CAMAROTES: A FAVELA SÓ CRESCE

Quaquá e a esposa, Gabriela Siqueira, são os anfitriões

Jan Theophilo

O Camarote Favela mudou de lado. Mas não pelos motivos que você, seu malvadinho, está pensando. A já conhecida Embaixada do Planalto na Sapucaí cresceu, receberá 1700 foliões contra os 1200 do ano passado e, em função disso, mudou-se para o Setor 5 – do lado oposto ao seu antigo point tradicional no Setor 2. “Agora o camarote passará a contar com três andares, áreas VIPs mais amplas e exclusivas e ainda mais conforto para quem quiser curtir também os nossos tradicionais shows”, explica Gabriela Lopes, uma das principais responsáveis pela organização do espaço, idealizado pelo professor de sociologia, ex-prefeito de Maricá e deputado federal Washington Quaquá, autor do livro “Da Favela ao Poder”. Segundo Gabriela, um dos destaques do espaço este ano será uma ampla frisa com open bar, de onde qualquer um poderá experimentar a sensação de estar praticamente dentro do desfile, assistindo a tudo bem de pertinho.

“Já temos confirmadas presenças de diversas autoridades, representantes de empresas públicas, ministros, deputados e deputadas, senadores. E esperamos também a visita do presidente Lula, que será muito bem-vinda caso passe o carnaval no Rio”, diz o deputado Washington Quaquá. Desde sua criação, o espaço funciona como uma espécie de materialização das pautas que Quaquá levou para Brasília em sua estreia no parlamento nacional, como a defesa da cultura afrodescendente do Rio, a cultura independente das favelas e, naturalmente, do samba.

E essa proposta vai mais uma vez evoluir da decoração ao cardápio, passando pela programação dos shows nos intervalos dos desfiles. O “casting” conta com apresentações de Thiago Martins na sexta-feira; do grupo Caju Pra Baixo no sábado, Suel no domingo, Grupo Clareou na segunda-feira e o grupo Bom Gosto no Desfile das Campeãs, além de participações “surpresa”. “Também teremos uma atração direto de Maricá, a cantora Jô Borges”, conta Gabriela.

“A gente continua sendo um camarote predominantemente corporativo, mas abrimos a venda avulsa desde o ano passado quando ele passou a ser um espaço maior. Mesmo assim os ingressos serão limitados para que não tenhamos nenhum desconforto e nossos serviços sejam bem aproveitados. Queremos ser um camarote cada vez maior e melhor, voltado para o público que quer efetivamente assistir aos desfiles, que são a grande estrela da Sapucaí”, explica Gabriela. Os ingressos podem ser adquiridos no site da Ticketmaster e dão direito a bar e comidas liberadas, transfer, um Espaço Beleza para quem precisar dar um tapa no cabelo ou na maquiagem, barbearia para os brabos e uma boate com tratamento acústico.

Gabriela adiantou ainda que é grande a expectativa para a repetição da parceria com a Ousadia, um sucesso dos últimos carnavais. “Mas faltam detalhes porque, em função da LIESA ter fechado com a Red Bull, e a bebida oficial da avenida ser a Brahma, precisamos de uma autorização especial’. Lançada pela Arbor Brasil, a mesma fabricante da Catuaba Selvagem, a Ousadia é uma vodka saborizada e refrescante que caiu no gosto do povo, com razoáveis 13,5% de teor alcoólico, e disponível em oito opções: Melancia, Blueberry, Limão, Morango, Pedacinho do céu, Iogurte, Pink Lemonade e Maçã-verde.

Este ano, o transfer também mudou, partindo agora do Novotel, em Botafogo. Com estacionamento no local, o espaço receberá os convidados a partir de 18 horas, a cada dia de desfile, para credenciamento, retirada das camisetas e customização (para quem quiser). O uso do transfer não é obrigatório, mas não haverá credenciamento na Sapucaí. Apenas o terceiro andar do camarote terá acesso restrito aos convidados do parlamentar. Mas, naturalmente, não é só com políticos que se faz um bom carnaval. Personalidades conhecidas nos meios artístico e cultural também vão evoluir pelo camarote.

AS FAVELAS EM NÚMEROS

Segundo a pesquisa Data Favela realizada ano passado pela Central Única das Favelas (CUFA), o número de comunidades no Brasil dobrou na última década, totalizando 13.151 mapeadas pelo país. A renda movimentada pela população dessas áreas também aumentou, e quebrou a barreira dos R$ 200 bilhões, R$ 12 bilhões a mais em relação ao ano anterior.

Atualmente, segundo o Data Favela, são estimados 5,8 milhões de domicílios em favelas com 17,9 milhões de moradores. Desse total, 5,2 milhões já empreendem, seis milhões sonham ter um negócio próprio, e sete em cada dez pretendem abrir um empreendimento dentro da favela. Apesar dos números expressivos, apenas 37% dos empreendimentos são formalizados e têm CNPJ.

Os dados mostram ainda que, ao longo deste ano, 6,5 milhões de pessoas pretendem comprar um imóvel, e 7,9 milhões têm intenção de adquirir móveis para casa. As informações reforçam que o principal sonho dos moradores de favela (34%) é ter uma casa própria, sendo que as mulheres (38%) são as que mais almejam a segurança da casa própria, enquanto 29% dos homens têm esse desejo.

Na sequência, aparecem como principal sonho ter um negócio próprio (13%) e ter saúde (10%). Já sobre educação, 7,9 milhões pretendem iniciar um curso profissionalizante, e 5,6 milhões um curso de idiomas. Porém, para 61% dos moradores que participaram da pesquisa o que falta para realizar as metas é mesmo dinheiro.

Segundo Ricardo Meirelles, fundador do Data Favela, a pesquisa deixa claro que a retomada econômica do Brasil vai começar pelas favelas, por elas terem na capacidade empreendedora sua matriz econômica. “A pesquisa é muito importante para acabar com os estigmas que existem sobre a favela. Lá, a grande maioria é trabalhadora, são as mulheres que lideram a economia, que cuidam dos filhos, dos outros. Na favela são os negros que formam a maior força econômica”.