TEM CACAU, MAS FALTA CHOCOLATE

O Brasil é o sexto maior produtor de cacau do mundo

Chico Junior

Pode ser que eu esteja enganado, mas imagino que, embora tenha gente que não goste, ou que não dê muita bola, a maioria das pessoas gosta de chocolate.

E, como todos sabemos, o chocolate vem do cacau, mais especificamente, de suas sementes, chamadas de amêndoas, que passam por um processo que inclui  fermentação, secagem, torra, moagem, refino e conchagem, seguindo mais ou menos a mesma logística de beneficiamento do café.

O Brasil é o sexto maior produtor de cacau do mundo, atrás de Nigéria, Camarões, Equador, Gana e Costa do Marfim. Por aqui, Bahia e Pará disputam o título de maiores produtores nacionais. 

Estudos internacionais apontam que a produção de cacau mundial tende a diminuir — por diversas razões, inclusive as mudanças climáticas, o que vai, cada vez mais, aumentar o preço de todos os insumos para produção de chocolate e, consequentemente, isso resulta no alto valor para a iguaria doce mais amada do mundo, principalmente aquele fabricado com amêndoas de alta qualidade. 

Assim, quem tem cacau “em casa”, tem um bom negócio, presente e futuro.

E tem cacau no Estado do Rio de Janeiro? Até tem, mas nada comparável ao que existe na Bahia e no Pará, por exemplo. Temos pés de cacau em Paraty, Angra, Guapimirim, Magé, Cachoeiras de Macacu, Bom Jesus de Itabapoana e região e no corredor que se estende de Casimiro a São Gonçalo. Há propriedades com 150 pés e outras com 30 mil pés de cacau, o que é um número bem razoável.

Mas vários destes proprietários de cacaueiros não sabem muito bem o que fazer com os frutos.  Como é o caso de Carlos de Freitas, proprietário da Fazenda do Cacau, em Cachoeiras de Macacu, que tem 30 mil pés, plantados há cerca de 30 anos pelos antigos proprietários.

“Os pés de cacau estão aí, mas eu nunca mexi com cacau. Mais recentemente, porém, comecei a pensar na possibilidade de escoar esses frutos comercialmente. Estou com um projeto, já em andamento e procurando investidor, para instalar, aqui na fazenda uma fábrica de chocolate”, diz Carlos, que comprou a propriedade há 16 anos.

Em Paraty, o problema é o mesmo: tem cacau, mas não habilidades com o manejo para o fruto, e também não há escoamento da produção. Os produtores, na tentativa de entenderem o beneficiamento, têm feito alguns experimentos e buscam alternativas para se aprofundar no entendimento da dinâmica com o cacau.

Mas já há alguns até fazendo chocolate no estado, a partir dos seus cacaueiros, como Rodrigo de Moraes, do sítio Baobá, de Rio Bonito, que tem 500 pés e produz artesanalmente, em escala bem pequena, barras de chocolate 70% cacau.

Para incentivar a produção de cacau e chocolate no Estado do Rio de Janeiro, a chocolateira e estudiosa do cacau Patrícia Nicolau, que também é porta-voz do Slow Food Cacau e Chocolate, criou o grupo Chocolateiros do RJ, que reúne produtores de cacau, pesquisadores, produtores de chocolate, apreciadores de bons chocolates, sommelieres e pessoas interessadas em colaborar com o crescimento da cadeia do cacau no RJ. Ela tem viajado pelo estado para conhecer as produções e transmitir seus conhecimentos sobre a produção de cacau e chocolate.

Nas suas andanças, chegou a Guapimirim, onde conheceu e “juntou” um grupo de sete pequenos produtores, com o objetivo de produzir amêndoas de alta qualidade para a produção de chocolate.

“Trocando informações e experiências com os produtores, trabalhamos na capacitação das pessoas e melhora dos processos de cultivo, colheita e beneficiamento do cacau, com o objetivo de, não só escoar a produção, mas também, e principalmente, a produção de chocolates finos”, diz Patrícia. A associação formada por esses pequenos produtores (alguns já produzem chocolateartesanalmente) partiu, então, para a instalação de uma pequena fábrica de chocolate, que deve começar a operar em maio/junho deste ano, sendo a primeira fábrica de chocolate tree to bar (da árvore para a barra, na tradução literal) de uma associação de agricultura familiar do estado do Rio. Patrícia produz chocolate com amêndoas vindas de uma fazenda de Bom Jesus do Itabapoana.