DELÍCIAS QUE VENCERAM O TEMPO NO RIO DE JANEIRO

Café Tassinari, produzido na Fazenda São Francisco, em São José do Vale do Rio Preto

Chico Júnior

A vida do pequeno produtor não é nada fácil.

Assim, se estabelecer e continuar produzindo durante décadas é algo digno de ser retratado. Manter, por exemplo, uma produção por 40 anos merece destaque e reconhecimento, sempre.

Aqui, segue um pouco da história de sete produtores do Rio de Janeiro que estão há, pelo menos, 40 anos produzindo delícias pra nós. E fazendo história.

Cachaças centenárias

Se 40 anos é uma marca e tanto, imagine mais de um século na luta. É o caso de duas marcas de cachaça produzidas no estado: Santa Rosa, de Valença, e Cachaça da Quinta, de Carmo.

A Santa Rosa existe, e resiste, há 154 anos. Considera-se o ano de 1871, quando o imigrante italiano Vito Pentagna assumiu a Fazenda Santa Rosa, o início da produção. Nesses anos todos a Santa Rosa cresceu, investiu na qualidade da bebida e hoje produz uma linha de cinco cachaças envelhecidas entre 1 e 14 anos.

A história da Cachaça da Quinta começa, digamos assim, em 1923, quando o imigrante português Francisco Lourenço Alves adquiriu a Fazenda da Quinta, introduzindo uma série de melhorias ao processo de fabricação da cachaça que era produzida ali.

No início do século atual, Katia Alves do Espírito Santos, neta de Francisco, assumiu a produção e o negócio.

“A partir da minha gestão, a empresa, com base na tradição e tecnicamente ancorada, se posicionou no mercado gastronômico de grandes centros urbanos, familiarizados com destilados de elevado padrão. Um fator importante foi a Cachaça da Quinta se manter no topo das mais relevantes premiações nacionais e internacionais, atestando a sua elevada qualidade”, diz Katia.

40+

Um pouco mais “novinha”, a Fazenda Soledade, comandada pelos irmãos Roberto e Vicente Bastos Ribeiro no município de Nova Friburgo, vem produzindo ótimas cachaças premiadas desde 1977 (48 anos).

 “Todas as nossas bebidas são elaboradas tendo como palavra de ordem a valorização dos sabores e dos aromas originais da cana-de-açúcar”, diz Roberto.

A Fazenda Soledade produz oito tipos de cachaças e também o Rum Soledade, nas versões Branco e Ypê.

Sitio Solidão

Embora oficialmente o Sítio Solidão considere 35 anos de mercado,  Luiz Meneses começou há 42 anos produzindo queijos com o leite das cabras de sua criação em Miguel Pereira. Em seguida, passou a produzir queijos com leite de vaca e depois, de ovelha. Hoje são mais de 20 tipos de queijos feitos com os três tipos de leite. 

Em sua trajetória, Luiz destaca que a consagração da marca aconteceu quando o Minas frescal do Sítio Solidão foi selecionado para ser um dos itens da sobremesa dos jantares da Rio 92 (Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento).

Café Tassinari

A história do Café Tassinari, produzido na Fazenda São Francisco, em São José do Vale do Rio Preto (região serrana do estado), começa há mais de 50 anos, na década de 1960, quando o italiano Paolo Tassinari decidiu trocar duas lojas que tinha acabado de construir por uma fazenda, procurando resgatar a essência agrícola da família, na planície do Rio Pó, na Itália.

Em 1981 decidiu plantar café, optando pelo cultivo de um café de qualidade, plantando apenas grãos da espécie arábica.

A primeira colheita foi em 1984. De lá para cá, são 41 anos de história vividos nas terras da família.

“A Tassinari Cafés surgiu com o intuito de ser a ‘resistência’, nadando contra a corrente em diversos aspectos: do pioneirismo em produção de qualidade num estado quase esquecido por sua agricultura, da importância de uma torra artesanal”, diz Paulo, filho de Paolo.

A Tassinari produz quatro tipos de café, sendo o mais recente o Nina, criação da filha do Paulo, Gabriela, a nova geração cafeeira da família.

Sítio Humaytá

Há 40 anos, Carmen e Rita, irmãs do arqueólogo gaúcho José Adolfo – foram ao sítio mantido por ele em Secretário (distrito de Petrópolis, região serrana do estado), e acharam um desperdício que as árvores dessem tantas frutas não aproveitadas no local.

Junto ao engenheiro e economista Gilson, o irmão se dedicava à criação de cabras e à produção de leite e derivados.

Carmen e Rita, então, foram para a cozinha e produziram algumas compotas e geleias.

Assim, nascia a Delícias Artesanais de Secretário, o Sítio Humaytá.

Nesses 40 anos, o Sítio só cresceu, em quantidade de produtos e qualidade. Hoje, produz dezenas de especialidades, entre compotas, doces em barras, geleias, chutneys, antepastos, molhos e conservas.

Gilson faleceu em março do ano passado, mas deixou um belo legado. Zé Adolfo continua lá, firme e forte, tocando com maestria o Sítio, hoje um símbolo do trabalho das centenas de pequenos produtores do nosso estado.

Magnífica de Faria

Quando iniciou a produção da sua cachaça Magnífica (hoje Magnífica de Faria), em 1988, João Luiz Coutinho de Faria colocou como objetivo produzir uma cachaça que se destacasse pela qualidade, rivalizando com os bons destilados do mundo.

E não é que conseguiu. A prova disso é que hoje ele exporta a Magnífica para vários países.

Produzida na Fazenda do Anil, em Vassouras (mas com acesso por Miguel Pereira), a Magnífica vem acumulando vários prêmios nacionais e internacionais ao longo dos anos.

“Mais de 40 anos depois de termos começado a aventura de criar uma cachaça de alambique tão boa quanto os melhores destilados do mundo, é uma grande satisfação ver esse sonho realizado, com a Magnífica sendo apreciada no Brasil e em diversos outros países”, diz ele.

Um momento importante da história da Magnífica foi quando, em 2003, fez uma parceria com a cadeia de restaurantes inglesa ‘Las Iguanas’, com mais de 30 unidades. E em todas elas têm Magnífica.

“Junto com eles, criamos nos consumidores ingleses a cultura e o prazer de se degustar as melhores caipirinhas”.

Hoje a Magnífica produz cinco tipos de cachaça.