EDITORIAL: DOIS PERSONAGENS DE UM RIO QUE DÁ CERTO

POR RICARDO BRUNO

O compromisso de mostrar o Rio através de seus personagens é uma das missões do jornalismo da Rio Já. A construção político-cultural da cidade se dá pela produção objetiva de seus atores centrais. São eles, pelo discurso, pela obra, enfim por suas manifestações, que erigem o perfil antropológico das sociedades no decorrer da história.

Estão neste grupo de agentes da gradual e ininterrupta transformação do Rio, o prefeito Eduardo Paes e o multitalentoso Renato Aroeira. Cada um em seu metiê, ambos operam essa benfazeja mutação em direção ao desenvolvimento do capital humano e das potencialidades econômicas da cidade

Aroeira é um mineiro de alma carioca com características singulares. Tornou-se conhecido nacionalmente por seus traços rebeldes. Seguramente, é um dos mais talentosos chargistas do País. Poucos conseguem exprimir em sua produção criativa, com impressionante precisão, os sentimentos latentes na sociedade brasileira diante de fatos do cotidiano.

Por décadas, emprestou seu talento às páginas de O Globo e depois O Dia. Os leitores da versão impressa, hoje em extinção, acostumaram-se à rotina de encontra-lo pela manhã, muito provavelmente durante o café, através de charges antológicas. Seus traços surpreendem pela capacidade de reunir informação, humor e crítica.

De tradicional linhagem de artistas e intelectuais mineiros – o bisavô, médico doublê de pianista; o avô, professor de desenho; o pai, jornalista – Aroeira reuniu em si todas as qualidades da família. É também saxofonista dos bons.Enfim, um personagem multitalentoso.

Recentemente,  foi alvo da ira bolsonarista por retratar a criminosa apatia do presidente diante da pandemia. Transformou numa suástica o abraço de Bolsonaro no premiê israelense Benjamin Netanyahu. Recebeu uma saraivada de ataques nas redes sociais e um processo do advogado Rodrigo Fux, filho do ministro do STF, Luiz Fux. Depois, arquivado pela inconsistência do dano moral alegado.

A reportagem sobre Aroeira inaugura a sua presença nas páginas da Rio Já. Para nosso júbilo, a partir desta edição, ele será um colaborador regular da revista. A chegada de Aroeira é razão para festa. Tê-lo entre nós é motivo de orgulho.

O outro personagem desta edição é o prefeito Eduardo Paes – responsável pelas principais intervenções urbanísticas na cidade nos últimos anos. Uma espécie de Pereira Passos redivivo, Paes é também um protagonista, influente e expressivo, da cena política nacional.

Se já reunia predicados para administrar a cidade, agora se mostrou também um zeloso dirigente partidário na administração do PSD fluminense. Finalmente, entendeu a importância das máquinas das agremiações políticas na construção de projetos consistentes.  Se antes, era só administrador; hoje conjuga o trabalho com a delicada e complexa tarefa das tessituras de acordos e alianças.  Em síntese, fez-se também um articulador.

Articula, por exemplo, uma candidatura única juntando Felipe Santa Cruz e Rodrigo Neves ao Governo do Rio. Sonha com uma chapa apoiada pelo ex-presidente Lula, que teria o petista André Ceciliano como candidato ao Senado. E oferta, em troca, o apoio à candidatura do ex-presidente já no primeiro turno.

O prefeito não crê nas potencialidades eleitorais de Marcelo Freixo, de quem gosta pessoalmente. Acha que não será instantânea – tampouco através do marketing eleitoral – a conversão do deputado, egresso do Psol, em um político de centro, dotado de equilíbrio ideológico para administrar um estado com a complexidade do Rio.

Nesta edição, o prefeito deixa entrever a disposição de remodelar o sistema de transporte coletivo da cidade, hoje capturado por empresários sem qualquer compromisso com a qualidade dos serviços. Após ter encampado o sistema BRT, vai novamente licita-lo em busca de novos parceiros na iniciativa privada. Se não conseguir atrair interessados, vai administrá-lo através do MobiRio, a estatal criada para a tarefa. Visivelmente, ele está se preparando para o desafio.

Paes e Aroeira são personagens distintos nesta construção coletiva de um Rio culturalmente ativo, socialmente progressista e economicamente desenvolvido. Junta-los nas páginas desta edição denota mais uma vez o nosso compromisso de mostrar o Rio que dá certo.