DE BLOCO EM BLOCO: NAS RUAS, ALEGRIA PARA TODAS, TODOS E TODES

As as informações sobre desfiles estão no site oficial www.carnavalderua.rio

Luisa Prochnik

As ruas cariocas estão preenchidas por corpos purpurinados e sorridentes. Alguns menos vestidos que os outros, uns com pernas-de-pau e muitos com tênis confortáveis para longas caminhadas recheadas de cantorias e passos animados ao som das bandas dos blocos de carnaval. Tem bloco para tudo, todes e toddys, de diferentes tipos de música a tamanhos – tradicionais, em que se ouvem marchinhas antigas, aqueles com samba próprio ou com repertório de apenas um cantor/cantora, blocos que andam e blocos paradões, os que homenageiam alguém, um lugar ou um fato histórico ou eles mesmos.

O centro da cidade é o local por excelência de fala, rala e rola dos blocos, com o maior número de desfiles, tanto pela tradição de sediar o carnaval desde o surgimento dessa festa, no século passado, quanto por uma decisão estratégica e logística por parte dos organizadores desse enorme emaranhado de eventos simultâneos que, em 2024, devem levar cinco milhões de foliões às ruas, segundo a RioTur.

Todas as informações sobre desfiles, com local e horário, estão no site oficial (www.carnavalderua.rio) e no aplicativo, novidade que ajuda a encontrar os blocos por geolocalização. A ‘Rio Já’ também quer participar da festa e traz uma lista com dez blocos de carnaval, privilegiando variar região por onde desfilam e estilo e, assim, contar um pouco da história do carnaval que ecoa pelas ruas cariocas.

Banda de Ipanema

Meu coração bate feliz quando vê a Banda passar e parar em frente à Igreja Nossa Senhora da Paz, em Ipanema. Esse momento solene, hora em que a bateria toca ‘Carinhoso’ acompanhada por milhares de vozes, é homenagem ao Pixinguinha repetida anualmente desde 1973, ano em que o compositor faleceu dentro da igreja, durante o desfile. Os foliões são avisados e, de improviso, declararam o seu amor. Amor ao grande Pixinguinha, amor ao bairro e à vida boêmia, a Banda de Ipanema, fundada em 1965, é um encontro entre notáveis – músicos, artistas, poetas, jornalistas – e milhares de não famosos que, juntos, ajudaram – e ainda ajudam – a escrever a história do bairro e do carnaval de rua. Tanto que em 2004, a Banda de Ipanema foi declarada oficialmente patrimônio cultural da cidade do Rio de Janeiro – o primeiro bem imaterial contemplado com esse reconhecimento.

 Cordão da Bola Preta

Uma linda mulher vestida de branco com bolas pretas, em 1918, inspirou os fundadores a escolherem o nome do bloco mais tradicional do carnaval carioca. O Cordão da Bola Preta é centenário e muito atraente: está na categoria dos ‘megablocos, aqueles que são acompanhados por mais de 100 mil foliões. Em 2024, são no total dez megablocos, que desfilam na Primeiro de Março, no centro da cidade, e possuem estrutura reforçada dedicada à multidão arrastada por eles. O Cordão do Bola Preta e seu hino “Quem não chora não mama”, de Nelson Barbosa e Vicente de Paiva, tornaram-se Patrimônio Cultural Carioca. E como a própria marchinha diz: Lugar quente é na cama ou no então no Bola Preta. Vem pro Bola, meu bem.

Nem Muda Nem Sai de Cima

Quando o amor pela Tijuca se materializa em banda, letras e foliões. Afinal, para os boêmios do bairro, localizado na zona norte do Rio de Janeiro, ter que se deslocar para outras regiões em busca de farra e folia durante o carnaval não fazia muito sentido. Assim, em 1995, no antigo Bar da Dona Maria, na rua Garibaldi, surge o bloco Nem Muda Nem Sai de Cima, com nomes de divindades cariocas como Aldir Blanc e Moacyr Luz entre os fundadores. As cores são vermelha e amarela e o tema dos desfiles não poderia ser outro: todos os anos um tijucano importante para a cultura carioca é homenageado.

 Bloco Meia Dúzia de Gatos Pingados

A banda é a Charangato, os foliões são os gatunos e a animação toma conta do calçadão de Bangu, na zona oeste da cidade. Há 11 anos, o desfile busca resgatar a tradição de carnaval de rua na região e, como dizem as redes sociais do bloco, já foram gastas sete vidas, mas, mesmo assim, seguem em frente. Seja com falta de dinheiro e com a pandemia, o Meia Dúzia de Gatos Pingados continua animado e disposto a espalhar música boa e diversão para todos.

 Bloco Loucura Suburbana

Transformar o preconceito contra a loucura em respeito, empatia e desejo de integrar-se é como os organizadores apresentam seu maior desejo ao ir para as ruas. O bloco reúne usuários, familiares e funcionários do Instituto Nise da Silveira e moradores de Engenho de Dentro que, desde 2001, com a fundação do Loucura, colocaram o bairro de volta ao circuito do carnaval popular ao som da bateria batizada de ‘A ensandecida’. Diversão garantida.

Bloco Carrossel de Emoções

Se os mais tradicionais preferem apenas marchinhas clássicas de carnaval, essa galera aqui quer samba, pagode, mas muito, muito funk. E a escolha musical fez sucesso. Em 2023, o Carrossel tornou-se oficialmente um megabloco, por arrastar uma multidão de foliões funkeiros, e, desde então, o desfile passa a ser no centro da cidade e não mais no local de origem, a Barra da Tijuca, na zona oeste da cidade.

Bloco Gigantes da Lira

Com o boneco Gigante da Lira (quatro metros), inspirado nos bobos-da-corte e nos bonecos olindenses, ao lado de personagens circenses e do teatro – entre pernas-de-pau, malabaristas, saltadores e outros – crianças e familiares divertem-se desde 1999 naquele que se apresenta como o primeiro bloco infantil da cidade. Este ano o tema que vai tomar a rua General Glicério, no bairro de Laranjeiras, é “Gigantes no país das maravilhas 2024”.

 Suvaco do Cristo

Morador do Jardim Botânico, Tom Jobim disse que tudo mofava na sua casa por viver debaixo do sovaco do Cristo. Assim, surge o nome do cortejo, abençoado e apadrinhado pelo Redentor com uma banda formada também por integrantes da escola de samba Mocidade Independente do Santa Marta. O Suvaco desfilou pela primeira vez em 1986, e se tornou peça fundamental para a revitalização do carnaval de rua na cidade. Nação suvaquense, suvaquentos, foliões apaixonados lotam a rua Jardim Botânico, entre o Bar Joia e o Baixo Gávea, desde então. Com samba próprio e cores verde, azul e branco, é um dos mais populares da cidade.

Cordão do Boitatá

A folclórica serpente de fogo, que protege as florestas dos incendiários, é o símbolo do bloco: o Boitatá. Fundado em 1996, a banda do Cordão reúne membros de orquestras sinfônicas e das baterias das escolas de samba, promovendo o encontro destes profissionais com jovens músicos do Morro da Serrinha e do Morro dos Macacos. E, segurando nas cordas, os foliões devotos ouvem marchinhas clássicas diversas acompanhadas de estandartes que reverenciam grandes nomes da cultura brasileira.

Bloco Lança Perfume

A lista termina com uma novidade obrigatória, já que a criatividade para o surgimento de blocos de rua cariocas é interminável. O Lança Perfume é em homenagem à cantora Rita Lee, que faleceu ano passado. Um grupo se reuniu para estudar o repertório da diva do rock e, assim, surge o bloco que promete todos os clássicos da artista, além de reverenciar a potência feminina, a força das mulheres. Força que em Rita nunca faltou.