BLUE NOTE REABRE EM OUTUBRO NA PRAIA DE COPACABANA

A varanda agora tem menu próprio

Jan Theophilo

Em bom carioquês, não tinha erro. Abrir um clube de jazz, filial de uma marca norte americana de reconhecimento mundial, em uma espécie de shopping de entretenimento, com cinemas, bares e restaurantes, tendo como cenário a vista de cartão postal proporcionada pelo antigo Estádio de Remo da Lagoa. E assim, em 2017, o Rio se tornou a primeira cidade do hemisfério sul a contar com o emblemático clube de jazz Blue Note de Nova York. Sua localização era o Complexo Lagoon, um ousado centro gastronômico que chegou a contar com salas de exibição e casas como Gula Gula, Pax Delícia, Quadrifolio Caffe e Giuseppe Grill. Mas deu ruim. O projeto era financeiramente muito instável e acabou não vingando. Aos sócios do Blue Note coube mudar para um outrora nome mítico do gênero musical na cidade: o endereço do antigo Jazzmania, em Ipanema. A inauguração foi marcada com pompa e circunstância para março de 2020. Até que precisamente no dia 11 de março daquele ano a Organização Mundial de Saúde afirmou que o mundo estava diante da pandemia do Covid-19. E o showbiz mundial, de uma queda, foi ao chão.

Mas o jazz é antes de tudo, resistência. E para alegria dos amantes do estilo, o empresário Luiz Calainho anunciou a volta do Blue Note. Agora, instalado no imóvel que abrigava o restaurante ‘Copabacana’, na Avenida Atlântica, 1.910, ao lado do Copacabana Palace e com direito à vista para o mar e mesas na calçada. O local está em obras finais de acabamento e deverá ser inaugurado no dia 5 de outubro, com apresentação da Orquestra Atlântica, repertório em homenagem a João Donato, que morreu no mês passado, e do trompetista e multi-instrumentista americano Christian Scott. O mês contará ainda com apresentações do MPB4, Danilo Caymmi, Jonathan Ferr e da Banda do Síndico, entre outros. A casa tem shows previstos até o fim do ano e apresentações de Hamilton de Holanda, Marieme, Marcos Valle, Mark Lambert já garantidas. Agora vai!

A casa terá três ambientes. A varanda externa, de frente para o mar, será preservada e, no segundo andar, serão realizadas as apresentações musicais. “Será, definitivamente, o Blue Note mais bonito de todo planeta. Fiz questão de cronometrar: a caminhada do Copacabana Palace para o Blue Note leva um minuto e 42 segundos”, brinca, entusiasmado, Calainho, garantindo que o atual imóvel passa por uma “grande transformação”.

Por regra da matriz americana, nenhuma franquia pode ultrapassar 400 cadeiras. Assim como todos os aspectos da decoração devem seguir o mesmo padrão em tons de cinza, preto e azul. Calainho faz mistério sobre quem cuidará dos alimentos e bebidas na nova casa. Mas o sarrafo do empresário é alto. No primeiro Blue Note Rio, a cozinha estava aos cuidados do badalado chef Pedro de Artagão. No curto período ipanemense, quem fornecia comida e bebida era a cozinha do Bar Astor.

O Blue Note foi fundado em 1981 em Nova York por Danny Bensusan. A ideia era criar um clube de Jazz de primeiríssima qualidade, transformando-se, ao longo do tempo, em patrimônio cultural da cidade. O objetivo era garantir uma atmosfera intimista e aconchegante para o público e para os músicos. Seu filho Stephen, que cresceu tendo amigos como Chick Corea e McCoyTyner, deu continuidade ao empreendimento, criando uma verdadeira comunidade para artistas e apresentando o rico legado do jazz para diferentes gerações.

Alguns dos maiores nomes do blues e do jazz já passaram pela casa – e muitas vezes saíram da plateia para sessões de improviso históricas. Nos clubes de jazz é comum que, após o número principal, os músicos presentes sejam convidados para subir ao palco e tocar junto com a banda sem ensaio prévio, o que garante uma experiência única em cada show. Desde então Stephen abriu filiais do Blue Note na Califórnia, Havaí, Milão, Pequim, Tóquio, Nagoya e São Paulo – este também sob gestão de Calainho.

“Teremos ainda grandes novidades para o próximo ano, como o lançamento do Blue Bar, no Blue Note São Paulo, que será um novo espaço na nossa área externa com vista para a Avenida Paulista. Planos para novas filiais no Brasil estão na mesa também”, revela Calainho, que sonha com endereços em cidades como Porto Alegre e Recife. Como costumam dizer, o show não pode parar.