MAIS DO QUE NUNCA, MANGUEIRA É MULHER

Por Rosayne Macedo

As mulheres estão com tudo nos mais altos postos das escolas de samba do Rio de Janeiro. Na Mangueira, pela primeira vez em 94 anos, uma mulher assume o comando da agremiação: Guanayra Firmino, de 58 anos, foi aclamada presidente. Já na tradicionalíssima Portela, Tia Surica assumiu o posto de presidente de honra com a morte de Monarco. Ambas no dia 29 de maio, em coincidência mais do que merecida. 

 Filha, neta e bisneta de bamba, Guanayra não nega o DNA. Tem ligação com a escola desde antes de nascer: seu bisavô, Júlio Dias Moreira, foi o segundo presidente da agremiação (1935 a 1937). Foi quem primeiro ensinou seus passos no samba, quando a escola ensaiava ainda na casa onde ela nasceu, no Buraco Quente número 30, no Morro da Mangueira.

 É filha da baluarte e presidente da Velha Guarda da Mangueira, Emergenilda Dias Moreira, a Dona Gilda, e de Roberto Firmino, presidente de 1992 a 1995. É descendente de Benedita de Oliveira, a lendária Tia Fé, famosa benzedeira que criou em 1910 o Rancho Pérolas do Egito, e que era avó do seu tio Darque Dias Moreira, o Seu Sinhozinho, que também presidiu a Mangueira de 1974 a 1976.

 Apesar dos antepassados, dos quais se orgulha, Guanayra construiu sua própria história na comunidade onde nasceu e foi criada. Aos 14 anos, já vice-presidente da associação de moradores, ela já fazia trabalho social, entregando quentinha aos mais necessitados. Em outubro, ela completa 30 anos à frente da Ala da Comunidade, que criou em 1992, e até então atuava como vice-presidente da escola.

 “É uma alegria que não cabe no peito. Agora, é muito trabalho pela frente”, definiu, sobre a sensação de ser a primeira mulher eleita presidente da Mangueira. Mas não quis ser injusta. Lembrou de Eli Gonçalves Dias, a Chininha, que assumiu o cargo após a saída do presidente Percival Pires. “Comandar a Mangueira, essa escola que faz parte da minha vida, da minha história e da minha ancestralidade é algo muito, muito especial, mas é acima de tudo uma honra. Faremos uma gestão plural, participativa e democrática”, disse ela.

 Guanayra sabe que tem muitos desafios pela frente. A começar pela crise financeira da escola – é preciso equacionar dívidas trabalhistas parceladas ainda na gestão de Chiquinho da Mangueira – e pelas críticas. “Toda mulher, em tudo que faz, tem mais responsabilidade, ela é mais cobrada que o homem. Mas para mim, é tranquilo, eu estou acostumada a desafios. Então eu não me sinto com uma responsabilidade maior do que eu já tinha desde que se encerrou a gestão do meu pai pai e eu passei a auxiliar outros presidentes”, comentou.