Bruno Agostini
O Polvo Bar, pra dizer a verdade, nasceu quase que no improviso. Não tinha nem fogão gás: era no cooktop que comida era preparada, numa cozinha minúscula; e as mesas ocupavam, basicamente, a calçada, com quase nenhum lugar no minúsculo salão, sem qualquer estrutura. A comida, mesmo assim, sempre foi muito boa.
O grande sucesso foi inversamente proporcional ao tamanho.do lugar, que fazia da rua General Polidoro o seu salão, algo tão carioca.
Lembro de encontrar com a chef Monique Gabiatti, alguns meses atrás, anunciando a incorporação da loja vizinha. “Agora, o Polvo Bar vai ter espaço, com cozinha e salão”, comemorou.

É aquela velha história: o que já era bom, agora ficou ainda melhor. O novo salão está simpático, com decoração minimalista que remete aos temas marinhos, com destaque para o cantinho reservado ao fogareiro com a paella (esse é o nome tanto do prato quanto da caçarola em que é preparado: paellera é um neologismo sem nenhum sentido). Agora, ele não será mais preparada na calçada.

É possível reservar a mesa da chef, com vista para a cozinha através de um vidro redondo que remete a uma escotilha náutica. E, assim, nosso barco começa a navegar.
O primeiro passo nessa regata de sabores foi ul tartare de atum, seguido por um ceviche de peixe do dia, com leite de tigre de ají amarillo, que estava simplesmente sensacional, fresco e picante na medida exata, com a sorte de o pescador ter entregue naquela data um pargo incrível, muito delicado.
Pois logo chegaram os mexilhões a la chalaca, um dos meus preferidos daquela noite: servidos na concha, os moluscos foram cortados em pequenos pedaços, com temperos e complementos como milho verde e aioli. São itens da primeira parte do menu, o chamado balcão frio.
Há, ainda, seções chamadas de tacos e tostadas; friturinhas; brasa; cozinha quente e pratos principais, além de duas sobremesas (pavê de bombom e bolo gelado de coco). Deixei o menu no fim do post.
Alguém na mesa queria provar o caldo de sururu, e agradeci o pedido, que voltar lá pra repetir, assim como o ceviche e os mexilhões citados. Caldo rico, perfumado e cheio de sabor.
Em seguida, um dueto de conchas, com lambretas à francesa, que vão ao forno com manteiga de ervas, à la Bourgogne, com alho e salsinha; e mais mexilhões, dessa vez com
Fiquei feliz em saber que a famosa coxinha de polvo, que só está servida às quartas, agora está no menu regular, em versão menor, para a gente poder comer mais de uma.
Com o salgado, comecei a usar a boa pimenta da casa, como já havia feito quando tomei o caldo de sururu. A casquinha de siri tem uma espuma de batata com Catupiry que lhe traz uma saborosa textura de veludo.
A espetada de polvo recebe ao final um véu de lardo da charcutaria Porco Alado, de Nova Friburgo. Vale lembrar que a chef Monique Gabiatti está apostando em charcutaria do mar, e no momento desenvolve uma morcilla de lula em sua tinta.
Falamdo no molusco, a etapa seguinte foram lulinhas cacio e pepe, uma combinação que pode parecer que não funcionaria, mas que deu muito certo, trazendo pro prato untuosidade e picância, numa combinação que curti. Aqui, vale destacar a notável textura das lulinhas de Arraial, que são sempre muito bem trabalhadas por Gabiatti – víde as que ela serve no Belisco.
Fechamos com a charcutaria do mar, com uma linguiça de peixe que é resultado do aproveitamento integral dos ingredientes.
– Usamos as aparas dos peixes, a gente não desperdiça nada. Temos vários fornecedores de pescados, aqui do Rio de Janeiro. A gente valoriza muito essa matéria-prima, e temos imenso respeito pelos alimentos- diz a chef.
O Polvo Bar agora está maior e melhor. Uma delícia é velejar por esse menu pra Netuno nenhum botar defeito.
SERVIÇO
Polvo Bar: rua General Polidoro 156, Botafogo. Instagram: @polvobar









