ECOLOGIA: LONGA VIDA AO ALBATROZ

O Centro de Visitação e Educação Ambiental Marinha do Projeto Albatroz é acessível e democrático

Marcelo Macedo Soares

Situado em Cabo Frio, na Região dos Lagos do Rio de Janeiro, o Centro de Visitação e Educação Ambiental Marinha do Projeto Albatroz é uma das iniciativas mais expressivas de educação ambiental marinha do país. O espaço oferece uma experiência educativa e sensorial voltada à conscientização sobre a biodiversidade oceânica, especialmente das aves marinhas ameaçadas de extinção, como os albatrozes e petréis. O Centro de Visitantes é o primeiro do Projeto Albatroz no Brasil e conta com atrações imperdíveis, como por exemplo, o esqueleto verdadeiro de uma baleia jubarte. No estado, existem apenas dois destes: o de Cabo Frio, e o que fica no AquaRio, no Rio.

Com uma proposta imersiva e acessível a públicos de todas as idades, o centro convida visitantes — entre estudantes, educadores, pescadores, turistas e moradores locais — a percorrer um roteiro que combina ciência, natureza e emoção. Logo na entrada, o visitante é apresentado à história e às ações do Projeto Albatroz, que há mais de três décadas atua na conservação de aves oceânicas impactadas pela pesca.

A jornada continua pela Trilha do Mangue, um caminho arborizado e repleto de vida que destaca a importância dos manguezais e apresenta espécies como caranguejos e aves típicas do ecossistema costeiro. Em seguida, a Calçada dos Ecossistemas conduz os visitantes pela margem da Lagoa de Araruama, revelando as especificidades dos diversos habitats marinhos da região.

O ponto alto da visita é o Espaço Oceano, onde o público se encanta com a diversidade da vida marinha. A visita culmina no Espaço Albatroz, dedicado exclusivamente à biologia, ecologia e ameaças enfrentadas pelos albatrozes e petréis. A exposição interativa também destaca o papel dos visitantes na preservação dos oceanos, promovendo uma reflexão sobre o impacto humano nos mares.

Além da experiência educativa, o espaço é acessível e democrático. O centro funciona às quintas e sextas-feiras, das 10h às 18h, com entrada até as 17h. Os ingressos custam R$15 (inteira) e R$7 (meia), com gratuidade garantida a crianças de até 3 anos e moradores das comunidades vizinhas.

Em uma manhã de julho de 1990, um episódio aparentemente isolado se transformaria no ponto de partida para uma das mais importantes iniciativas de conservação marinha no Brasil. A história começou quando o então mestrando da FURG (Universidade Federal do Rio Grande), Rogério Menezes, desembarcou no porto de Santos com albatrozes e petréis mortos, vítimas da pesca com espinhel. Entre os que testemunharam aquele momento estava a bióloga Tatiana Neves, que, impactada com a cena, decidiu investigar mais a fundo a captura incidental dessas aves.

Motivada por esse primeiro contato com o problema, Tatiana iniciou um trabalho sistemático de coleta de dados em embarcações pesqueiras, com apoio de pescadores locais. Essa fase inicial culminou, em 1991, na primeira publicação científica brasileira sobre o tema, assinada por Teodoro Vaske Jr., marcando o início da atuação formal do então nascente Projeto Albatroz.

Um marco crucial veio em 1993, quando Tatiana recebeu uma carta de incentivo do renomado pesquisador britânico John Croxall, do British Antarctic Survey. Segundo ele, o Brasil era uma área-chave para a conservação de albatrozes, mas até então negligenciada cientificamente. Esse apoio internacional consolidou a missão do projeto, que, ao longo dos anos, transformou-se em protagonista de políticas públicas ambientais no país.

Em 1995, o Projeto Albatroz lançou o seu Programa de Observadores de Bordo, enviando especialistas para acompanhar viagens de pesca e monitorar a interação entre aves marinhas e espinheis. O sucesso do primeiro cruzeiro, a bordo do barco Itaóca, abriu caminho para uma colaboração mais estreita com o setor pesqueiro — incluindo os principais armadores do país — que culminou, em 2000, na adoção das primeiras medidas mitigadoras, como o uso do toriline e o tingimento das iscas com cor azul, reduzindo a atração visual para as aves.

O reconhecimento institucional veio em 2003, com a fundação do Instituto Albatroz, primeira entidade no mundo dedicada exclusivamente à conservação de albatrozes e à mitigação de sua captura acidental. No mesmo ano, o projeto liderou a elaboração do Plano Nacional de Ação para a Conservação de Albatrozes e Petréis (PLANACAP), em parceria com o IBAMA e a BirdLife International – Programa do Brasil.

Em 2006, o plano foi oficialmente lançado durante reunião do ACAP (Acordo para a Conservação de Albatrozes e Petréis), e no mesmo ano o Brasil ingressou no programa internacional Albatross Task Force, coordenado no país pelo próprio Projeto Albatroz. Dois anos depois, em 2008, o Brasil ratificou o ACAP, tornando-se membro efetivo e fortalecendo seu compromisso com a conservação das aves marinhas.

O Projeto Albatroz também investe na educação ambiental. Em 2012, com apoio da Petrobras, lançou o programa Albatroz na Escola, que promove atividades lúdicas e materiais educativos voltados para professores e crianças. Já em 2015, nasceu o Coletivo Jovem Albatroz, voltado para a formação de jovens conscientes sobre a importância dos ecossistemas marinhos.

Estima-se que até 10 mil aves marinhas morram todos os anos em águas brasileiras, vítimas de capturas acidentais causadas por técnicas de pesca como o espinhel — uma ameaça direta à sobrevivência dessas espécies.

Entre as medidas mais eficazes promovidas pelo projeto estão três tecnologias de mitigação testadas em território nacional: Toriline: uma linha de 130 metros com fitas coloridas que atua como um espantalho, afugentando as aves da área de risco durante a pesca; Largada noturna: o lançamento das linhas de pesca durante a noite, quando albatrozes e petréis têm menor atividade alimentar por dependerem da visão para localizar iscas; Regime de pesos: aplicação de chumbo nos anzóis para acelerar seu afundamento, dificultando o acesso das aves às iscas próximas da superfície.

“Trata-se de um esforço contínuo que passa pelo conhecimento científico, pela proteção de habitats e pela educação de todos os envolvidos com o mar”, conta Paulo Roberto Salomão, coordenador de educação ambiental do projeto.

Em uma demonstração surpreendente de resistência e longevidade, a albatroz-de-Laysan conhecida como Wisdom — considerada a ave selvagem mais velha já registrada — chocou mais um ovo aos 74 anos, no fim de 2024. Wisdom, que significa “sabedoria” em inglês, foi anilhada pela primeira vez em 1956 no Atol de Midway, no Pacífico Norte, quando já estava em idade reprodutiva. Desde então, estima-se que tenha gerado mais de 30 filhotes ao longo de sua extraordinária vida, superando com folga a expectativa média de vida da espécie, que varia entre 40 e 50 anos.

A história recente de Wisdom também trouxe mudanças pessoais. Seu parceiro de longa data, Akeakamai — cujo nome em havaiano significa “apaixonado pelo conhecimento” — não é visto desde o final de 2021 e pode ter morrido. Em 2023, pesquisadores notaram que Wisdom passou a ser cortejada por outros machos, e neste ano ela finalmente formou um novo par. O novo parceiro, ainda não identificado pelos estudiosos, foi anilhado recentemente e será acompanhado nas próximas temporadas.

Além da idade avançada, os números de Wisdom impressionam. Segundo dados do United States Fish and Wildlife Service (USFWS), ela pode ter botado até 50 ovos ao longo da vida, sendo que pelo menos 30 resultaram em filhotes bem-sucedidos. Estima-se ainda que tenha voado cerca de 80 mil quilômetros por ano — o equivalente a seis viagens de ida e volta à Lua.

A preservação da biodiversidade marinha do Brasil ganha força com a atuação integrada da Rede de Conservação da Biodiversidade Marinha (Rede Biomar). Patrocinada pela Petrobras através do Programa Petrobras Socioambiental, a iniciativa reúne seis projetos voltados à conservação de espécies e habitats marinhos em diferentes regiões do litoral brasileiro.

A Rede Biomar é composta pelos projetos Albatroz, Baleia Jubarte, Coral Vivo, Golfinho Rotador, Meros do Brasil e Tamar, todos com um forte pilar em comum: a Educação Ambiental. Para a Rede, esse conceito vai muito além de uma ferramenta pedagógica — trata-se de uma abordagem transformadora e crítica, capaz de gerar mudanças sociais concretas no enfrentamento dos desafios da sustentabilidade.

Além da proteção direta de espécies emblemáticas, as ações da rede contribuem para a conservação de habitats inteiros, como recifes de coral, estuários e regiões de migração marinha. Essa integração territorial amplia o impacto da rede e reforça o compromisso coletivo com a saúde dos oceanos.