CAMINHO NIEMEYER, EM NITERÓI, VAI GANHAR CATEDRAIS CATÓLICA E EVANGÉLICA

Aydano André Motta

Segundo maior conjunto de criações assinadas por Oscar Niemeyer no Brasil, o Caminho Niemeyer, que se estende por 11 quilômetros e quatro bairros na beira da Baía de Guanabara, em Niterói, ganhará agora a necessária marca da tolerância religiosa. Duas catedrais serão construídas no espaço, uma católica, consagrada a São João Batista, e a outra evangélica, da Assembleia de Deus, para materializar, na prática, a lição da convivência entre os credos.

O projeto da catedral católica, assinado pelo próprio Niemeyer, ganhou a bênção do Papa João Paulo II, em outubro de 1997. Ficou arquivado durante longo período até ser retomado em 2012, a pedido de Dom

José Francisco, arcebispo metropolitano de Niterói. As obras começaram em outubro de 2014.

A área total, de 13,6 mil metros quadrados, terá capacidade para receber cinco mil pessoas na parte interna e 15 mil na externa. A nave central terá 80 metros de diâmetro; a cúpula, 60 metros. Haverá ainda museu de arte sacra, arquivo, teatro, espaço cultural, livraria e café. Cerca de 30% da Nova Catedral estão concluídos, segundo a Arquidiocese de Niterói, mas ainda não há previsão de inauguração – o trabalho depende de doações.

A construção evangélica ocupará 7,3 mil metros quadrados, em projeto concebido pelo escritório Oscar Niemeyer. A ideia surgiu em 2002, mas só agora começa se concretizar. A seleção da Assembleia de Deus para ocupar o espaço se deu por edital, “observando a impessoalidade”, informa o procurador-geral da cidade, Francisco Soares. A denominação foi a única a manifestar interesse.

O prefeito Axel Grael destaca que a catedral de uma igreja evangélica no Caminho Niemeyer faz parte da percepção inicial do espaço. Ele lembra que, com o Plano Niterói 450 anos, o Centro será revitalizado com mais atrações de apelo turístico e atividades aglutinadoras – daí a presença religiosa faz todo sentido. Assim como o templo católico, a

obra será custeada por doações dos fiéis.

Iniciado em 1996, a partir do convite da Prefeitura ao arquiteto para projetar uma praça em homenagem a Carlos Drummond de Andrade, o Caminho Niemeyer é um orgulho niteroiense hoje no patamar da Praia de Itacoatiara, da qualidade de vida e do italiano, o lanche-emblema. Na

parte do Centro, fica a Praça do Povo, onde estão o Teatro Popular, o Memorial Roberto Silveira, a Fundação Oscar Niemeyer, a Praça Juscelino Kubitschek. Lá, ocorre, desde 2022, o desfile das escolas de samba.

A estrela do complexo é o MAC (Museu de Arte Contemporânea), construção monumental envidraçada, no alto da falésia do bairro de Boa Viagem, com vista despudorada para a orla, as montanhas, a Baía e o Rio de Janeiro. Comparado a um cálice e a um disco voador, virou símbolo da cidade. O Caminho termina na Estação das Barcas de Charitas, na Zona Sul.

Apenas Brasília tem mais criações de Niemeyer do que Niterói. A posição em ranking tão virtuoso é mais um orgulho dos habitantes da capital do antigo Estado do Rio.