Birosca de bamba

O arroz de camarão do Bar do Zeca

Desde Noel Rosa o bar é fonte de inspiração para os sambistas. Em 1935 ele escreveu “Conversa de Botequim”, clássico do gênero, cuja letra diz: “Seu garçom faça o favor de me trazer depressa / Uma boa média que não seja requentada”. Alguns músicos já se aventuraram como empresários do ramo há pelo menos 60 anos. Em 1963, o casal mangueirense Dona Zica e Cartola abriu um bar na Rua da Carioca que fez história: era o Zicartola, reunindo a nata da música brasileira naqueles tempos, da turma da Bossa Nova aos maiores bambas do samba. Comiam muito bem, obrigado, as receitas preparadas por ela, cozinheira de mão cheia, como um famoso feijão-manteiga e um angu à baiana.
Samba, botequim e seus quitutes sempre caminharam de mãos dadas. Famosa é a feijoada de Tia Surica, da Portela, e lá pelos lados de Oswaldo Cruz temos ainda a Feira das Yabás, de música e gastronomia.
Mas, mesmo com toda essa tradição, embora se conheça dezenas de casos de artistas costumavam ser os últimos a sair, nunca se viu tanto sambista famoso abrindo os seus bares – abrindo mesmo, como donos ou sócios. Notório anfitrião de pagodes regados e comida no fogão a lenha em seu sítio em Xerém, Zeca Pagodinho deu o primeiro acorde para despertar a sua turma. Em 2018 ele abriu no Vogue Square, na Barra, o primeiro Bar do Zeca, que já está com cinco filiais, incluindo uma em Nova Iguaçu e outra em São Paulo, que abriu as portas em janeiro, no Itaquerão, o estádio do Corinthians, com espaço para até 800 pessoas.
Para a cozinha não atravessar o compasso da boa comida, o sambista procurou um dos bambas da cultura botequeira do Rio, Antonio Carlos Laffargue, o Toninho do Momo, em referência ao bar que ele comanda com a família, na Muda, um dos mais premiados da cidade.
No cardápio, além de muito samba, com shows diários, há um receituário característico de botequins, com feijoada, coxinha de rabada, arroz de camarão, croquete de pernil ou carne assada, frango à parmegiana, bolinho de bacalhau e espetinhos variados.
A moda pegou, e outros sambistas abriram seus bares: A Casa da Marrom, que abriu as portas em 2021, não precisa nem dizer, é o Bar da Alcione, no CasaShopping, também na Barra, reduto da turma. No cardápio, além de muita música, obviamente, você pode provar sardinha ao vinagrete, bolinho de feijoada (e a própria), paella, moqueca, rabada, frango com quiabo, bobó de camarão, dobradinha, pernil assado e carne seca com abóbora, entre outros pratos substanciosos.
Já o Shopping da Gávea abriga, desde o ano passado, o Bar do Mumuzinho, que representa a nova geração, mas o cardápio é tradicional, com caldo apimentado de mocotó, barriga de porco e moela flambada, entre outros acepipes. Para beber, Cacildis, da Brassaria Ampolis, a cerveja do Mussum, humorista mangueirense dos Trapalhões, cuja carreira começou no grupo Originais do Samba, tocando reco-reco.
O mais novo no ramo é o cantor Belo, que em janeiro passado abriu um bar com seu nome, no Recreio dos Bandeirantes. Ele mesmo se apresentou na noite de inauguração. Mas, no início de fevereiro, sem muitas explicações, eles anunciaram a suspensão das atividades.
Já pode-se dizer que é uma tendência. Quem será o próximo?