RIO NA IDADE MÉDIA? SÓ MESMO NESSA FEIRA

Frequentadores vão fantasiados ao evento

Luisa Prochnik

Dos contos de princesas em seus castelos, passando por batalhas relatadas em livros de história, a cultura medieval permeia o imaginário de muitos até os dias de hoje. Basta a ver a proliferação de livros, filmes e séries que buscam símbolos e significados desse período e atraem milhões de fãs e espectadores. Na Feira Medieval do Rio, apaixonados por esses múltiplos cenários, mitos, lendas e tribos diversas se dividem entre os que estão lá para expor, apresentar e vender sua arte a visitantes fantasiados.

Se você tivesse que se fantasiar de algum personagem, qual escolheria? Os frequentadores da Feira Medieval Carioca, que acontece, regularmente, em diversos pontos da cidade do Rio de Janeiro, têm várias maneiras de responder a essa pergunta. Guerreiros, camponesas, membros de tribos celtas ou vikings, personagens presentes em livros, filmes e séries, como magos e bruxas de ‘Harry Potter’, elfos do ‘Senhor dos Anéis’, entre outros. A última edição, realizada no Parque das Ruínas, em Santa Teresa, reuniu o imaginário da cultura medieval representado e recriado em barracas de comida e bebida, roupas e adereços, música, dança, exposição de livros e muito mais.

—A feira é interessante porque é muito lúdica. É algo que permite fugir um pouco do comum e entrar no mundo medieval. As pessoas podem mudar a si mesmas e se transformar no que elas quiserem – explica Hélio de Moura, antigo frequentador.

Hélio está em uma das barracas que vende hidromel — considerada a bebida mais antiga do mundo — acompanhado de sua caneca bem generosamente enchida por Célio Miotto Filho, dono da marca ‘Sleipnir Hidroméis’. Sleipnir é o lendário cavalo de oito patas do Deus Odin, da mitologia nórdica.

Célio conheceu a fama do hidromel em livros e séries recheadas de referências da cultura medieval, e também como jogador de RPG.

— A lua-de-mel tem esse nome porque, antigamente, eles bebiam uma bebida feita de mel, que é o hidromel, no período de 28 dias, que corresponde ao ciclo lunar, que sucedia o casamento. Eles acreditavam que assim todo o ciclo lunar após o casamento traria boa sorte ao casal. Então, ficou associado à lua, pelo período de 28 dias em que era consumida essa bebida.

Durante a conversa, um espaço aberto e circular do Parque das Ruínas transforma-se em arena com luta de espadas. A referência ao período medieval, neste caso, fica restrita apenas aos trajes e aos movimentos – a espada é de PVC e acolchoada com espuma de polietileno.  Quem conta tudo isso é Juan, membro do ‘Clã Escorpiões do Deserto’, autodenominada equipe de esportes amadora. Juan era um dos combatentes, na arena, na atividade chamada de Swordplay.

— Nas arenas de combate de eventos em que a gente participa, a gente traz os nossos equipamentos para ficarem disponíveis ao público. Então, a gente traz opção para as pessoas de lecionar a esgrima, em um nível básico, e aí entra em combate, chama amigos e família para lutar entre si e é sempre uma brincadeira muito divertida – completa Juan.

Em um lugar repleto de visitantes fantasiados, roupas e adereços estão presentes em barracas que fazem muito sucesso. Em uma delas, na Michelle Ghenre, um vestido branco chama a atenção: é inspirado no casamento da cultura celta.

— A blusa com essa manga esvoaçante, a saia em três camadas e esse repuxado com as flores na frente e mais o corset. É um figurino versátil, porque, como são três peças, pode usar uma outra saia com essa blusa, o corset com um vestido – enumera Michelle, estilista e produtora dos diversos modelos à venda. 

Michelle também é cosplay em outros eventos, que é uma performance onde os participantes usam fantasias para representar outros personagens. Uma atividade que muitas vezes começa como hobby, como é o caso de muitos frequentadores das feiras, mas pode acabar virando uma profissão, o que aconteceu com Nick Ribeiro, cosplay e cosmaker, por também ser a responsável por produzir – e vender – suas próprias fantasias, como a que está vestindo hoje.

— Eu escolhi o Thranduil, que, no caso, aparece nas obras cinematográficas do ‘Senhor dos Anéis’ e ‘O Hobbit’. E esse figurino que estou usando hoje é do último filme da trilogia, que é o ‘Hobbit: a Batalha dos Cinco Exércitos’. O meu personagem é pai do Legolas – explica referindo-se à amiga ao seu lado, fantasiada de seu filho na história.

No caso dos adereços, uma das barracas presentes na Feira, por si só, já revela fatos de uma época.

— É um modelo histórico do século XV para trás, que foi usado pelos Vikings. É uma barraca mercante – conta Alex ao lado de sua esposa Priscila. O casal faz parte de um grupo de recreação histórica chamado ‘Ordem das Flores’.

A ‘Ordem das Flores’ recria cenas e ambientes a partir de estudos compreendidos entre 1380-1430, no eixo Inglaterra e França. Inspirados em tudo que representam, Alex e Priscila produzem todos os itens à venda, entre eles um cantil feito a partir de cera de abelha, que impede vazamento de líquido.

O evento conta também com shows musicais e danças. No palco, Flávia Requim interpreta músicas conhecidas com arranjos em um estilo próprio, que ela chama de estilo Rèqŭim, em referência ao seu sobrenome, com acentos existentes na cultura nórdica. 

Após circular entre as barracas um gavião – na verdade “uma gavião”, a Sabrina — chama a atenção. Ao se aproximar, estão lá ‘Os Faunáticos’, um grupo de pessoas apaixonadas por animais silvestres, sendo alguns exóticos. O grupo possui licença e todos os animais são legalizados e estão sempre acompanhados de biólogo e veterinário. As fundadoras são mãe e filha, que conheceram há pouco tempo animais como as cobras jiboia e piton, paixão de Amanda, a filha, vestida de bruxa, e a coruja da espécie suindara, paixão da Sheila, a mãe, fantasiada de elfa da floresta com o cajado onde o animal se apoia. Sheila é pedagoga e Amanda é psicóloga. Elas fazem eventos em escolas de educação ambiental e curtem as feiras medievais. Elas, as aves e as cobras e a Sabrina.