CIDADE: RODAS E RIMAS

A galera que topa os desafios musicais

Caroline Rocha

Um clube de leitura tem transformado a forma como jovens se relacionam com o hip-hop. Com a proposta de reconhecer o MC como poeta e o rap como literatura, o projeto Rodas e Rimas promove encontros mensais no Espaço Cultural Mangue, localizado na Penha, Zona Norte do Rio. A iniciativa reúne artistas, agentes culturais do rap carioca, membros da comunidade local e participantes de diferentes regiões da cidade com o objetivo de debater sobre temáticas abordadas nas letras das músicas.

A cultura hip-hop é composta por quatro elementos: grafite, DJ, B-boy ou B-girl e MC. Estes elementos se organizam para compor a cultura através de diferentes linguagens. São elas, respectivamente, a pintura, som, dança  e poesia. O Rodas e Rimas parte, portanto, da premissa que a escrita é elemento essencial do rap, gênero musical que compõe a cultura hip-hop. Os encontros são organizados em torno de um tema central, como raça, classe, gênero, território ou sexualidade — e têm como ponto de partida a análise coletiva das letras de um(a) MC convidado(a).

“O Rio de Janeiro é um estado rico em cultura, mas essa cultura ainda é muito centralizada na Zona Sul, enquanto o que acontece em outros lugares, como a Zona Norte, a Baixada e a Zona Oeste, acaba sendo invisibilizado. O Rodas e Rimas quer impactar justamente por ser um polo na Zona Norte que se propõe a ser esse espaço de troca, um projeto que movimenta a produção cultural como um todo na região”, afirmou João Victor Lima, fotógrafo, comunicador popular e um dos idealizadores da iniciativa.

Fundado em setembro, o projeto já recebeu Tarcis, para a análise do álbum Do Subúrbio à Central; Joca, para uma leitura comparada das faixas “Royal”, do álbum A Salvação é pelo Risco, e “Onda”, de CortaVento; além de VND, que teve as músicas “Quer Contar Sua História?” e “Te Falta Ódio”, do álbum Onde as Histórias se Cruzam, discutidas coletivamente.

A metodologia do Rodas e Rimas combina leitura, crítica e escuta ativa. Entre os critérios principais para escolha dos convidados está a forma como estes abordam seus territórios, especialmente as relações de afetividade e valorização de bairros periféricos. Para a organização, resistir à lógica que centraliza a cultura no Centro e na Zona Sul e promover a descentralização das produções é, por si só, um ato político.

“Acredito que estamos promovendo um lugar onde o público entende o que existe além da batida. A troca e a aproximação com o artista tornam possível enxergar novas nuances que vão além de simplesmente rimar, da melodia ou de sentir que a música é boa. É destrinchar o que está sendo debatido como uma produção literária fruto de vivências, leitura e diversos outros fatores que cercam a vida de um artista e norteiam seu processo de composição”, destacou o idealizador do projeto.

A entrada é gratuita, mediante retirada de ingresso, e pode incluir a doação de 1 kg de alimento não perecível. O Espaço Cultural Mangue fica na Avenida Nossa Senhora da Penha, 205, na Penha.