EDITORIAL: UM PASSEIO PELO RIO QUE AMAMOS

Após alguns hiatos – interrupções momentâneas determinadas pelas eleições e, recentemente, pelo carnaval  – a Rio Já retoma o curso natural de suas atribuições. Em busca de imagens surpreendentes e percepções inusitadas, voltamos a esquadrinhar ruas e bairros da cidade. Uma tarefa artesanal, singular, movida à curiosidade inata dos bons repórteres de nossa equipe e ao compromisso da publicação de mostrar aos leitores o Rio que dá certo, a fração da cidade que nos orgulha e regozija.

Por entre restaurantes e botecos do Leme,  o tarimbado Bruno Agostini se deparou com uma espécie de Little Italy carioca – um conjunto de estabelecimentos ligados entre si pela prática da boa culinária italiana. Em périplo pelo bairro, o repórter gourmand  resgatou um dos mais tradicionais “ristorantes” da Atlântica: o Da Bambrini, fundado há mais de 30 anos por Gilberto Bambrini, um dos precursores da boa mesa italiana na cidade. Não mais sob sua gestão, a casa mantém preços justos e qualidade na execução dos pratos, especialmente os peixes e frutos do mar.

Deste recanto gastronômico da Zona Sul, partimos em direção a uma das regiões mais acolhedoras da cidade. Escalamos a bucólica Santa Tereza, um oásis urbano onde se juntam natureza, história e cultura. Lá, a competente Luisa Prochnik, mais nova integrante de nosso time, desvenda a beleza e os mistérios do Parque das Ruínas, um misto de centro cultural e área de lazer, erguido sobre os escombros de um luxuoso palacete de 1898. Palco de saraus e tertúlias literárias no século XIX, o espaço retoma sua vocação natural, com galerias para exposições, teatro e outras produções culturais.

De lá, vê-se o Rio por ângulos ainda mais surpreendentes, desnudam-se as curvas da sedutora geografia da cidade pontuada por contornos encantadores em meio a recortes da baía da Guanabara. “A quem passeia pelos três andares da construção, a cada curva, cria-se uma aura de mistério e um aumento de expectativa para saber qual será a próxima vista da cidade, como se fossem quadros em uma casa, mas pintados com tintas reais”, relata Luisa com a argúcia de excelente repórter que é.

De Santa Terê planamos em voo livre pela cidade até o Leblon, onde fomos conhecer o Jobá, um filhote do baladérrimo Jobi, ponto de encontro da boemia da Zona Sul. Com texto instigante, Jan Theophilo revela o que se pode esperar deste “puxadinho” do Jobi –  mas com personalidade e gastronomia próprias.  Em um teste drive foddie, ele flana pelo cardápio do chef Ronaldo Canha e relata a experiência nesta edição.

Numa intencional mistura de bairros e regiões que emprestam personalidade a este território, atravessamos o Rebouças em direção à Zona Norte, mais exatamente à Praça Paulo da Portela, em Oswaldo Cruz. Aydano André Motta visita a Feira dos Yabás, um dos mais simbólicos e tradicionais encontros gastro-culturais dos subúrbios cariocas. Há 15 anos, o compositor Marquinho de Oswaldo Cruz promove o evento – uma festa de celebração da gastronomia negra carioca, resume.

Peixe frito e pirão, carne seca com abóbora e galinha com quiabo são alguns dos pratos ofertados pelas yabás, mãe rainha em yorubá, responsáveis pela alimentação de seus filhos. O almoço tardio na praça de Oswaldo Cruz recebe o tempero de uma animada roda de samba que começa às 15h, quase sempre com próprio Marquinhos. É cultura afro-carioca na veia.

Nesta edição, temos ainda uma entrevista com o Celso Pansera, novo presidente da Financiadora de Estudos e Projetos, a Finep – o mais importante instrumento público de apoio a projetos de inovação e pesquisa no país. Com orçamento de R$ 10 bilhões anuais, o órgão, sediado no Rio, terá papel preponderante na retomada de políticas públicas pelo desenvolvimento da ciência.

Os temas escolhidos e os  textos primorosos desta edição são convites ao desfrute de uma leitura agradabilíssima. Com vagar e prazer. O prazer inesgotável de conhecer um pouco mais do Rio que amamos.