FÉRIAS DE VERÃO: QUE FRIA!

Bia e Théo: "Sem a escola, a família se une para me dar esse suporte"

Luisa Pochnik

Que tédio! Essa frase, repetida com mais frequência pelas crianças em um mundo cada vez mais veloz e com mais estímulos, normalmente vem acompanhada de exigências: “posso ver tela?”, “quero encontrar meus amigos?” ou “o que vamos fazer hoje?” Seja qual for o caso, para pais, mães e cuidadores que não estão de férias, o calor do verão rapidamente dá lugar a um frio na espinha. E agora? As sugestões de um livro ou quebra-cabeça, soluções perfeitas apenas na cabeça dos adultos, duram pouco tempo. Não dá para completar uma reunião online antes de ouvir de novo o lamento. E, por vezes, a queixa vem acompanhada de complementos piores: “minha vida é chata e nunca tem nada para fazer”. Se janeiro, na infância, significava cheiro de praia, primos e dormir até tarde, ao virarem adultos, palavras como pânico, exaustão e custo alto são rotineiras e traumatizantes.

– Se você não organizar as coisas com antecedência, um programa, um amigo que sei que vai, eu taco todo mundo no clube – diz Sylvia Telles, economista, mãe de três filhos – Miguel, 11, Diana, 4, e Stella, 2.

– Por ser filha única, programas com as amigas são os mais comuns. Ela costuma passar sempre uma semana na colônia, que é o momento mais esperado das férias – pontua Renato Fessler, engenheiro, pai da Clara, 12.

– Eu não tenho coragem de colocar o Théo em colônia de férias, embora na Rocinha tenha. Eu teria que ter alguém que eu conhecesse, que eu ache responsável pra estar. A Ana Clara participava na época, tinha uma estrutura que eu conhecia por fora. Mas com o Theo agora eu não tenho muito conhecimento das pessoas que vão participar da colônia – comenta Fátima Beatriz, a Bia, que, atualmente, trabalha como cabeleireira e faz faxina para completar o orçamento. Bia é mãe de Ana Clara, 18, e Théo, 5.

Para pais que confiam, colônias de férias são a salvação. Desde as que incluem viagem e acampamento em outros lugares, as temáticas – por exemplo, ligada ao futebol ou a atividades mais artísticas – as que acontecem dentro dos clubes, substituindo a rotina da escola por um dia de brincadeiras, as que são realizadas pela escola mesmo, as oferecidas por ONGs estabelecidas em diversas comunidades da cidade. Certamente, o ponto mais importante neste caso, como a própria Bia já antecipa, é ter confiança na equipe que vai ficar tantas horas responsável pelos filhos. Dito isso, gastando muito, muito mesmo, ou nada, é beijo, tchau, divirtam-se e não me liguem.

Boa parte dos pais não consegue tirar férias ao mesmo tempo que as crianças. Uns por impossibilidade no trabalho, outros pelo preço: viajar em janeiro é sempre mais caro. Então, é comum escolher outra época do ano para tirar uns dias junto às crias, que seja mais viável economicamente. Os três entrevistados este ano não têm férias programadas, mas a época entre Natal e Réveillon é, na maior parte das vezes, um momento de descanso e diversão em conjunto, que reúne a família toda. Viajar para encontrar avós é a opção mais comentada. Outra é buscar hotéis que tenham atividades para crianças de diversas idades, ainda mais quando os filhos têm demandas e interesses diferentes.

O Rio de Janeiro, por si só, oferece um leque amplo de opções para programas: museus, parques – Jardim Botânico e Parque Lage entre os mais conhecidos -, pontos turísticos nobres como Pão de Açúcar e Cristo Redentor e outros menos conhecidos, mas tão interessantes quanto, como lugares históricos no centro da cidade, opções de aventura com trilhas, caminhada e escalada, lugares propícios a pedalar e patinar e, claro, a praia. Porém todos esses programas têm em comum o fato de que os pais têm que estar junto. Para aqueles que trabalham de casa, levar laptop ou se pendurar no celular – com um olho na tela e outro no filho – é uma opção intermediária muito utilizada. Alguns clubes, por exemplo, criaram até espaços de trabalho, unindo a fome das crianças por diversão e a necessidade de os pais pagarem boletos.

– Em algumas oportunidades, já viajamos em feriados prolongados com um dia útil no meio. Também já tirei férias em uma época em que não pude deixar de realizar algumas atividades do meu trabalho – relembra Renato, que teve que se dividir entre lazer e obrigações

Renato, ao menos, conseguiu estar junto. Algo que para quem trabalha presencialmente é impossível, como é o caso da Sylvia e da Bia.

– Eu trabalho em horário comercial, eu tenho que estar aqui presencial e eu tenho que entregar meus filhos na escola às 7 da manhã e depois eles saem meio dia e meia. Aí tem três crianças, cada um sai no horário, cada um tem uma atividade diferente, é uma loucura. Então, eu preciso de uma rede de apoio totalmente insana – explica Sylvia, que, nas férias, adota o estilo todos juntos e misturados: clube, colônias (como ‘esse’, já que muitas vezes são diferentes para cada idade) e, quando junto, viagens que agreguem atividades para diversas idades.

– Hoje, o pai está mais presente na vida do Théo. Então, a gente compartilha, divide muito bem. Ele trabalha por conta própria e fica com o filho quando eu não posso. E tem meu irmão, que me dá um suporte, que mora em frente – conta Bia, que, com uma filha de 18, já tem ajuda da irmã mais velha também nesse revezamento – Sem a escola, a família se une para me dar esse suporte.

Dificilmente, quando se trata desse assunto, não aparece uma diferença de gênero. Apesar de os homens cada vez mais serem ativos nos cuidados com as crianças, na execução em si, a coordenação ainda cai muito sobre as mulheres. Porque não basta ter uma ideia, mas, sim, torná-la viável, com deslocamento, como vai e volta, com quem fica, o que come, pré-agendar com amigos, tendo que entrar em contato com outros pais, um verdadeiro malabarismo. E a punição a uma não-organização chega. De diferentes formas. Para quem mora em comunidade, a preocupação em deixar os filhos soltos, brincando nas ruas, tem relação com possível normalização da violência e, em último nível, até mesmo despertar o interesse da criança para atividades ilegais. Outro castigo para os pais, que por muito tempo parecia uma grande solução, é o tempo de tela. Não precisa a criança estar nas ruas para ficar em perigo: a internet é um mundo de possibilidades, de trocas, de conteúdos não-recomendados.

– O mais importante é evitar o ócio e o direcionamento exclusivo para as telas – concorda Renato – Tela em excesso é um risco, mas entendo que um risco ainda maior é o conteúdo assistido. Procuramos limitar o tempo – e, aí, obviamente, aproveitamos para quando podemos dar menos atenção. Telas maiores (cinema, TV) têm preferência sobre laptop e celular. Interações síncronas com amigos “de carne e osso” são permitidas. Interações assíncronas são evitadas, com desconhecidos da vida real não são permitidas – lista uma série de combinados familiares para contornar o problema que assola a maior parte das famílias na contemporaneidade.

Outra opção que traz um mundo de possibilidades, para filhos e pais, é o shopping. Antes, atrelado apenas ao consumo excessivo, seja de itens diversos à comida, hoje, as opções são intermináveis. Os espaços infantis, que em muitos grupos de debates já foram chamados pejorativamente de “depósito de crianças”, oferecem atividades de todos os tipos: lúdicas, motoras, em grupo, eletrônicas. Atividades que incluem diversas idades e, principalmente, seguras. Ou seja, os pais contratam o espaço e seus serviços por tempo e, enquanto os filhos se divertem em um local controlado e animado, o trabalho pode fluir em um café ou restaurante por perto.

Em um shopping na Gávea, há três espaços dedicados a crianças. Criado por Luiz Fernando, mais conhecido como Tetê, professor de educação física em uma escola na região, e famoso entre alunos e pais por suas aulas criativas e envolventes, a Taba já tinha um marketing pronto em sua fama: a própria figura do dono. Qual pai e mãe não quer trabalhar sem estar preocupado com o bem estar do filho? Com esse vínculo anterior, hoje, a Taba, além de ter dois espaços fixos em shoppings, também oferece serviços como animação em festas – que, nas férias, diminuem consideravelmente, dando lugar a eventos organizados para entreter grupos de amigos –  e colônia de férias. Se individualmente o preço pode ficar alto para alguns, com atividades em grupo sempre há chance de dar aquele “check” bonito, com muita brincadeira, amigos e um preço acessível para quem paga os boletos. 

Férias também trazem para a criança a ideia de testar programas nunca antes feitos. Imagina que sensação de dever cumprido para os pais ler a redação de volta às aulas com o aluno dizendo que patinou no gelo, escalou pedra e parede, acelerou em karts e tornou-se fera em boliche. As quatro atividades são possíveis no Rio de Janeiro e, com algumas limitações e restrições, com filhos na farra e pais no laptop.

Márcio André, sócio de uma empresa que proporciona tanto kart indoor quanto boliche, relata um aumento de cerca de 40% na procura de ambas atividades durante os períodos de férias escolares, um crescimento significativo, segundo o próprio.- Todos os nossos louges são climatizados e contamos com internet de alta qualidade. Muitos pais aproveitam nosso espaço confortável e tranquilo para trabalhar, enquanto os filhos aproveitam a diversão. Além disso, temos bar e lanchonete com várias opções de lanches e bebidas.

No kart, a partir de 8 anos, a criança já pode participar, desde que atenda altura mínima para alcance dos pedais. Mas, menores de 18 anos, precisam estar sempre acompanhados por um responsável. E dá-lhe espaço de trabalho para esses pais. No boliche, crianças a partir de 5 ou 6 anos já conseguem jogar, especialmente com o auxílio do lançador e a ajuda de um adulto para manusear a bola. Para jogar sem a supervisão de um maior de idade, a idade mínima é 14 anos. O difícil aí é pai e mãe resistirem aos momentos de diversão ao lado dos filhos e ficarem apenas no trabalho, um não-problema, considerando que gastar umas horinhas se divertindo, mesmo que o ato signifique virar a noite, pode valer muito à pena.

Outra atividade interessante que, atualmente, a cidade está com três espaços dedicados a essa prática é patinação no gelo. É aquela fria que todos gostam de entrar e um programa que foge do calor típico de janeiro. No “OnIce Patinação no Gelo”, crianças de 2 a 4 anos já podem se inspirar no desenho Frozen, da Disney, e arriscar primeiros movimentos na pista, porém apenas de trenó especial, guiado por monitores. A partir dos 5, calçando acima de 29, é só chegar, colocar os patins e os equipamentos de segurança. Para os mais interessados, há opção de aulas, assim como no kart.

Para quem insiste que se é verão tem que ser ao ar livre, além de parques, praças e praia, já citados, há um cardápio de atividades em uma cidade que reúne uma natureza exuberante e diversa, de mar ao morro, com muito verde da Mata Atlântica – menos que gostaríamos, mas aí é outra reportagem. Uma opção em alta é o Parque da Catacumba. De atividades isoladas e de aventura, como escalada, a partir de 4 anos, tirolesa e arvorismo, com 6 anos ou mais, entre outras, o local oferece também o Passaporte de Férias, como 2 horas de atividades de aventura ilimitadas, durante um mês, e uma colônia de férias, para crianças de idades diversas, que preza pelo contato com a natureza, de atividades físicas a aprendizados sobre reciclagem, e outras programações como trilhas guiadas, oficinas criativas, brincadeiras de grupo, como exemplo.