Caroline Rocha
O Rio2C, maior encontro de criatividade da América Latina, foi palco na sexta-feira (30) de um painel que apresentou Maricá como a “Cidade das Utopias e do Carnaval”. Contrariando uma visão tradicionalista que observa o município como estrangeiro no universo da folia, por sua distância do Sambódromo, a mesa composta pelo carnavalesco Milton Cunha, o comunicador AD Júnior e a empresária Gabriela Lopes mostrou como Maricá tem transformado a festa em estratégia de desenvolvimento criativo e popular — “dando exemplo para muita cidade antiga no Carnaval”, segundo o jornalista e mediador da mesa, Aydano André Motta.
Os palestrantes discutiram o pioneirismo da cidade ao traçar um planejamento perene de políticas públicas sobre o Carnaval, observando-o para além de uma festa, mas também enquanto uma arte sistematizada, tal qual o teatro chinês, o balé Bolshoi na Rússia e a cultura Maori na Nova Zelândia.
A escolha da denominação de “Cidade das Utopias”, de acordo com Milton Cunha, revela uma cadeia de esforços para a valorização dos artistas do Carnaval. “É tão importante [Maricá se denominar uma cidade utópica] porque faz a gente pensar no direito ao sonho em tempos tão duros, tão difíceis, de tanta demonização da cultura e da arte. É como se a cidade dissesse: ‘Venham estudar! Conhecer! Ter acesso aos vossos sonhos!’ Eu começo saudando essa ideia de que o cidadão, a criança, o jovem têm direito a sonhar. O que me seduz muito na proposta do [prefeito Washington] Quaquá é que ele está dando chance para a molecada sonhar”, disse Milton Cunha, que é reitor da Universidade Livre do Carnaval de Maricá (UniCarnaval).
Primeira universidade do mundo dedicada ao espetáculo, a UniCarnaval está entre os destaques do planejamento cultural da cidade. A unidade fica às margens da RJ-106, próximo à escola de samba União de Maricá, e vai oferecer mais de 60 formações livres, técnicas e, no futuro, cursos superiores, de cenografia à produção cultural.
“A gente precisa forçar a barra para colocar núcleos de pensamentos democráticos sobre a folia. É preciso colocar o Carnaval nesse patamar de arte e cultura sistematizada. Os blocos, os maracatus, as congadas, as escolas de samba… isso tudo é de uma sofisticação narrativa maravilhosa!“, completou Milton.
Soft Power
As iniciativas de fomento figuram ainda como uma estratégia importante de soft power, de acordo com AD Junior, diretor da Brad Studios, um hub de tecnologia voltado a criação de conteúdo para plataformas de Streaming e TV Conectada. A expressão soft power é usada para descrever a habilidade de um corpo político para influenciar indiretamente o comportamento ou interesses de outros corpos políticos por meios culturais ou ideológicos. Um exemplo de soft power é a utilização do cinema hollywoodiano para a criação de uma percepção de grandiosidade dos EUA.
“O poder do soft power é chegar em outros lugares para poder comunicar, através da sua cultura, aquilo que ela é na essência. As políticas públicas são usadas em qualquer país para fomentar aquilo que vai ser perene. Os desfiles das escolas de samba podem durar os minutos que duram, mas a cultura fica”, destacou AD Junior.
Para Gabriela Lopes, a comunicação ocupa espaço de destaque na construção de uma cidade viva, participativa e conectada. “A comunicação no Carnaval é fundamental e deve acontecer durante todo o ano, mas acaba às vezes sendo pouco trabalhada. A gente sabe que dentro dos barracões o trabalho já acontece, mas para os foliões isso não é tão óbvio. Essa abordagem está muito atrelada à visão de futuro do prefeito de que a cidade precisa ser trabalhada para o futuro, [em especial] o futuro do turismo”.
Esta é a terceira vez consecutiva que Maricá participa do Rio2C. Além do debate sobre Carnaval, houve um stand para destacar a Maricá Filmes – primeira plataforma pública de streaming do Brasil -, e o painel “O Abismo entre o Ensino e a Prática no Audiovisual”, que abriu os debates apresentando a “Incubadora de Maricá”.
O último dia de Rio2C será no domingo (01). Ao todo, serão seis dias de evento na Cidade das Artes, na Barra da Tijuca, com mais de 1500 convidados e 21 palcos simultâneos.