100 ANOS DO COPA EM 10 HISTÓRIAS CURIOSAS SOBRE O HOTEL ÍCONE DO RIO

A iluminação da fachada: 100 anos comemorados em agosto

Jan Theophilo

Mesmo sem nunca ter pisado lá, não há carioca ou simpatizante que não o trate pelo típico diminutivo carinhoso que os habitantes do entorno da Guanabara reservam aos parentes ou amigos próximos. Assim, o Belmond Copacabana Palace Hotel, é chamado intimamente de “o Copa”.

O mais antigo e prestigiado cinco estrelas do Rio está completando seus primeiros 100 anos. E para celebrar data, reunimos 10 histórias curiosas que poucos conhecem sobre esse ícone brasileiro de fama internacional.

01. MAL COMEÇO

O Copa nasceu a partir de uma ideia do então presidente Epitácio Pessoa. Ele queria um novo hotel, fabuloso, para incrementar o turismo e impressionar os convidados internacionais das comemorações pelo primeiro centenário da Independência do Brasil. A ideia foi encampada pelos empresários Octavio Guinle e Francisco Castro Silva. Eles contrataram o arquiteto francês Joseph Gire, que se inspirou nos hotéis Negresco, de Nice, e Carlton, de Cannes. Mas a obra não ficou pronta a tempo para os festejos. Faltava no Brasil experiência e tecnologia para um empreendimento tão grandioso. Para complicar, houve dificuldade na importação dos mármores e cristais e uma fortíssima ressaca, em 1922, causou danos severos na estrutura.

02. A FÚRIA DE ORSON WELLES

A primeira celebridade internacional a se hospedar no Copa foi o físico Albert Einstein, em 1925, logo seguido por uma relação enciclopédica de nomes. Em 1942, o cineasta americano Orson Welles – um dos primeiros a rodar um filme no Brasil – brigou pelo telefone com a namorada, a atriz mexicana Dolores Del Rio. Num ataque de fúria, ele jogou toda a mobília da suíte pela janela.

03. TIROS NO PRESIDENTE

No fim dos anos 1920, o presidente do Brasil, Washington Luís, fazia um tipo bonitão e elegante, sempre de cartola e ternos bem cortados, que amava cantar marchinhas, frequentar bailes carnavalescos, e até arriscava soltar o gogó em óperas. Por essas e outras era chamado pela imprensa de “rei da fuzarca”. Nascido em Macaé, ele fez carreira em São Paulo, graças ao casamento com Sofia Paes de Barros, filha de um poderoso político do interior paulistano, o Barão de Piracicaba. Em 23 de maio de 1928, Washington Luís chegou ao Copa para jantar com sua amante, a jovem marquesa italiana Elvira Vishi Maurich, de apenas 28 anos. No quarto, em um acesso de ciúmes, ela sacou uma pistola e deu um tiro no Presidente do Brasil. Como era de se esperar, o caso foi acobertado. Ferido, Washington Luís foi socorrido pelo dono do hotel, Octávio Guinle. Um médico da família Guinle foi chamado às pressas e o político foi levado para a Casa de Saúde Pedro Ernesto, onde foi operado. Para a imprensa, a internação e a operação foram justificadas como uma crise de apendicite. Quatro dias após o episódio, a marquesa suicidou-se, pulando da janela do quarto andar.

04. O PLAYBOY QUE FINGIA SER DONO

A fama do Copa não demorou a correr o mundo. E em sua biografia, um sobrinho de Octavio, o eterno playboy Jorginho Guinle, contou que usava o nome do hotel como principal álibi para suas conquistas amorosas. Durante um período na California, Jorginho ia nas piscinas dos hotéis mais badalados de San Francisco e pedia ao gerente que o apresentasse ao grupo onde estivessem as maiores beldades do cinema americano na época como “o dono do Copacabana Palace”, o que imediatamente despertava a curiosidade das atrizes. Ele então se juntava à turma e imediatamente pedia o melhor champagne e caviar disponíveis, derretendo corações de muitas moças horizontalmente acessíveis.

05. LADY DI SÓ NADAVA NO ESCURO

A famosa piscina do Copa foi inaugurada em 1935 com a presença de celebridades como a atriz Jayne Mansfield. Na década de 1940, funcionou por lá uma escolinha de natação, sob a direção de Maria Lenk, a primeira grande nadadora brasileira. Em uma madrugada de 1991, a piscina do hotel ficou às escuras a pedido da princesa Diana, a Lady Di, que queria nadar e não ser vista por ninguém. O que poucos sabem é que o hotel conta ainda com uma segunda piscina, a Black Pool, exclusiva para os hóspedes das sete suítes exclusivíssimas do sexto andar, todas com 100 metros quadrados e pé-direito de 3,23 metros.

06. OS FAMOSOS QUE FORAM EXPULSOS

De Nelson Mandela aos Rolling Stones, passando por Freddie Mercury, Josephine Baker, Ray Charles, Marlene Dietrich e os membros do U2, entre muitos outros, o Copa já hospedou dezenas de celebridades internacionais. Só que algumas delas já foram literalmente postas para correr do hotel. Em 1970, Janis Joplin foi expulsa por ter nadado nua na piscina. Quatro anos depois, após um show no Maracanãzinho, Alice Cooper destruiu quatro suítes e deixou a piscina inativa por dois dias, tempo necessário para retirar pratos quebrados e talheres do fundo da água. E em 1977 o cantor Rod Stewart foi expulso depois de promover uma partida de futebol na suíte presidencial.

07. TOMBADO PARA NÃO SER DERRUBADO

Na década de 1980 a família Guinle começou a enfrentar sérias dificuldades financeiras. E em 1985 encomendou um projeto que previa a demolição do hotel para a construção de edifícios residenciais de luxo em seu terreno. Houve grande repercussão e mobilização da sociedade, até que o governo não permitiu a operação, declarando o hotel patrimônio histórico nacional. O Copa então foi tombado pelo IPHAN, INEPAC, E SEDREPAHC, ou seja, pelas esferas federais, estaduais e municipais.

08. ATÉ ‘HIGHLANDER’ FOI BARRADO

Em 1998, o Copa resolveu retomar seu antigo baile de carnaval, que no passado disputava com o do Teatro Municipal o título de baile de gala oficial que abria a folia da cidade. Para abrilhantar a festa foi convidado o ator francês Cristopher Lambert, muito badalado no Brasil pelo seu papel de Connor Macleod no filme “Highlander, o Guerreiro Imortal”. Lambert chegou na festa as 2h da madrugada acompanhado por um grupo de modelos, entre elas a então Miss Brasil Fernanda Agnes. Mas teve sua entrada barrada pelos seguranças que não reconheceram o ator. O highlander não titubeou. Deu meio volta e entrou numa van com as modelos, rumo a destino incerto e ignorado, para desespero da produção.

09. A ‘DOGUINHA’ QUE MOROU NUMA SUÍTE

Já no começo do século XXI uma das suítes do Copa se tornou residência permanente de uma ilustre hóspede de quatro patas: a fofíssima bichon frisé Lady Bella, mascote do Lord Benjamin Bowen, um riquíssimo designer inglês que veio ao Rio para um, digamos, retiro espiritual entre a juventude dourada da Zona Sul carioca. Bowen saracoteou por várias cidades brasileiras e deixou sua cachorrinha na suíte aos cuidados dos funcionários do hotel, que a alimentavam e levavam para passear. Constantemente a cachorrínea era vista correndo feliz da vida pelos corredores ou no entorno da piscina.

10. QUANDO JORGE BENJOR FOI O ÚNICO HÓSPEDE

Durante a pandemia de Covid-19, a rede Belmont decidiu fechar temporariamente o Copa, e reduziu o número de funcionários para 50 pessoas, encarregadas da segurança e manutenção dos 239 quartos. O hotel passou a contar com apenas dois moradores. A gerente Andréa Natal e o cantor e compositor Jorge Benjor.