DA FÁBRICA DA ESPERANÇA AO ROLÊ NO SHOPPING RIO SUL

André Fernandes e Flávio Dino: ativismo social em alta

Jan Theophilo

Ajudar os menos favorecidos sempre foi uma marca na vida de André Fernandes. Ele deixou o grêmio do Colégio Pedro II para ingressar no corpo de fuzileiros navais com o sonho de ajudar o país. Mas logo se desencantou com a vida militar e se tornou missionário da Jocum (Jovens com uma missão), um movimento criado nos anos 1960 por cristãos de muitas denominações dedicado a apresentar a palavra de Jesus aos mais jovens.

André participou ativamente de iniciativas como a Casa da Paz, na Rocinha, e a Fábrica da Esperança, um projeto social iniciado no ano de 1994 pelo Pastor Caio Fábio num prédio incendiado da fábrica Formitex, no bairro de Acari. Sediada num imóvel de seis andares, cravado na entrada da favela, logo transformou-se numa das mais importantes ONGs do País. Entre cursos profissionalizantes, creche e atendimento médico, chegou a ter 55 projetos sociais graças à parceria com o governo, empresários e outras entidades. A Fábrica de Esperança teve papel fundamental para diminuir a violência na favela de Acari. A sua importância foi reconhecida pelo presidente Fernando Henrique Cardoso numa visita ao local logo depois da posse, no seu primeiro mandato, como o maior projeto Social da América Latina.

Mas foi um episódio bem mais midiático que levou André às primeiras páginas dos jornais de todo o mundo. No dia 3 de agosto de 2000, ele liderou quase 200 moradores de favelas, estudantes e trabalhadores sem-teto em um “passeio” pelo Shopping Rio Sul, em Botafogo, para protestar contra a desigualdade social e o consumismo. “Na verdade, a gente queria chamar a atenção para um outro ato, marcado para alguns dias depois, em protesto pelos sete anos do massacre de Vigário Geral”, admite André. Naquele triste episódio, um grupo de extermínio formado por 36 homens encapuzados invadiu a favela, arrombou casas e assassinou 21 moradores. Foi uma das maiores chacinas da história do Rio. Dos 51 acusados, só um chegou a ser preso. O caso chegou a ser julgado na OEA como atentado aos Direitos Humanos.

Voltando ao shopping, durante cinco horas os manifestantes visitaram lojas, experimentaram roupas e lancharam na praça de alimentação, para o horror de frequentadores e lojistas. Um destacamento de 45 policiais militares e mais de 120 seguranças particulares foi mobilizado para dispersar os manifestantes, que só permaneceram por lá graças à expressiva presença de jornalistas de praticamente todos os veículos existentes à época. O passeio foi tão marcante que a Associação Brasileira de Shopping Centers (Abrasce) posteriormente entrou com medida cautelar na Justiça para impedir manifestações semelhantes.

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