Jan Theophilo
O futuro já começou. Ou, para ser mais preciso, ele engatou a primeira marcha agora no fim de março, quando o prefeito de Maricá, Washington Quaquá, acertou a compra de 10 projetos inéditos do renomado arquiteto Oscar Niemeyer. Com todas as obras concluídas, Maricá se tornará a segunda cidade com mais projetos do arquiteto no país, atrás apenas de Brasília. Atualmente, a cidade conta apenas com a assinatura dele na Casa Darcy Ribeiro, que virou museu. “Dinheiro já tem, que é o mais importante. Nós vamos investir algo em torno de R$ 3 bilhões em todas as obras do Oscar Niemeyer. É muito pouco, para uma cidade que arrecada, que tem um orçamento de R$ 7 bilhões/ano, e que vai fazer desse dinheiro, não demagogia, mas um legado permanente para a história da cidade”, afirmou Quaquá.
“Maricá tem uma energia que se alinha com a visão revolucionária do meu avô. Essa parceria não foi um acaso, mas uma convergência natural. Temos mais de 200 projetos inéditos e queremos executá-los em locais que possam transformar vidas”, diz o neto do arquiteto, Carlos Eduardo Niemeyer. O “pacote” inclui museus, hotel, novos quiosques para a orla, monumentos, uma nova sede administrativa e até um estádio de futebol. E no dia da assinatura do contrato, outro equipamento foi anunciado. “O padre Omar e o reitor da PUC-Rio, padre Anderson Pedroso, vão escolher um projeto de igreja que será a Catedral de Santo Anchieta, o segundo padroeiro do Brasil, que fez em Maricá o milagre que ficou conhecido como a Multiplicação da Pesca”, disse o prefeito.
Segundo registros, em 1584, o padre José de Anchieta (quarto santo brasileiro, canonizado em 2014) foi procurado por um grupo de tupinambás que se queixavam da falta de peixes na Lagoa de Maricá. O santo então apontou uma determinada região onde os nativos encontrariam peixes em variedade e abundância. Os tupinambás pagaram para ver, e o que era carestia virou fartura. O projeto da catedral será definido entre os meses de maio e junho.
A Prefeitura pretende iniciar as primeiras construções ainda este ano, priorizando o Museu de Arte e o Teatro Ballet de Cuba, este fruto de uma parceria que o tornará a primeira filial brasileira do famoso Balé Nacional de Cuba. A academia de dança cubana ficou famosa principalmente graças à bailarina Alicia Alonso, que faleceu em 2019 aos 98 anos. Alonso adaptou as técnicas clássicas do balé a características da cultura latina, criando um estilo único e cativante. Agora, essa mesma essência chegará a Maricá, permitindo que os brasileiros tenham acesso a essa tradição artística. A meta do prefeito Quaquá é entregar todas as obras até o fim de seu mandato, em 2028.
Niterói, uma das cidades vizinhas de Maricá, é um exemplo do impacto da arquitetura de Niemeyer na economia local. Com o Caminho Niemeyer, um circuito de 11 km de obras do arquiteto, atrai turistas e valoriza sua paisagem urbana. O Museu de Arte Contemporânea (MAC), inaugurado em 1996, tornou-se um símbolo da cidade. A iniciativa de Maricá pode replicar esse sucesso, transformando a cidade em um novo destino para admiradores da arquitetura e fomentando seu crescimento econômico e cultural. Se todos os projetos forem erguidos, Marica se tornará a segunda cidade com mais obras do arquiteto no país, atrás apenas de Brasília — com pelo menos 50.

Dentre os projetos, cinco já tem localização definida: o Teatro Ballet de Cuba será construído em Araçatiba, ao lado do Fórum da cidade, com capacidade para 1.000 espectadores; o Memorial João Goulart ficará em um terreno da família do ex-presidente, em Ponta Grossa; o Museu de Arte de Maricá (MAR) será instalado em frente ao Parque Nanci, no Retiro e o Museu da Paz e Utopias será erguido no Morro da Entrada dos Cajueiros, com salas de exposição e estudos. A escolha dos curadores responsaveis pela consolidação dos acervos destes equipamentos está em fase final de seleção.
Já o Estádio João Saldanha, que será erguido em Inoã, faz parte de um projeto mais ousado e, de certa forma, atrelado a outra iniciativa da cidade, que foi a criação do Maricá Futebol Clube. Hoje, em Cordeirinho, existe um pequeno estádio também batizado como o nome do João Sem Medo com capacidade para duas mil pessoas. A ideia é que ele seja construído em etapas. Caso o time local, cuja camisa lembra a bandeira de Cuba, avance na série D do Brasileirão deste ano, o atual estádio terá sua capacidade dobrada enquanto o novo caldeirão não fica pronto. Mas a ambição dos boleiros de Maricá não é de time pequeno: o novo estádio terá capacidade para nada menos que 30 mil torcedores, com camarotes, lojas, restaurantes e bares.
Para o secretário de Cultura e Utopias de Maricá, Sady Bianchin, os projetos quando prontos colocarão Maricá como um dos principais pontos turísticos do Brasil. “Principalmente pelas representações simbólicas que Niemeyer tem como sentido em sua estética e arquitetura. Para ele, o mais importante era a vida, os amigos, e esse mundo injusto que nós devemos sempre estar a modificar. Maricá jamais será a mesma”, diz Sady.

AS OBRAS
1. Estádio João Saldanha: maior investimento, com custo de R$ 22 milhões. A arena para 30 mil pessoas terá lojas, restaurantes e bares, sendo instalada na Fazenda União, em Inoã.
2. Hotel Maricá: com R$ 12,1 milhões investidos, será um dos novos atrativos para o turismo local, acompanhando o crescimento econômico da cidade.
3. Museu de Arte de Maricá: terá 10 mil m2 e ficará em frente ao Parque Nancy, com exposições fixas e itinerantes. O investimento foi de R$ 4,5 milhões.
4. Teatro Ballet de Maricá: centro de referência para dança e artes cênicas, será erguido ao lado do Fórum, com capacidade para mil pessoas e um custo de R$ 3,51 milhões.
5. Centro Administrativo: reunindo setores estratégicos da prefeitura, busca modernizar a gestão e facilitar o atendimento ao público. O custo foi de R$ 12,48 milhões.
6. Monumento à Paz: localizado no Morro da Entrada dos Cajueiros, simbolizará a harmonia e o desenvolvimento sustentável. O investimento foi de R$ 2,54 milhões.
7. Centro de Convenções: espaço para feiras e congressos, fomentando o turismo de negócios. O projeto custou R$ 9,89 milhões.
8. Teatro Municipal: ainda sem local definido, será um centro cultural para artes cênicas, com um investimento de R$ 5,47 milhões.
9. Memorial João Goulart: homenagem ao ex-presidente, será construído na Ponta Grossa/Parque Nancy, contando com espaço para exposições e documentos históricos. O custo foi de R$ 1,16 milhão.
10. Quiosques na orla: modernização estrutura da orla da cidade com investimento de R$ 198 mil.