Jan Theophilo
Ele introduziu no Brasil o hábito de comer cachorro-quente, foi um dos maiores proprietários de imóveis do país no começo do século XX, até que em uma viagem a Nova York teve uma epifania. O empresário espanhol radicado na Guanabara Francisco Serrador conheceu a Times Square e, deslumbrado, decidiu transformar o entorno da Praça Floriano, no Centro da Cidade, em algo parecido. Nascia assim a Cinelândia, um dos maiores ícones do Rio de Janeiro. A joia da coroa era um hotel de luxo, em estilo art-déco, inaugurado em 1944 e que durante décadas foi o maior da América Latina. O Hotel Serrador viveu anos de glória, hospedando políticos e celebridades e agitando a noite com sua mítica boate Night and Day – nome inspirado na canção de Cole Porter. Com a desvaloriação da área, o hotel fechou nos anos 1970, teve diversos donos (da Petrobras a Eike Baptista) mas agora está prestes a retomar uma posição de destaque no cenário carioca: a partir do ano que vem o Hotel Serrador será a nova sede da Câmara Municipal do Rio de Janeiro.
As obras de reforma e adequação do edifício começaram em junho e devem durar 18 meses, com previsão de conclusão até novembro de 2026. Com o início das obras, a expectativa é de que todos os gabinetes parlamentares, a nova estrutura da Rio TV Câmara e o futuro plenário estejam instalados até o fim do prazo. A primeira etapa da reforma contempla os andares 11 ao 23, que abrigarão os gabinetes dos vereadores e salas da Mesa Diretora. A segunda fase inclui a instalação do novo plenário no auditório e os estúdios da emissora legislativa.
Embora apenas a fachada e a cobertura sejam tombadas oficialmente, a Câmara promete preservar elementos internos do edifício que fazem parte da história da cidade, como os pisos de mosaico na portaria, grades de ferro e lustres originais. O projeto, aprovado pelo Instituto Rio Patrimônio da Humanidade (IRPH), está a cargo de uma empresa que já participou de reformas como a do Palácio da Alvorada, em Brasília.
“Teremos um prédio mais moderno e funcional para os vereadores e os servidores atuarem de forma mais integrada. Sem falar na economia que já estamos fazendo com o fim de vários contratos de aluguel. Desde o início da ocupação da nova sede, o Legislativo já deixou de gastar mais de R$ 6 milhões, valor que chegará a quase R$ 9 milhões no fim do ano”, afirma o presidente da Câmara, vereador Carlo Caiado (PSD). A atual sede da Câmara, o Palácio Pedro Ernesto – que cariocas e simpatizantes gaiatos apelidaram de Gaiola de Ouro – será convertido em um centro cultural e museu, finalizando o projeto chamado Quadrilátero da Cinelândia (formado pelo Palácio, pelo Theatro Municipal, pela Biblioteca Nacional e pelo Cine Odeon) com o objetivo de promover a integração entre esses espaços e fomentar atividades culturais e turísticas.