EDITORIAL: BÚZIOS; ANCESTRALIDADE E AUTO-EXÍLIO

MariNa e Alex Vale: casal que morava no Rio, até vir de vez para Búzios em 2021

Ricardo Bruno – Chefe de Redação

A história narrada pelos próprios moradores. A ‘Rio Já’ foi à paradisíaca Búzios, na região dos Lagos, para tentar decifrar a energia arrebatadora da península que encantara Brigitte Bardot nos idos dos anos 60. Se a atriz francesa projetou os recantos naturais daquele torrão para o mundo, coube aos nativos escrever a história que antecedeu o glamour, época em que a localidade era apenas uma colônia de pescadores do litoral fluminense.

A repórter Luisa Prochnik percorreu Búzios em busca de narrativas que descrevam a evolução antropológica da sociedade local; as transformações para o bem e para o mal, decorrentes do boom turístico; as mutações de seu tecido social, com a incorporação de características e estilos de outras plagas. São histórias permeadas pela ancestralidade de povos originários, pescadores, caiçaras, que no isolamento das 23 praias locais começaram a construir a identidade buziana.

O processo tem interferências externas – algumas bem-vindas, outras nem tanto. O fluxo de novos moradores, oriundos de várias partes do Brasil e de outros países, fez Búzios se desenvolver sob influências culturais distintas. Entre os exilados, os argentinos se sobressaem a ponto de impactar a rotina da vida na cidade. Uma partida de futebol, entre o Boca Juniors e o River Plate, por exemplo, faz os bares fervilharem. Afinal, dos 40 mil habitantes, cerca 6 mil são “hermanos”.

A pandemia acelerou a miscigenação buziana. Com a descoberta do home-office, cariocas, mineiros e até paulistas se isolaram na cidade em busca de qualidade de vida. E muitos, encantados pela experiência, terminaram por se radicar ali. Assim, Búzios, extratemporada, é uma cidade tranquila, de natureza interiorana, mas povoada por um razoável contingente cosmopolita. Percebe-se no dia-a-dia da península, até mesmo na atividade política, esta permanente fricção social entre aborígenes, neobuzianos e turistas. A descrição deste embate sociocultural está no instigante texto da reportagem de capa.

Nesta edição, Jan Theóphilo desvenda os segredos de um dos locais mais belos do Rio de Janeiro. Envolto numa atmosfera sagrada, em meio a histórias reais e muitas lendas, a Abadia de Nossa Senhora de Montserrat, mais conhecida como Mosteiro de São Bento, expressa o relevo do papel da igreja, especialmente dos beneditinos, no processo civilizatório brasileiro, a partir de 1590 no Rio de Janeiro.

Em clausura, cerca de 20 monges mantêm a tradição da ordem religiosa e preservam objetos preciosos, quase secretos, que sublinham a mística do local. Além do altar, em direção ao claustro se encontra o primeiro e maior Jesus Cristo pintado nas américas. O acervo contempla ainda a menor bíblia do mundo e um órgão, construído 1773 e revestido a ouro.

A ‘Rio Já’ desta edição tem muito mais.  Bruno Agostini nos leva a conhecer as razões que fizeram o bairro de Botafogo adquirir reputação internacional. Recentemente, a ‘Time Out’ reconheceu a região como uma das ‘mais legais do mundo’ – uma área absolutamente cool, frequentada por descolados e onde pululam iniciativas antenadas com o que acontece de novo no mundo do entretenimento, o que levou o reduto carioca a ganhar um apelido: BotaSoho, referência óbvia ao bairro nova-iorquino.

Boa leitura.