DENGUE: A EPIDEMIA QUE ASSUSTA O RIO

As larvas do mosquito Aedes Aegypt se reproduzem mesmo em pequenas porções de água

Caroline Rocha

O Rio de Janeiro iniciou 2024 com um desafio já não encontrado, com tamanha intensidade há 12 anos: a dengue. A alta de casos levou o prefeito Eduardo Paes a decretar estado de emergência na saúde pública no início de fevereiro, reconhecendo oficialmente que o município vive uma epidemia.

O número de casos já ultrapassava 23 mil na primeira quinzena de fevereiro, mais que o total registrado em todo o ano anterior – quando a cidade contabilizou cerca de 22.800 infectados.

Até o momento, duas pessoas morreram por complicações da dengue: um homem, de 23 anos, morador de Senador Camará, e outro, de 45 anos, atendido na UPA da Maré. A situação não preocupa apenas na capital, onde há cerca de 340 infectados a cada 100 mil habitantes. A taxa de incidência é ainda maior nas regiões do Médio Paraíba, Norte e Centro-Sul Fluminense – onde ultrapassa 549 infectados, podendo chegar a 798, a cada 100 mil pessoas, de acordo com a Secretaria de Estado de Saúde. Já são quatro mortes por dengue no estado, que está posicionado como sétima unidade federativa com maior incidência da doença no país.

O Distrito Federal lidera o ranking, com mais de 2.330 registros de doentes a cada 100 mil habitantes, de acordo com o Ministério da Saúde, seguido de Minas Gerais, Acre, Paraná, Goiás e Espírito Santo. A expectativa é que o Brasil bata recorde de infectados em 2024. “A estimativa do Ministério da Saúde é que a gente chegue a 4,2 milhões de casos. Nós nunca chegamos a esse número. Por isso, a preocupação e também pela pressão que isso pode acontecer no serviço de saúde”, disse a secretária de Vigilância em Saúde, Ethel Maciel.

A distribuição de vacinas contra a dengue foi iniciada no dia 8 de fevereiro. A previsão do Ministério da Saúde é que todos os 521 municípios selecionados, entre eles, 12 cidades fluminenses, recebam as doses do imunizante até a primeira quinzena de março. A imunização começará por crianças de 10 a 11 anos, avançando progressivamente até os 14 anos assim que novos lotes forem entregues pelo laboratório fabricante. A faixa etária é a segunda com maior concentração de hospitalizados por dengue, ficando atrás apenas dos idosos, que não foram autorizados pela Anvisa a receber a vacina.

A Prefeitura do Rio iniciou em 16 de fevereiro um estudo com moradores de Guaratiba, na Zona Oeste, para avaliar a eficácia do imunizante em adultos. Realizada em parceria com o Ministério da Saúde e a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), a pesquisa da Secretaria Municipal de Saúde prevê a imunização de 20 mil moradores na faixa etária de 18 a 40 anos.

“Essa já é uma vacina reconhecida pela Anvisa, já foi testada e teve sua eficácia comprovada. Aqui, queremos quantificar essa eficácia e observar como essa vacina vai se comportar nas características da população brasileira”, disse o secretário municipal de Saúde, Daniel Soranz.

Em meio a um esforço coletivo para conter a dengue, a cidade do Rio pode estar abrigando um dos maiores focos da doença no continente: um parque aquático abandonado de mais de 400 mil m² em Vargem Grande, Zona Oeste da cidade. O antigo Rio Water Planet, que já foi febre entre crianças e adultos cariocas, atualmente é foco de doença, com milhares de litros de água parada nas piscinas e toboáguas. Segundo moradores, os infectados aumentaram na região e o parque, que já foi o maior da América Latina, é um dos principais focos da doença.

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