O RIO NA HORA DO BRUNCH

Latkes com salmão e guacamole, no novo Dainer: para qualquer hora

Bruno Agostini

O novíssimo Dainer é um lugar difícil de classificar com uma palavra – como bar ou restaurante. Porque é as duas coisas, um lugar descontraído, com espírito carioca, mas inspirado no conceito do “american diner”, um tipo de estabelecimento muito popular nos EUA, casual e com cardápio variado, com decoração marcada pelo balcão do bar com tamboretes e as mesas com bancos fixos. Serve comida e bebida para todas as horas, desde o café da manhã ao jantar, passando por sanduíches e pratos diversos. Jantar, que se diga, no padrão americano: a cozinha fecha às 19h, e só aos sábados a casa vai até 20h. Vem fazendo sucesso desde a inauguração, no começo de agosto, em Botafogo. Três palavras resumem a filosofia do local: Café (1) – Almoço (2) – Coquetel (3).

É exatamente o que propõe um brunch, palavra que nasce da contração de café da manhã com almoço (breakfast + lunch), refeição tradicional dos fins de semana nos Estados Unidos, que começa de manhã e avança pela tarde, em evento também regado a drinques tradicionais, como Mimosa ou Blood Mary.

A novidade é mais uma empreitada do empresário Edu Araújo, dos bares Quartinho e Chanchada, e do Café 18 do Forte, em Copacabana – onde ele percebeu que o brunch é uma tendência por aqui, servindo diariamente itens como waffle clássico, bagel com salmão e cream cheese, frango frito no estilo do Sul dos EUA e ovos mexidos, parte do receituário típico de um american brunch, com direito a uma seção do menu chamada “drinks pela manhã”, com Mimosa, Ginger Aperol e Bellini – os coquetéis devem ser leves e “solares”. Espera encontrar fila nas duas casas.

– Eu quis trazer pro Dainer um pouco da descontração carioca, e de coisas bem nossas. Daí, tem o setor “padaria brasileira” no cardápio, onde colocamos pão de queijo com geleia de goiaba e broa de milho, ambos assados no forno a lenha; e o Catupirai, uma fatia de torrada Petrópolis tostada na chapa com o requeijão – diz Edu, que chamou a bartender Laura Paravatto para criar a carta de drinques, e dar expediente atrás do balcão, onde podem passar a manhã executivos a caminho do trabalho fazendo sua primeira refeição e boêmios resistindo ao fim da madrugada, e bebendo a saideira matinal (como presenciou esta reportagem).

No Dainer, o cardápio tem uma parte dedicada ao brunch, com pratos como o latkes, bolinhos de origem judaica, de batata, cebola e ovo, no caso servido com guacamole, salmão defumado e ovo pochê, uma das melhores pedidas para começar o dia, ou se deliciar ao longo dele. Outra boa pedida é o Beluga, combinação certeira de brinche, bacon, sauce hollandaise e camarões, com ovas do dia. Diferente de tudo é o Tamago Sando, que poderia ser resumido como uma espécie de ovo mexido empanado em forma de sanduíche. A lista de pratos principais é curta, mas traz receitas reconfortantes como estrogonofe, lasanha vegetariana e pappardelle à bolonhesa.

Em julho, por sua vez, abriu as portas, em Ipanema, o So_Lo Café, lugar com inspiração nas padarias nórdicas atuais, que também tem um tripé definindo seu conceito, a exemplo do Dainer: Sustentável – Orgânico – Local. O menu revela logo de cara a especialidade da casa: “Brunch All Day” abre a primeira parte do menu, onde encontramos itens típicos desta refeição, também tradicional nos Estados Unidos: tem ovos beneditinos à moda turca; croque madame e shakshuka, preparo típico do norte da África e do Oriente Médio, que são ovos preparados em molho de tomate picantes, com muitas variações regionais.

– A gente fez uma curadoria muito cuidadosa de fornecedores, que destacamos na mesa, num QR Code. Esse é o espírito da casa. A gente se inspirou em cafés nórdicos, minimalistas, com foco em produtos artesanais, locais e sustentáveis, como os cafés da Tocaya, o mel da Mbee, os queijos do Terroir da Vigia, as cervejas da Zalaz, a charcutaria da Cochon Rouge,os vinhos da Casa Viccas e por aí vai  – diz o empresário Fernando Kaplan, sócio da casa, que fica ao lado do Venga, na Garcia D’Ávila, também fundada por ele, que prevê para o início de 2024 a segunda unidade do negócio: a exemplo do que acontece em Ipanema, em Copacabana essa padaria especial também vai ser vizinha do Venga.

As duas novidades que andam chamando atenção lançam olhares para este momento em que o brunch vem se popularizando no Rio – e no restante do Brasil, pois em cidades como São Paulo o fenômeno se repete.

Um dos lugares que primeiro identificou esse desejo de as pessoas comerem coisas reconfortantes ao longo do dia todo foi o Empório Jardim, um lugar eminentemente diurno, que convida a uma refeição saborosa, com itens cheios de chamego, com um impecável prato de Benedict eggs (praticamente obrigatório em um brunch), um pão de queijo Gruyère arrebatador e uma seleção de receitas que se encaixam a qualquer momento do dia, da manhã até às 19h, quando as três unidades fecham as portas: Jardim Botânico, Ipanema e a novidade da temporada, o café na Casa Firjan, em Botafogo, que pela combinação entre o menu delicioso e o ambiente ao ar livre, arejado e agradável, é certamente um dos melhores lugares para se começar o dia no Rio: espere filas nos dias de sol, sobretudo, desde a abertura, às 9h.

Tradicionalmente, os brunches eram exclusividade dos hotéis de luxo, sobretudo nos fins de semana, e especialmente aos domingos. Como acontece há muitos e muitos anos no Pérgula, do Copacabana Palace, que transforma o salão do restaurante da piscina, montando diversas estações, quentes e frias, com ostras, queijos, saladas, pães e os mais diversos pratos, com destaque para a área das sobremesas. Um acontecimento, regado a espumantes e outras bebidas, como Mimosa, tudo incluído no preço: R$ 425 por pessoa, de 13h às 16h (melhor reservar).

No Emile, por sua vez, a experiência é mais intimista, e acontece no restaurante Emile, com apenas 60 lugares. Com ambiente marcado pela linda parede com jardim vertical, ali a proposta é fazer os pedidos à la carte, num menu tentador, desses que deixam a gente com vontade de provar de tudo: há itens de café da manhã, com os ótimos pães preparados ali, ovos beneditinos, croque monsieur, crepes, tapiocas e waffles; mas também pratos variados, como arancini de porco com mostarda cítrica; vol-au-vent de cogumelos trufados; remoulade de lagosta com chips de raízes; arroz negro caldoso de pupunha e crocante de espinafre; moqueca de peixe com arroz de coco e castanhas; e picadinho de angus com cremoso de aipim e crocante de alho negro. Tem uma proposta mais autoral, com assinatura do talentoso chef Camilo Vanazzi, que mostra boa técnica. Custa R$ 332 por pessoa, e inclui espumantes e vinhos, branco e tinto, além de sucos.

Quem aprecia este café da manhã mais preguiçoso, quem sabe até tardio, passando do meio-dia, também encontra nos hotéis boas opções. É o que propõe o aprazível Quitéria Café, no térreo do hotel Ipanema Inn. O ritual ganha destaque no menu, que diz assim: “Quando se fala em brunch não é mera licença poética. Aqui no Quitéria Café, diariamente das 7 às 14h, servimos nosso café da manhã, repleto de delícias para serem curtidas. Sim, aqui o conceito de slow food é pra valer! Um cardápio recheado de itens feitos na casa, infinitos pães artesanais, queijos e embutidos locais, ovos caipiras e versões criadas pela chef Alê Maidana, frutas, granolas e iogurtes naturais. A partir das 12h, o cardápio ganha sanduíches, pratos e tira-gostos, acompanhados de coquetéis clássicos e servidos até às 22h”.

O serviço é à la carte, e os itens são pedidos separadamente. Tem combos, com pães, sucos etc, incluindo um vegano, e receitas como BLT no Brioche, com bacon, alface, tomate e maionese caseira; ovos florentinos, variação dos beneditinos, com espinafre; e brioche recheado com doce de leite – que honra a origem da chef, que é argentina.

Do mesmo grupo hoteleiro, o hotel Arpoador tem vista privilegiada, e um menu à altura do lugar. O Arp Bar também tem um menu matinal e outro vespertino que muito bem se enquadram no conceito de brunch. Até o meio-dia encontramos itens como a maionese caseira de cogumelos com batatas e ovo pochê, shakshuka, ovos beneditinos e misto quente, além de uma seleção de drinques, como Bloody Mary e Mimosa. Na parte da tarde entram em cena empanadas de carne e de polvo; tartare de atum; sanduíche de milanesa e teco de milho roxo, com recheios como porco marinado ou camarão grelhado. Mil folhas de frutas vermelhas, banoffee e profiteroles encerram.

Da varanda do Arp Bar, debruçado sobre o calçadão do Arpoador, a poucos passos da areia, a gente vê o mar. Nada é tão bom que não possa ficar melhor com o marulho e a brisa atlântica.