O CENTRO ENSAIA A REAÇÃO

Rio de Janeiro - Viagem inaugural do Veículo Leve sobre Trilhos (VLT) Carioca, no centro da cidade (Fernando Frazão/Agência Brasil)

Boa parte dos cariocas se pergunta: será que agora, após programas de reocupação anunciados pela Prefeitura, o Centro do Rio vai conseguir retomar um pouco de sua antiga glória? O viés é de alta. Segundo dados da plataforma Loft, startup de compra e venda de imóveis por meio digital, o número de transações na área central da cidade dobrou no último mês. O preço dos aluguéis também está subindo. Pela primeira vez a região entrou no ranking dos 10 bairros mais procurados do Rio. De acordo com a plataforma Quinto Andar, o Centro foi o quinto bairro que mais se valorizou este ano, atrás de Ipanema, Leblon, Flamengo e Grajaú. As informações são do jornal O Globo.

            Apesar de ser uma região muito bem servida de transporte, infraestrutura, comércio e, em alguns casos, oferecer a oportunidade de ir ao trabalho a pé, a reocupação do Centro enfrenta desafios. Segundo Cláudio Castro, da Sérgio Castro Imóveis (que tem três lojas no Centro), a empresa deixou de atender este ano a 256 clientes que queriam imóveis de dois quartos na região. O motivo é que os compradores não querem gastar mais em reformas. “Os imóveis disponíveis no Centro estão muito maltratados por dentro. Isso desanima os potenciais moradores, mas tem animado outro público: os investidores”, diz ele.

            O mercado imobiliário calcula, por exemplo, que hoje no Centro há 15 hotéis à venda, muitos com a corda no pescoço pelas dívidas. E uma tábua de salvação para esses empreendimentos, muitos deles já fechados, é o Reviver Centro: programa da Prefeitura que incentiva a reconversão de edifícios comerciais em residenciais em troca de benefícios construtivos em outras áreas da cidade, como na Zona Sul.

            Após a negociação, dias atrás, do Hotel Aymoré, na Praça da Cruz Vermelha, para transformação em um residencial, na última quarta-feira a Prefeitura concedeu mais um licenciamento. O Rio’s Nice, na Rua Riachuelo, fechado há anos, será transformado num edifício misto, com pavimento comercial, sobreloja e mais 11 andares de apartamentos, num total de 115, além de uma cobertura de uso comum.

            Outros dois hotéis estão com pedidos de retrofit bem encaminhados dentro do Reviver Centro: o Atlântico Tower, na Rio Branco com Visconde de Inhaúma; e o Hotel Castelo, que está fechado, na Rua do Lavradio. Juntos, os três projetos citados acima somam novos 376 apartamentos. Segundo a Riotur, há registro de 44 hotéis no bairro, sendo que oito deles encerraram as atividades nos últimos dois anos durante a pandemia.

            Entre as oportunidades disponíveis para os investidores encontram-se, por exemplo, o belo Hotel Monte Alegre, na Rua Riachuelo, a poucos passos da buliçosa Lapa. Ou o Hotel Paulistano, com mais de 100 anos na Visconde de Rio Branco, que chegou a ser invadido e está em condições precárias. Com cinco andares e 40 quartos, ele não funciona como hotel há 10 anos. Com vista para a cidade e uma linda escadaria em caracol, está a venda pela bobagem de R$ 1,2 milhão.

            Sancionado em julho de 2021, o Reviver Centro contabiliza 15 pedidos de licença para construção de moradias, sendo quatro para novas construções e 11 para conversão de imóveis existentes. Sete autorizações foram emitidas até agora, sendo a mais recente a do Nice’s. Os projetos em trâmite somam um total de 1.719 unidades residenciais _ número que já ultrapassou as 1.472 licenciadas nos últimos 10 anos, antes da entrada em vigência do Reviver Centro.