ARTE: THEATRO DE TODOS

O Theatro Municipal tem uma Oficina de Desenho voltada ao público infantil

Luisa Prochnik

A beleza imponente do Theatro Municipal vista por muitos como pouco convidativa, intimidadora, mostra-se cada vez mais democrática. Pense em um verbo e lá, no Theatro, ele poderá ser conjugado: encantar-se, visitar, desenhar, ouvir – palestras, cursos, shows em espaços diversos – fotografar, admirar, conhecer e viajar… no tempo. O Theatro se multiplica para dentro, abrindo todos os seus espaços ao público, e para fora, com mostras itinerantes pelo Estado e exposições em outros locais da capital.

O programa em família é uma ida ao Theatro. Roupas esportivas, de dia e com uma mochila cheia de lápis coloridos, pilots, papeis em branco e pranchetas. O foco de hoje não é o palco principal, com seus balés e óperas, mas também ele, junto e misturado a vitrais, estátuas e acervo expostos nas escadarias e no foyer. E os artistas em ação não são músicos e bailarinos, mas as crianças, munidas de seu material, desenham o Theatro Municipal enquanto ouvem sobre sua história, aprendem sobre os artistas que o idealizaram, o coloriram, o frequentaram. Um programa sem espetáculo, mas para conhecer e curtir o Theatro Municipal em uma Oficina de Desenho voltada ao público infantil.

— O Theatro é uma referência no centro do Rio, é um patrimônio nacional. Quando se abre qualquer porta do Theatro, certamente alguém vai parar e olhar para dentro. E, hoje, a gente tem o movimento de convidar essa pessoa a entrar. Nem que seja para tirar uma foto, a pessoa entra e vem.

A responsável pelo convite é Clara Paulino, que ocupa a presidência do Theatro Municipal desde janeiro de 2021. Graduada em História, tem toda a sua carreira atrelada à pesquisa e à gestão cultural, dedicada à preservação do patrimônio cultural. Clara Paulino já foi presidente da Fundação do Museu da Imagem do Som e, há quase três anos, vem com a equipe do Theatro e com novas parcerias elaborando e implementando projetos que ocupam espaços, todos os espaços possíveis dentro e fora da imponente construção na Cinelândia, centro do Rio. Um marco importante para essa retomada tanto do público cativo após a pandemia como de pessoas que nunca frequentaram o Theatro foi o edital Municipal em Cena, lançado no fim de 2021, que beneficiou 40 projetos, com incentivo de R$ 80 mil para cada, totalizando R$ 3,2 milhões.

A palavra de ordem é democratização. O Theatro Municipal é de todos, para todos. Por mais reverências que mereça, e merece por sua beleza, o Theatro só fica completo quando todos são bem-vindos por lá.

Convite feito, espaços ocupados. A área gradeada na lateral do Theatro Municipal recebe o ‘Boulevard de Portas Abertas’, semanalmente, às quartas. O Theatro fornece lanche, estrutura e transporte, se necessário. E o músico ganha um espaço nobre para a divulgação do seu trabalho. Em um salão lindíssimo, no subsolo, todo sustentado por colunas que terminam com cabeças de touro, em estilo persa, onde já funcionaram um museu e um restaurante, acontece duas vezes por mês o ‘Música no Assyrio’. Lá se apresentam músicos da orquestra do Theatro que levam seus grupos para tocarem de dia, apresentação antecedida por um café-da-manhã. O Theatro é todo tomado por crianças, jovens e adultos em visitas guiadas e temáticas. A sala Mário Tavares também tem sua programação com palestras de grandes profissionais nacionais e estrangeiros – como maestros e coreógrafos – e apresentações diversas. O foyer tem lugar para pequenas exposições, que dividem espaço com o piano de Chiquinha Gonzaga. Até a escadaria do Theatro Municipal já foi ocupada. Em comemoração ao Bicentenário, a ópera Domitila, de João Guilherme Ripper, aconteceu ali, em um lugar monumental, mas, normalmente, usado para passagem e selfies.

– A ideia é que as pessoas poderiam realizar suas produções em áreas distintas na sala de espetáculo. Se elas quiserem realizar na sala de espetáculo, tudo bem. Mas, com isso, conseguimos fazer com que outros produtores viessem ocupar outros espaços – explica Clara Paulino.

A estratégia de multiplicar os programas culturais vem dando certo. Já houve aumento de público em todas as atividades, que também tiveram em alguns casos, como das visitas, preços reduzidos para democratizar o acesso. Aliás, essa é a expressão de ordem: democratização. O Theatro Municipal é de todos, para todos. Por mais reverências que mereça, e merece por sua beleza, o Theatro só fica completo quando todos são bem-vindos por lá.

E se até lá não puderem ir, o Theatro vai ao encontro de todos, dar umas voltas pelo Estado do Rio de Janeiro. Mostras itinerantes levam acervo e histórias para outras cidades além da capital. Tem também as ‘Quintas Musicais’, evento mensal, quando o Theatro Municipal vai ao Retiro dos Artistas com apresentações de canto, coro e balé abertas ao público. Uma forma de proporcionar eventos artísticos para aqueles que durante muitos anos nos ofereceram arte, completa, sorrindo, a Clara Paulino. Ela ainda cita um iluminador que trabalhou anos no Theatro e, numa das apresentações do Retiro pôde, novamente, promover a iluminação de um espetáculo.

As linhas dedicadas a esta matéria terminam antes de conseguir citar todos eventos e atividades que acontecem em um lugar até então mais famoso por seu palco principal, lustre, frisas e camarotes. Cursos de pós-graduação em dança, colônia de férias para crianças montarem suas próprias peças, podcast, canal no youtube e parceria com universidades. Parcerias que trazem jovens para a plateia e novas ideias para o Theatro. Mais ideias? Sim, mais, muito mais. Manter o calendário é um desafio, mas uma constante atualização de eventos e formatos é importante para manter público fiel e atrair novos interessados à casa. Uma casa de portas abertas com ‘T’ maiúsculo de Teatro. Ou, mais apropriado, “TH”.