JOBI APRESENTA SEU FILHOTE: JOBÁ, A CADA DIA EU TE QUERO MAIS

Polvo à lagareiro, uma das estrelas do menu

Jan Theofhilo

É no mínimo um trocadilho de gosto duvidoso. Mas o Jobá, primeiro filhote do badaladérrimo Jobi, ponto de encontro da boemia da Zona Sul, teve seu nome chupado do hit chiclete de 1986 da banda francesa de música catalã Gipsy Kings: “Djobi Djoba/Cada día yo te quiero más/Djobi Djobi, Djobi Djoba/Cada día yo te quiero máááás”. Gosto não se discute, dizem alguns. Mas se uma comida é boa ou não, sim. E a intrépida equipe de reportagem de Rio Já, que não corre, avoa, assim que soube da novidade partiu para experimentar as delícias do novo restaurante do Leblon.

Ainda nem haviam retirado a cobertura do letreiro no dia da nossa visita. As mesas são poucas, em um projeto de Chicô Gouveia, que manteve as cores verde e vermelha, azulejos e atmosfera aconchegante. Um barato é a diversidade de torneiras de chopes, que te remetem a um pub inglês, e podem ser da Brahma (R$ 10), Stella Artois (R$ 14), Colorado Ribeirão (R$ 14), Hoegaarden (R$ 16) e Goose Island (R$ 16)

O Jobá fica praticamente do lado do Jobi, para quem não sabe, um negócio familiar, tocado por três mulheres: Nana Rocha, Elina Rocha e Dona Serafina. “Já dei consultoria para inúmeros restaurantes, mas dessa vez aprendi muito com a família. Foi um desafio buscar o equilíbrio entre a personalidade forte das três e mais as minhas sugestões! Portanto o resultado é um cardápio nato de boteco, com algumas nuances, mas bem diversificado, com opções para todos os gostos”, conta o chef Ronaldo Canha.

Paulo, meu companheiro nesta aventura, pediu um chope, que se provou a altura do servido no lendário Jobi. Mas como nossos leitores já sabem que sou destemido, pedi ao simpático garçom uma dica de aperitivo. Ele sugeriu o Negroni pré-pronto da casa, que em breve deve ser vendido em garrafinhas. Bem, se até lá acertarem o ponto. Não que fosse de todo ruim, é verdade, mas ao menos poderia ter o tom de vermelho intenso que caracteriza o drink, em vez de um marrom terroso.

Resolvemos então partir para as preliminares pedindo uma boa punheta (R$ 42). Apesar do nome soar engraçado para os brasileiros, a origem do prato está associada apenas ao fato dos ingredientes serem misturados à mão. A punheta do chef Ronaldo é caprichada. Temperada com esmero, agrada fácil até duas pessoas. Mas, gulosos, ainda resolvemos experimentar outra entradinha instigante: as bochechas de porco (R$ 68), uma herança da cozinha alentejana, onde é considerada uma das partes mais nobres do animal. Acompanhadas de batatas fritas, são simplesmente uma delícia. Entre outras boas opções entrada, valem a pena os bolinhos de alheira com linguiça portuguesa (R$ 22, com dois) ou o salpicão de pato com batata palha (R$ 42).

Hora de partir para o principal. Paulo pediu um Bacalhau do Narciso (R$ 108), também conhecido como Bacalhau à Narcisa, uma posta bem servida assada na brasa e puxada no azeite, alho, cebola e tomate cereja. A receita tem sua origem no restaurante de mesmo nome, situado em Braga, uma das cidades mais históricas de Portugal, ao Norte do país. E quem conhece sabe que a versão carioca do prato não deixa nada a dever ao original.

Com a ousadia e humildade que me são característicos, optei por um pedido desafiador. Um prato que não importa de qual gastronomia estejamos falando, por um mínimo detalhe pode se transformar num desagradável chiclete de peixe: Polvo. No caso em questão aqui a versão a Lagareiro (R$ 94), uma das mais antigas receitas portuguesas. Seu nome está relacionado à figura do lagareiro (pessoa que trabalha na produção de azeite) e, assim, por levar uma quantidade industrial de azeite, esse prato recebeu seu nome. Sua origem é atribuída à província de Trás-os-Montes, onde é tão festejado que chega a figurar como destaque nas ceias de Natal. No Jobá ele atinge o estado da arte, com o polvo sendo cozido primeiro e depois, indo para a grelha ou forno banhado sem vergonha em azeite, acompanhado por cebolas e batatas ao murro.

Para encerrar a brincadeira, Paulo não resistiu ao ver passar um aromático e tentador brownie de chocolate, aqui chamado Brownie da Vovó (R$ 38). Nem olhei para os pastéis de nata ou rabanadas. Como se tratava de um test drive foodie, pedi um rocambole algarvio (R$ 114). É uma receita supostamente criada em 1820 que leva ovos (naturalmente), açúcar e suco de laranja. Uma maravilha que, para os que possuem este lugar de fala, não tem glúten!

Entre o Jobi e o Jobá será inaugurado em breve o “Balcão do Jobi”. Um lugar para passar o tempo esperando mesa ou se dedicar ao dolce far niente tomando um chope ou petiscando algo rápido, como um torresmo ou as famosas empadinhas.

E só para fechar, por questão de justiça e em defesa do nome do restaurante, a turma da velha guarda do Leblon garante que a escolha não foi tão disparatada assim. Há tempos, alta noite, quando a maioria dos bares e restaurantes da cidade baixava suas portas, sempre havia um gaiato que sugeria encerrar a noite no lendário bar leblônico lançando ao ar sua mensagem com a mesma gracinha: “Djobi, Djobá”. Bebum é fogo…