Caroline Rocha
O Rio de Janeiro largou na frente e está transformando suas ruas em verdadeiras pistas. Em 2025, a cidade emergiu como a capital brasileira da corrida de rua, superando a maior metrópole do país, São Paulo, em número de eventos anuais. O título não é exagero: a previsão é que o Rio sedie 190 corridas este ano, segundo a Secretaria Municipal de Esportes, média de um evento a cada dois dias. Em São Paulo, lar da popular e grandiosa São Silvestre, serão 139 provas — 51 a menos.
Mas, de onde surgiu essa paixão pela corrida nas terras cariocas?
Os encantos da Cidade Maravilhosa
A corrida não é uma novidade nas ruas cariocas. O hábito já existia, com pessoas aproveitando especialmente as orlas e o Aterro do Flamengo. No entanto, nos últimos anos, o município viu um crescimento contínuo e organizado de eventos – movimento que segue e lidera a tendência global. De acordo com o Relatório Anual sobre Tendências do Esporte (Year in Sport 2024), da plataforma Strava, a corrida é o esporte social que mais cresce no mundo.
No Rio, esse crescimento é impulsionado por três fatores principais, segundo especialistas. O mais forte deles é o imaginário atrelado à Cidade Maravilhosa. “Acredito que o crescimento do esporte tem uma vinculação muito grande com a paisagem do Rio de Janeiro. Vemos que existe uma movimentação imensa de pessoas que vêm ao Rio de Janeiro para correr. Eles vêm para quê? Para ver o Pão de Açúcar, o Cristo Redentor…”, explica a pesquisadora de comunicação Tatiana Cioni.
Um dos melhores exemplos desse fenômeno é a Maratona do Rio, o principal evento do calendário carioca. O percurso permite aos corredores avistar cartões-postais como o Cristo Redentor, o Pão de Açúcar e vários museus, além de margear as belas praias da Zona Sul. Em 2025, o evento bateu recorde com 60 mil inscrições, um aumento de 33% em relação à edição anterior. Desse total, 85% dos corredores vieram de fora da cidade.
Um esporte para todos
O segundo fator que impulsiona a adesão aos eventos é a democracia do esporte. O perfil do público da Maratona do Rio mostra um recorte dessa diversidade, com participantes de 14 a 92 anos. É comum ouvir entre os praticantes que a única coisa necessária para começar é um tênis. A idade, a classe social e o físico não importam. “Qualquer pessoa, em qualquer lugar do mundo, se tiver um tênis, pode correr: de volta em volta no quarteirão, na praça, na terra, no asfalto, do lado da rodovia, no frio, na neve, no calor extremo… Até se a pessoa não tiver tênis, consegue correr descalça na areia”, afirma Bernardo Tillmann, atleta, organizador de eventos de corrida de rua e CEO da assessoria esportiva
Tribus Adventure.
Bernardo, que já completou mais de 50 maratonas, é co-realizador da Meia Maratona do Cristo. A prova, que acontece em outubro, leva cerca de 1.500 pessoas para uma corrida em altitude. “É uma corrida diferente que termina no Cristo Redentor e tem a experiência de descer de bondinho, chegar no Largo do Boticário e curtir um samba e o lifestyle do Rio de Janeiro. E eu acho que esse é o presente e o futuro das corridas: cada vez mais ativações”, completa Tillmnann.
O marketing de experiência
E é essa a terceira razão para o crescimento: a corrida se tornou um bom negócio. Marcas de diversos segmentos perceberam o potencial do mercado de corrida de rua e têm investido pesado. Influenciadores e criadores de conteúdo também viram um nicho interessante para explorar. Por que apenas correr, quando você pode ter uma sessão de massagem, receber kits de marcas esportivas, assistir a um show pós-prova, degustar açaí ou fazer uma análise de pisada em um stand (e tudo isso de graça)?
“Antigamente, a gente se inscrevia na corrida, ganhava a camiseta da prova com os patrocinadores e a medalha no final não tinha marca”, explica a pesquisadora Tatiana Cioni. “Com o crescimento do número de inscritos, as marcas pensaram: ‘Tenho que aproveitar’.”
No entanto, essa mídia atrelada tem um objetivo claro: vender. “Existem agora modismos que as marcas vagarosamente estão conseguindo implementar com sucesso. Quando comecei a correr, simplesmente fui correr. Hoje, você precisa usar tênis de placa de carbono, óculos para baixar o pace, relógio de frequência cardíaca, medidor de pace…”, diz a pesquisadora. “Aos poucos, o mercado está tentando elitizar a corrida, que sempre foi popular.”
Corre dos crias
É na contramão da elitização que nasceu o “Corre dos Crias”, projeto desenvolvido há um ano por amigos do Morro da Providência, no bairro da Gamboa, na Zona Central da cidade. Semanalmente, centenas de “crias” se reúnem para correr juntos. “Queremos incluir e incentivar a prática esportiva, ajudando contra depressão, ansiedade, entre outras doenças. O Corre impacta na promoção de saúde e do bem-estar dos moradores da comunidade, tudo isso de uma forma bem lúdica”, diz Alex Lopes, um dos idealizadores do projeto.
Para Alex, a corrida foi a oportunidade que precisava para ser ressocializado. Após ser preso por tráfico de drogas e cumprir três anos de pena, o esporte o ajudou fisica, mental e profissionalmente. Agora meia maratonista e estudante de educação física, ele segue os ensinamentos de uma das canções do Racionais MCs, que é trilha sonora de uma das postagens no seu perfil que acumula milhões de visualizações no Instagram: Um homem na estrada recomeça sua vida / Sua finalidade, a sua liberdade / Que foi perdida, subtraída / E quer provar a si mesmo que realmente mudou. “Já chegamos a ter um evento com mais de 630 pessoas! Vá sem medo de ser feliz, mas o risco de se viciar é alto!”, brinca o estudante.
Calendário da cidade
A diversidade de eventos é enorme, com corridas para todos os gostos, muitas delas com temas: a “Barbie Run” em outubro, a “FLA RUN” comemorando os 130 anos do Flamengo, a Maratoninha do Rio para os pequenos, e até a “Cãorrida e Cãominhada” para cachorros. Também houve o retorno do Desafio da Ponte em agosto, após 12 anos de paralisação, que levou mais de 5 mil corredores para atravessar a Ponte Rio-Niterói.
Sobre o futuro, o secretário municipal de esportes, Guilherme Schleder, promete o aprimoramento das condições criadas para que as corridas aconteçam da melhor forma possível: “Hoje, não há limite para corridas de rua na cidade. Mas é claro que temos que levar em consideração o calendário oficial, ou seja, depende da ocasião. Não vejo problemas em termos, por exemplo, quatro corridas no mesmo dia. E trabalhando também para que elas aconteçam em lugares alternativos. Os próprios produtores têm buscado isso, fugindo do tradicional. Quero mais é que os produtores procurem o Rio para seus eventos. Todos saem ganhando.’
Serviço
05/10 – Circuito Baly RJ 2025
Local: Aterro do Flamengo
12/10 – Girl Power
Local: a definir
Disney Magic Run
Local: Aterro do Flamengo
19/10 – Correndo para
o Pão de Açúcar
Local: Monumento a Estacio de Sá, Flamengo
25/10 – Night Run – Etapa 2
Local: Jockey Club Brasileiro
26/10 – Barbie Run 2025
Local: Parque Olímpico
Correndo pelo Túnel do Tempo
Local: Praça Quinze de Novembro, Centro
New Balance
Local: Monumento aos Pracinhas
15/11 – Santander Night Run –
Better Late Than Never
Local: A definir
16/11 – Correndo na Lagoa
Rodrigo de Freitas
Local: Sede Náutica do Vasco
20/11 – Corrida das Poderosas –
Etapa 3
Local: Monumento aos Pracinhas – Aterro do Flamengo,
23/11 – Corrida da Portela
Local: Quadra da Portela
30/11 – Correndo para
o Pão de Açúcar
Local: Monumento a Estacio de Sá, Flamengo
Circuito Rio Antigo 2025 – Etapa Porto Maravilha
Local: Praça Mauá
06/12 – Correndo entre
o Sagrado e o Profano,
Local – Theatro Municipal do Rio de Janeiro
07/12 – Circuito das Estações –
Verão 2025
Local: Aterro do Flamengo
31/12 – Corrida de Vera Cruz 2025
Local: Aterro do Flamengo