Jan Theophilo
Se tinha jornalista maledicente duvidando da reforma do Palácio Capanema, dizendo que nunca ia ficar pronta e coisa e tal, essa turma vai ter que morder a língua. O edifício, marco da arquitetura modernista mundial, foi reinaugurado no último dia 20 de maio, após uma ampla obra de conservação e modernização conduzida pelo Iphan, e volta à cena cultural da Guanabara cheio de novidades, como novos auditórios, restaurantes e cafeterias em jardins projetados por Burle Marx.
“Importante lembrar que o Palácio Capanema colocou o país na vanguarda da arquitetura moderna mundial. Entregar esse prédio para a população é também uma afirmação da nossa cultura, da nossa democracia. É um momento muito importante para todo o Brasil”, afirmou a ministra da Cultura, Margareth Menezes, durante uma visita ao espaço restaurado, acompanhada de um grupo de jornalistas.

As obras, iniciadas em fevereiro de 2019, receberam investimento de R$ 84,3 milhões e incluíram a modernização das instalações elétricas, hidráulicas, sanitárias, de climatização e de combate a incêndios, além da recuperação do mobiliário original, restauração das luminárias, persianas e dos jardins projetados pelo paisagista Roberto Burle Marx. O prédio também ganhou um novo sistema de vigilância. Até o segundo semestre, as obras de arte também passarão por restauros. Toda a intervenção foi conduzida pelo Iphan, respeitando as características históricas e arquitetônicas do prédio.
A nova proposta para o Palácio – originalmente concebido como sede do antigo Ministério da Educação e da Saúde Pública, na década de 1930 – concilia espaços culturais e áreas abertas à visitação pública (60% do prédio) com escritórios do MinC e suas entidades vinculadas (40%). Instituições como a Fundação Nacional de Artes (Funarte), por exemplo, ocupará três andares e vai transferir 300 funcionários para o novo endereço. Dois outros andares serão exclusivos para salas multiuso, que oferecerão cursos, seminários e eventos acadêmicos. Entre os destaques, está a transformação do “pavimento do ministro” em área visitável, com restaurante e café, e a criação de um espaço multiuso no nono andar, além da preservação de ambientes emblemáticos, como o auditório Gilberto Freyre e a Biblioteca Euclides da Cunha.
Construído entre 1937 e 1945 para ser a sede do então Ministério da Educação e da Saúde Pública, o Palácio Gustavo Capanema foi projetado por Lucio Costa, com participação de Oscar Niemeyer, Affonso Eduardo Reidy, Carlos Leão, Jorge Moreira, Ernani Vasconcelos e consultoria de Le Corbusier. O edifício abriga obras de Portinari, Burle Marx e Bruno Giorgi, entre outros artistas, e foi tombado em 1948 pelo Iphan.
O presidente do Iphan, Leandro Grass, reforçou a importância de celebrar a entrega do edifício, depois de tantos anos fechado. “Essa obra só foi possível graças a uma decisão política, fruto da visão do presidente Lula e da ministra Margareth. Recuperar e devolver espaços como o Capanema à população reafirma nosso compromisso com a Cultura enquanto política de Estado.”
Além disso, Grass destacou a importância do Novo PAC na retomada da obra. “Garantimos os recursos graças ao Novo PAC e, agora, o Brasil volta a ter um dos seus maiores símbolos culturais, aberto e acessível. Esse prédio terá, pelas próximas décadas, uma conexão profunda com a população brasileira e com a cultura”, afirmou.
O presidente da Fundação Biblioteca Nacional, Marco Lucchesi, destacou a presença da instituição no Palácio Capanema e o valor do acervo disponível no local. “A Biblioteca Euclides da Cunha, que integra este espaço, reforça a conexão entre o patrimônio arquitetônico e o saber. Trata-se de um acervo de 100 mil títulos que preservam e difundem a nossa memória cultural, incluindo um acervo musical importantíssimo, que é uma riqueza extraordinária.
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UMA LUTA DA “RIO JÁ”
Não é que a gente goste de se gabar, mas a “Rio Já” nasceu justamente da luta de cariocas e simpatizantes pela manutenção e reforma do Palácio Capanema como bem público de especial relevância. Em seu primeiro número, em setembro de 2021, “Rio Já” mostrou a articulação de políticos, arquitetos e da sociedade civil que impediu o governo Bolsonaro de incluir um dos imóveis públicos mais importantes do mundo numa lista de 750 mil prédios da União que seriam vendidos à iniciativa privada. O então presidente da Alerj, André Ceciliano, chegou a denunciar que privatizar o Capanema seria tão absurdo quanto vender o Cristo Redentor ou o Pão de Açúcar. No fim, a história teve final feliz. Vitória da cultura, vitória do Rio, vitória de todos nós.