de idade soltando a voz, cheio de ritmo e samba no pé. Quem vê o menino se encanta instantaneamente – e assim será com o público da avenida.

Gaby Mendes: Passista da Mocidade Independente de Padre Miguel
Ter sido eleita a Rainha do Carnaval 2024 dá a Gaby Mendes um destaque natural. Mas sua presença na avenida, com muito samba no pé, amor pela Mocidade Independente e o sorriso cativante, encanta os espectadores da folia. A musa é uma mulher de seu tempo, empreendedora e empoderada. “Sou a minha própria chefe e trabalho com o que amo”, comemora, dona de espaço dedicado à beleza da mulher. Gaby é a realidade da nova geração do samba: dona de seus passos, dentro e fora da avenida.

Mayara Lima: Rainha de Bateria do Paraíso do Tuiuti
Mayara Lima virou celebridade com luta e samba no pé em quantidades igualmente generosas. A caminho do terceiro ano como rainha de bateria do Tuiuti, ela é a melhor dançarina de todo o Carnaval na atualidade. Hipnotiza a plateia ao combinar coreografias com os movimentos dos ritmistas, fazendo cair os queixos da plateia. A perícia fez dela um hit nas redes sociais – só no Instagram, tem 1,1 milhão de seguidores – e uma concorrida professora da dança do samba. Salve, rainha!
Andréia de Vasconcelos: Percussionista de carimbó da bateria da Grande Rio
Já imaginou que lindo poderia ser tambores e maracas, instrumentos presentes no carimbó, coordenados e harmonizados ao samba da Grande Rio, sendo tocados na Sapucaí pelas mãos de mulheres paraenses? A paraense Andréia de Vasconcelos, pesquisadora da cultura carimbó no Rio e fundadora do grupo Aturiá, estará lá, entre outras mulheres, levando a manifestação afro-indígena para o mundo. “É um acontecimento histórico”, exalta ela, que vai liderar a mistura entre samba e carimbó, o sambaribó, na tricolor de Caxias, uma das favoritas ao título.

Milton Nascimento: Cantor e compositor, homenageado pela Portela
Celebrar as pessoas em vida. Permitir que aqueles que tanto nos encantaram e encantam se encantem com nossas sinceras homenagens. Esse é o espírito da Portela ao reverenciar Milton Nascimento, primeira personalidade viva cantada pela escola. Milton aposentou-se dos palcos, mas, agora estará sob os holofotes mais importantes do Brasil. “Mal posso esperar para encontrar todos vocês no maior espetáculo da terra”, comentou, em sua rede social. Seja qual for o resultado, com certeza a presença de Milton Nascimento na avenida, no fechamento do Carnaval 2025, é um destaque, para todas as cores, comunidades e bandeiras.